Hoje a minha mãe faz 79 anos. Toda a gente tem a melhor mãe do mundo, eu não, eu tenho a minha, uma mãe de carne e osso, com os seus defeitos e as suas virtudes. Que me ensinou muitas coisas, mas que não quis ou não conseguiu ensinar outras. Não é o prototipo de mãe carinhosa, que centrou a sua vida em mim ou na familia. Não é mãe de desabafos ou de se chorar no ombro e nem é mulher de dizer " vai ficar tudo bem" em horas de aflição. Não a minha mae não é dessas. A minha mãe e das que ensinam a lutar, a pescar, a batalhar e a enfrentar tudo e todos. E que está sempre presente de cada vez que eu preciso. Esta foi a mãe que me calhou e eu gosto. Como mulher admiro a mãe que me calhou. Muito cedo cortou com as convenções da sua época, que não eram poucas, e criou uma carreira. Pegou na sua vida e viveu-a como quis, sem se importar com a opinião dos outros. Sem depender de ninguém, ganhando o seu dinheiro, metendo-se no mundo masculino dos negócios, reivindicando os seus direitos.
A minha mãe foi a 1ª mulher a colocar a entidade patronal em tribunal por esta não lhe querer dar 30 dias de descanso depois de eu nascer, e ganhou! Foi a única mulher em 2 mil a entrar num concurso para lugar de chefia, dado claro a um homem, que ela contestou e ganhou. Fez queixa do marido de uma amiga por violência domestica e este foi preso, num tempo em que não era crime público. Escolhia para a sua equipa mães solteiras para as proteger dos chefes do sexo masculino que as maltratavam verbalmente. Reivindicou direitos perante a entidade patronal para que todos tivessem melhores condições de trabalho. Colocava em trabalhos mais leves as colegas mais velhas ou doentes para estas não serem despedidas. Arranjou casas, apoios, empregos a todos aqueles que precisavam do seu apoio, criou com amigas instituições de apoio a idosos, crianças e gente com carências, e deixou-as sempre que estas viraram instituições de caridade. Foi sempre uma mulher lutadora, uma cidadã interventiva e solidaria.
E ensinou-me tudo isto...a minha mãe não é a melhor do mundo, mas é uma das mulheres com mais garra que eu conheço.
Hoje com 79 anos luta desenfreadamente com todas as doenças que a tentam dominar, mas não se entrega, sei que esta batalha não vai ganhar, mas também sei que não se vai entregar sem dar luta!
A minha mãe é a minha mãe e hoje faz anos, e que melhor dia para fazer anos podia pedir uma mulher deste calibre que não o dia de Luta contra a violência domestica.
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