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Mostrando postagens de março, 2022

a multa que deu prisão

  Por culpa das minhas amigas, Margarida Almeida e Ana Paula Basílio Vários amigos me perguntaram "o que foi aquilo da prisão"! Eu sabia meninas arranjara enredo! Então aqui vai... Há uns anos atras um agente da policia passou-me uma multa, segundo ele porque eu não podia virar para o sitio para onde virei. Ainda lhe disse que sabia que ia haver alterações mas que não estava lá o sinal. Mas o homem multou-me! Não paguei a multa e fomos para tribunal. Chegados lá e apresentadas as provas (data de colocação do sinal) fui absolvida e o Sr. agente levou uma descompostura do juiz! Ai começou o calcário...ora o Agente a partir dai onde quer que eu estaciona-se menos bem multava-me. Alias, dava-se ao luxo de numa fila de carros mal estacionados me multar só a mim. Se por acaso ele estava a controlar o transito num qualquer cruzamento e o primeiro carro era o meu, deixa estar que só saia dali eu e claro, todos os que estavam atras, muito tempo depois. A coisa correu assim durante ...

As amêndoas da Pascoa

Eu não gosto da Pascoa! Não é só por estar ligada à religião católica, embora isso também conte, mas principalmente pela 1ª memoria que tenho dessa comemoração religiosa. Quem me conhece sabe que entrei num colégio católico aos dois anos para ser freira (não se riam, não tem piada). Esses colégios à época eram frequentados por dois tipos de meninas, aquelas que pagavam para serem freiras e as órfãs acolhidas pela congregação. Meninas da mesma idade que no entanto não se misturavam. Tinham tratamentos e alimentações diferentes! Não sei quantos anos tinha mas sei que era bem pequenina, depois de nós as "estudantes de noviças" irmos à missa a S. Francisco esperava por nós um grupo de senhoras muito bem-postas no grande salão com um lanche extraordinário. Muitos doces, amêndoas e rebuçados de todas as cores e feitios. No final do lanche, a madre mandou-nos acompanhar as senhoras ao pátio das órfãs com o resto dos rebuçados e as amêndoas. Lembro-me de ficar contente por ir dar doc...

o pátio do Aguenelio

  Talvez pela chuva ou pelo frio, numa espécie de estado nostálgico, ontem subi a Avenida onde vive ate aos 5 anos...a Avenida dos Combatentes, subia só para poder passar em frente do portão do pátio onde vivi, O Pátio de Aguenelio ou Aguenel não sei já muito bem. Ao olhar para aquele portão, ao contrario do que acontecia no meu tempo, agora sempre fechado, trouxe-me há lembrança as memorias dos amigos daquele tempo, eram muitos os moradores do Pátio, operários, costureiras, sapateiros, GNR's, gente vinda dos bairro da cidade ou de outras vilas próximas. Gente sem muita instrução, sem muito dinheiro mas gente solidária. As lembranças que tenho são sempre comunitárias...mulheres a estender a roupa umas das outras, a fazerem bolos em conjunto, a tomar conta dos filhos e dos pais doentes de quem os tinha. Homens a fazerem obras e mudanças todos juntos e pirralhos a correr e a fazer disparates sendo reaprendidos pelos adultos, fossem ou não os seus pais. Lembro-me dos lanches na rua d...

o meu pai no dia do pai

  O meu pai nasceu numa família numerosa, naquela altura as famílias numerosas em vez de apoio tinham fome! Quando fez 5 anos teve o seu primeiro emprego, guardar perus a 5 km de casa. Descalço, com uns calções e uma blusa, que segundo ele por ser tão fria parecia seda, ali esteve durante um ano. Durante esses 365 dias era visitado pelo irmão mais velho uma vez por semana para lhe levar a comida. Comida que ele, devido à fome, devorava toda nesse mesmo dia, depois comia ervas, bagas e coelhos quando os conseguia agarrar. Dormia numa cabana de pastor sozinho e as estorias de ninar eram o barulho do campo, barulho que o mantinha acordado durante muitas horas devido ao medo! De madrugada la deixava o seu cobertor com um buraco no meio e tentava com grande dificuldade acender a lareira, onde aquecia a agua suja de café para o pequeno almoço (?) e se aquecia antes de libertar os perus e ter de andar todo o dia atrás deles! Depois desse emprego, pelo qual recebeu um garrafão de azeite...

o PCP e o seu aniversario

  O Partido Comunista Português fez 98 anos. É um pilar importante da politica portuguesa e foi sem sombra para duvidas uma força decisiva na luta contra a ditadura! E por isso está de parabéns conseguiu resistir há ditadura e há obscuridade com que é tratado nestes anos de democracia pela C. Social. Mas como conseguiu um partido com quase todos os poderes contra ele sobreviver durante todo este tempo? Haverá muitas razões e gente ligada ao PC, com mais habilitação do que eu para fazer esta analise, mas eu, daquilo que já vi nestes anos de democracia e daquilo que me foi contado, tenho uma teoria ligada à minha área... Durante a ditadura, o PC teve sempre um trabalho importante na área da cultura, eles incentivavam e apoiavam as colectividades de cultura e recreio, ajudando não só à educação das populações mas também criando nos seus associados consciência politica. Fazendo-os questionarem as ideias e as suas próprias vidas, tal como aconselhava Marx. Estas colectividades foram red...

Os anos da mae e a nossa mudança sem o pai

  A minha mãe fez ontem 81 anos. Há uns dias disse-me que não queria a comemoração da praze. Percebi, esta muito triste, a vida virou do avesso comemorar não é o que lhe apetece neste momento. Aceitei. Mas a neta aceitou mais ou menos... Ontem, 6 de Março, convidou-se para jantar e trouxe para experimentarmos o seu primeiro bolo enfeitado. Estava lindo e muito saboroso. A avó, que foi quem a incentivou desde pequena nesta arte, estava encantada com o bolo, estiveram uma grande parte da noite a falar sobre as novas técnicas de bolos, dos corantes, dos tempos de espera, etc, etc, etc. Entre as conversas e o comer do bolo, o meu neto, rapaz que esta sempre a propor um "tchimtchim" lá foi fazendo com que brindássemos, a tudo e mais um par de botas. Sem se aperceber, sem o peso da comemoração pois não era no dia, há meia noite lá lhe demos o beijo de parabéns e a prenda e ela sem drama, aceitou de forma descontraída. Hoje, a cada telefonema das amigas e familiares contava orgulhos...

a menina josefina

  As lutas, sejam das mulheres ou do que quer que sejam, fazem-se de muitas maneiras. Umas mais silenciosas outras de megafone na mão. Escolha-se a forma que se escolher o importante é lutar...e ser feliz. Em dia de comemoração do Dia Internacional da Mulher, vou partilhar convosco a historia da menina Josefina. A menina Josefina, era uma amiga da minha mãe, foi ela que a ensinou a imprimir, gravar, estampar e desenhar quando ela entrou na fabrica aos 14 anos. Era uma senhora muito mais velha que a minha mâe, mas de idade indefinida. Pequenina, magrinha, sempre com umas saias direitas, pretas ou azuis, por baixo dos joelhos. Umas camisas abotoadas até acima, com laços ou folhos de cores neutras. Uns sapatos sempre muito brilhantes e com um pequeno salto e um troço no cabelo que nunca estava desalinhado. Amiga da minha mãe deste sempre, e embora trabalhassem na mesma fabrica íamos muitas vezes ao domingo tomar chã na sua casa, numa das travessas que ligam a rua dos mercadores à d...

O dia da mulher e a minha mae

  Em véspera do Dia da Mulher, uma historia de luta, no tempo em que era proibido lutar, mas onde quem lutava tinha grande coragem! Uma homenagem à mulher que me serviu sempre de exemplo nas lutas, sejam elas quais forem! " Estávamos em 1970, era a minha mãe encarregada na fabrica das pastilhas Pirata, uma operaria desmaia e cai. Levada ao posto de saúde sai o diagnostico “Subnutrição e cansaço por trabalhar tantas horas de pé”. Na hora marca uma reunião com a entidade patronal. Reivindicações: Uma cantina com almoço grátis para os trabalhadores e bancos para trabalharem sentados! Dizem-lhe que não! Dois meses depois consegue que 2000 mil mulheres façam greve por tempo ilimitado! Passa-se uma semana chega a garantia da cantina social e os bancos instalados em toda a fabrica! No final do ano o balanço apresenta oficialmente o dobro do lucro! Ai é, pensou a senhora minha mãe, então reivindicamos um supermercado Social. " Sem espinhas" instalado um mês depois! Nada como a l...

a minha mae faz anos

  Hoje a minha mãe faz anos e é esta a mulher que quero homenagear na véspera do Dia da Mulher. Não porque é minha mãe isso faço pessoalmente, mas a Mulher. Filha de um lavrador de mau feitio e de uma mãe submissa, sem nunca ter tido faltas materiais a repressão, conservadorismo, falta de humanidade e carinho naquele circulo familiar talharam-lhe o ser e talvez por isso se tornou uma mulher valente e lutadora. Aos 16 anos resolveu que ser esposa e mãe submissa como a sua, não era a sua vontade e empregou-se contra a vontade familiar no Fomento Eborense. Enfrentou o preconceito, o falatório e má língua da época por essa sua escolha, “mulher decente obedecia ao pai e não tralhava fora de casa” a agravar a coisa resolveu que trabalhar de calças era muito mais confortável e começou a fazer as suas próprias calças, lindas diga-se em bom da verdade. Aos 18, mais uma vez foi contra a ordem paterna e fugiu com o meu pai, um homem pobre, em vez de casar com o pretendente escolhido pela famí...

a minha mae faz anos

  Hoje a minha mãe faz 79 anos. Toda a gente tem a melhor mãe do mundo, eu não, eu tenho a minha, uma mãe de carne e osso, com os seus defeitos e as suas virtudes. Que me ensinou muitas coisas, mas que não quis ou não conseguiu ensinar outras. Não é o prototipo de mãe carinhosa, que centrou a sua vida em mim ou na familia. Não é mãe de desabafos ou de se chorar no ombro e nem é mulher de dizer " vai ficar tudo bem" em horas de aflição. Não a minha mae não é dessas. A minha mãe e das que ensinam a lutar, a pescar, a batalhar e a enfrentar tudo e todos. E que está sempre presente de cada vez que eu preciso. Esta foi a mãe que me calhou e eu gosto. Como mulher admiro a mãe que me calhou. Muito cedo cortou com as convenções da sua época, que não eram poucas, e criou uma carreira. Pegou na sua vida e viveu-a como quis, sem se importar com a opinião dos outros. Sem depender de ninguém, ganhando o seu dinheiro, metendo-se no mundo masculino dos negócios, reivindicando os seus direi...

a minha mae

  Há 80 anos nascia na Aldeia da Venda, em pleno coração da terra dos sacaios uma menina que logo à nascença mostrou que não vinha para passar despercebida ou para cumprir rituais. O pai, já com uma filha do sexo feminino foi o primeiro a ser contrariado, veio outra menina. Por ele estar desagradado ou por a irmã também não ter achado graça, o facto é que no primeiro ano a garota passava o tempo a chorar e a pôr todos doidos, ninguém acreditava que fosse "medrar". Eles não enlouqueceram, mas faziam tudo o que ela queria só para a calarem, foi crescendo na casa da avó, a matriarca que de todos cuidava e que tinha nas mãos os negócios da família. Aos 4 anos, o pai decidiu mudar-se para a herdade no Freixo, ela bateu o pé e não quis ir, eles aceitam, deixam-na rodeada pelos mimos dos avós e dos 4 tios solteiros que fazem dela a sua boneca, e a boneca enrola-os a todos no dedo mindinho. É a roupa que tem que sacudir porque ela tem medo dos rapalhões, é o leite de vaca que não gos...

a Guerra do meu tio Quim

  O meu tio Joaquim, irmão da minha mae, era um homem tranquilo, bonacheirão, brincalhão, que adorava passear, ler e aprender. Um tipo bom de alma e coração. Quando chegou à hora de ir à tropa resolveu fugir, mas foi apanhado. Assim que foi preso meteram-no num barco e enviaram-no para Moçambique. Como castigo no 1º ano foi para uma base no meio do mato. Ao contrário do que esperavam gostou daquele posto. Não havia grandes conflitos, havia aldeias africanas perto para onde ele e alguns camaradas iam quando estavam de folga. Dava-se com os habitantes, aprendeu a fazer peças de artesanato em madeira, aprendeu pedaços das suas formas de falar. Ensinou meninos africanos a jogar xadrez, uma das suas paixões e homens e mulheres africanas a escrever algumas coisas em português. Durante aquele 1º ano de guerra enviava fotografias dele com os novos amigos em festas. Não estava descontente, só de quando em vez o mandavam fazer incursões militares. Nessas alturas, dizia ele nunca disparou um ...

Dia da mulher

  Participo há muitos anos nas comemorações do Dia Internacional da Mulher, mas não o faço por mim. Faço-o por todas as mulher de hoje e as que me antecederam que o não puderam fazer. E digo que não é por mim, porque nunca me senti diferente dos homens. Nunca me senti descriminada pelo facto de ser mulher. Nunca encarei as minhas lutas como sexistas. Podem não acreditar, mas é verdade, de cada vez que alguém me tentou enganar, derrubar, estragar um trabalho, ou colocar um entrave, nunca pensei que fosse por ser do sexo feminino, pensei sempre noutros motivos. E porque não penso nisto? Porque fui educada a ver e a assistir mulheres a mandar, a decidir, a assumir o controlo dos negócios e da família, a irem ao café, de ferias e onde queriam, sozinhas ou acompanhadas sem problema algum. E os homens que as acompanham a aceitarem isso naturalmente! Desde a minha bisavó ate hoje, isso sempre aconteceu na nossa família. Porque? Não sei, sei que é assim. Sei que isto nunca levantou proble...

a morte de um triciclo

Imagem
  Encontrei aqui uma imagem que me trouxe à lembrança uma historia de quando eu tinha 4 anos e que pode ajudar muitas famílias com vários miúdos pequenos... No meu aniversário de 4 anos recebi de prenda um triciclo, era uma coisa cara na época e poucas crianças tinham, como a minha mãe era muito medrosa e vivíamos na cidade só me deixava andar de triciclo na casa da minha avó, nos canaviais. Por isso eu vivia ansiosa pelo domingo, dia de pedalar o novo brinquedo. Logo ao lado vivia a minha madrinha com os meus 2 primos, um mais velho que eu e o outro mais novo. Claro que os meus primos também queriam andar de triciclo, eu umas vezes deixava outras não, umas vezes aquilo corria bem outras nem por isso. a minha mãe nunca se metia na nossa relação com o triciclo, mas os chatos dos meus primos iam a chorar quando eu não os deixava andar e a minha madrinha metia-se sempre e lá vinha ela obrigar-me a emprestar o triciclo, se era o mais velho que chorava dizia "tens que deixar andar o pr...