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Mostrando postagens de abril, 2021

23 anos de Ovibeja - 2015

  Daqui a poucas horas volto à Ovibeja. Faz 23 anos que ali trabalho. O recinto, no inicio de terra batida foi-se transformando ao longo dos anos. A Feira foi aumentado, foi-se transformando. Ali já coloquei som para as porcas parirem, para os cavalos se exibirem, para leiloes, demonstrações cinotécnicas, concursos de todo o género, espectáculos e conferencias. São dias animados de trabalho, mas por mais cansativo que seja, eu gosto de ir à Ovibeja. Gosto dos rituais. Gosto de tomar café todos os dias logo de manha com o Carrapato. Gosto de almoçar com os jornalistas, que só encontro ali, gosto de rever o pessoal da organização, gosto de estar com os homens do Cante do Baixo Alentejo, que este ano mais uma vez lá estão todos, gosto de reencontrar as gentes do baixo Alentejo. Gente que no inicio me olhava de soslaio por ser de Évora, mas que ao longo dos anos ficou minha amiga. Gosto de trabalhar na Ovibeja e na cidade de Beja. Cidade onde comecei a trabalhar muito antes de ter trab...

Jose Luis Jones

  Talvez tenham passado 20 anos, não sei ao certo, mas já foram muitos desde a primeira vez que o Cante foi marca de diferenciação na Ovibeja. Pela mão de José Luís Jones instalou-se o cantinho do Cante. Os homens do cante marcaram presença, cantaram ao despique, contaram historias, mostraram modas que já estavam em desuso. O homem do gravador, Jones, registava tudo, para depois editar em CD ou livro. Os olhos brilhantes e sorridentes a cada nova moda. E sempre a instigar a mais uma. Assim vivenciei pela primeira vez uma feira cheia daquele cante que ninguém ligava lá para os meus lados e que me cativava desde menina. Ele, o Jones, falou-me depois dos encontros de Cante de Aljustrel, da Festa da Senhora da Cola e do Cante ao Baldão, que desconhecia. E foi-me mostrando tudo o que tinha gravado. Muita entrevistas pelos campos fora, feitas a pastores e outros trabalhadores rurais que detinham esta riqueza imaterial. Essa, foi uma Ovibeja marcante para mim. Foi ali que comecei a trabal...

Dança

  Hoje foi dia da Dança dizem, sempre gostei de dançar. Em miúda queria ter ido para ballet mas a minha mãe nao deixou, nao queria uma artista em casa. Apanhei a era das discotecas e do rock na adolescência e por lá me distrai durante anos. Mais tarde voltei a pensar em dançar, mas já era mae e tive de escolher entre levar ás aulas o ser que estava em crescimento ou usar o tempo para mim...optei pela filha e voltei a dançar nas festas de amigos ou na minha sala. Há uns anos voltei a pensar na coisa e resolvi que era desta, comecei a busca de um professor que tivesse a mente arejada, que ensinasse vários estilos, pois não sou mulher de gavetas nem nesta coisa das artes, alguém que quisesse ensinar dança mas de forma leve, livre e que tivesse como base a felicidade do corpo e da mente. Uma busca que durou 2 anos...consegui. era tempo de encontrar um grupo que quisesse dançar tanto como eu, mas que tivesse como principal objectivo ser feliz a dançar. Mal começamos as aulas percebemos ...

25 de Abril no colegio

  Não sou da geração que fez o 25 de Abril nem sequer da que a viveu plenamente, sou da seguinte, da que não tem memoria do fascismo a não ser pelos livros ou pelas conversas. Mas isso não faz com que não tenha memoria sobre esse dia distante. Há 41 anos atras no dia 25 de Abril eu e todas as minhas colegas de colégio, passamos o dia a rezar, mas nesse dia não foi pela alma dos meninos da Rússia foi mesmo pela nossa salvação. Um dia de dores nos joelhos e um dia de fome, devido ao jejum. Porquê? Só muito mais tarde soube porquê. Importante, importante foi o dia 26 de Abril, dia em que os meus pais não foram trabalhar e eu não fui ao colégio. Ate as dores nos joelhos me passaram e o dia foi todo de brincadeira. Gostei desta coisa a que chamavam liberdade. Se liberdade era não ir ao colégio e não rezar, por mim estava aprovada! Mas a liberdade havia de dar-me mais do que dias sem rezas. Deu-me a possibilidade de escolher o que fazer com a minha vida. Deu-me a liberdade de viajar. Deu...

25 de Abril

  "Hoje estamos aqui para assinalar um dos valores que nos foi trazido pela revolução de 74. Faz este ano 40 anos que se deu inicio ao processo de descentralização Cultural. Isto para muitos não quer dizer nada, mas é uma das linhas de orientação mais importantes que a Revolução de Abril nos trouxe. Através da descentralização, desencadeou-se em Portugal um processo que tinha como objectivo levar ao interior do País ferramentas e conhecimentos que nos permitissem crescer social e colectivamente. A cultura, trave mestra para o desenvolvimento de qualquer povo, saia assim da Capital e das salas frequentadas apenas por uma elite e rumava para o interior do País. Évora teve o privilegio de ser das primeiras cidades a receber a descentralização. Isto que nos parece insignificante, foi de grande importância para a cidade. Pois permitiu a uma geração inteira ter contacto com autores, interpretes e intelectuais que de outra forma só conheceria das revistas. Mas foi mais importante d...

25 de abril na praça

  Ontem lá estive na Praça. Do espectaculo nada posso dizer...devo ter sido das poucas que não viram e eu só comento o que vejo. Não vi porque desde as 21 horas, altura em que cheguei ate ás 2h da manha só tirei cerveja, vendi sumos, cafés e aguas...nunca em tantos anos de presença no 25 de Abril vi tanta gente a querer tanta coisa ao mesmo tempo e foi isso que não me deixou ver nada do espectaculo...verdade que ouvi a Grândola. Há aqueles que param ao escutar o hino eu paro ao escutar a Grândola e mais uma vez cumpri...e o povo das cervejas esperou pacientemente que eu terminasse aquele meu momento de liberdade e voltasse ao trabalho... Mas apesar de nada ter a dizer sobre o espectaculo, há duas coisas que tenho de dizer, foi bonito ver tanta gente voltar para me dar os copos vazios para por no lixo e assim não os deitar no chão da Praça. Foi uma felicidade ver tanto civismos! Outra coisa que me fez ficar feliz foi a honestidade daqueles que vieram comprar algo para beber, eles ...

o david partiu

  Ontem mais um amigo nos deixou...conheci-o há muitos anos, numa produção de homenagem aos Queen, ficamos amigos...não tínhamos se não o amor à arte e à cidade em comum...ele era de direita, eu de esquerda! Ele defendia os EUA eu Cuba! Ele defendia Israel eu a Palestina! Ele queria um sistema capitalista eu um socialista! Ele era um homem rigoroso com regras e horários e eu não! ...discutíamos tudo isto muitas vezes, brincávamos com as posições um do outro...a ultima vez foi na noite do 24 de Abril...mas terminávamos sempre a rir. Era uma amizade saudável, boa, que dava luta aos dois...Tínhamos tantas coisas a separar-nos mas os nossos santos davam-se bem! Foi dos primeiros músicos a alugar a sala para ensaiar e usava-a com amor como se fosse a sua casa! De uma hora para a outra fiquei sem este companheiro...custa mais a perceber quando é assim! Se ele tiver razão ...um dia encontramos de novo e continuamos a discussão do ponto onde a deixamos...no 25 de Abril. Se eu tiver razão....

O filho morto no Tarrafal

  Em 1937 um dos filhos da Maria Barenha, nascido a 24 de Abril de 1911, minha bisa deu entrada no Tarafal para nunca mais voltar. Parece que o avisaram varias vezes para não se meter em politica, para não entrar na revolta dos marinheiros, não escutou, foi há luta de peito aberto e coragem. Maria Barenha, a alentejana destemida da qual herdei o ADN, pôs-se a caminho de Lisboa para se despedir de mais um filho. Sabia que ele não voltaria, sabia que seria a ultima vez que o via. Parece, que ele lhe pediu desculpa por mais essa dor, mas a Maria não achou isso diz-se que lhe disse .- " se não lutasses, se te acobardasses ai sim era preciso desculpas, pois eu não pari cobardes, assim nada tenho a desculpar" e despediu-se dele para sempre! Esteve varias semanas em Lisboa a consolar mães, mulheres e filhas de condenados como o seu filho, regressada a casa voltou a tratar dos filhos que cá tinha deixado ( 3 haviam de morrer de forma idêntica). O filho morreu 1 ano depois de dar ent...

Sapateira a minha mae

  Hoje o Francisco Chico da Emilinha partilhou uma foto de uma forma de sapateiro que me levou a olhar para a que tenho cá em casa, também ela hoje a servir de enfeite. E ao olhar para ela lembrei-me da minha mãe (que esta viva e se recomenda). Nascida numa família rica, o pai perdeu tudo tinha ela ai uns 16 anos. Menina sem ter hábitos de trabalho, a ir à escola e a comer carne e beber leite condensado, pois não gostava do de vaca. Tudo levava a querer que tivesse ficado, tal como os irmãos, uma ex-rica aparvalhada. Mas não, a minha mãe que não sabia fazer nada, nem a comida, arregaçou as mangas e aprendeu. Empregou-se numa fabrica, onde começou a enrolar rebuçados e de onde saiu como encarregada 40 anos depois. Mas não se ficou por ai, era o que faltava...ia aprender tudo o que fosse possível. Segundo ela, se um dia lhe voltasse a faltar o dinheiro, havia de saber desenrascar-se. Já a conheci a fazer a sua própria roupa que via as artistas vestirem nas revistas. Aprendeu a cortar...

Maratona de leitura

  Hoje participei, não tanto quando gostaria, na maratona de leitura organizada pela Câmara Municipal de Évora. Já o fiz por diversas vezes, mas não consigo esquecer-me da primeira vez. Teria ai uns 16 anos, foi organizada uma maratona, por um professor que dava aulas no Instituto (ainda não era universidade), no Café Portugal. O café transformou-se nesse dia numa grande sala dedicada aos livros. Estudantes, professores, intelectuais, artistas, reformados todos com um livro escolhido e para apresentar, entre um café e uma cerveja. A meio da tarde aparece um leitor improvável, Carlos Caveira, um diller da época, um homem das drogas pesadas que frequentava o café e que todos conhecíamos, saiu do lugar que ocupava nas mesas do fundo com um livro na mão e propôs-se ler um excerto. Fizemos espaço para que ele se chegasse e para admiração geral o livro escolhido era "Não há drogados felizes". Com uma pedra monstra, uma voz arrastada lá foi lendo o que havia escolhido...no final co...

CAPGEMINI um embuste

  Na semana passada foi inaugurada com pompa e circunstancia uma nova empresa em Évora. O presidente da câmara, que varias vezes se referiu a esta empresa como exemplo foi mesmo cortar a fita da CAPGEMINI PORTUGAL. Depois, a oposição pegou numa entrevista dada pelo presidente do grupo para pedir explicações sobre o que disse o senhor à comunicação Social sobre a falta de mão de obra na cidade e sobre os preços caros da mesma...queixa-se o senhor de "estar a ir mais lento do que o previsto por um problema de oferta e que deveria ser o mais fácil de resolver". Lançadas estas afirmações logo um bando de gente desatou a dizer que por cá ninguém quer é trabalhar, que são uns malandros e por ai segue o discurso... Já há algum tempo me ando a conter em falar sobre esta empresa ( e as da sua laia), para não colocar agua fria no sonho de alguns, mas agora não vai dar...o senhor pós-se a jeito! Ora a empresa não consegue realmente profissionais qualificados, mas não por falta ou por na...

2020 o ano em que a pandemia deixou morrer a cultura

  esta tudo mal senhora ministra a classe artística que a senhora diz gostar tanto, que ate ficou contente com a sua ida para o ministério da cultura, esta a morrer de fome! E você assobia para o lado. Fomos os primeiros a fechar, somos aqueles que ja sabem, pois os contratos estao cancelados, que nao temos trabalho ate Setembro (no mínimo). Na grande maioria ja éramos todos precários o que fazia do nosso dinheiro chapa ganha, chapa gasta. Fomos apanhados no nosso pior período, pois como sabe (ou deveria saber) em Janeiro e Fevereiro raramente temos trabalho, o que faz com que muitos tenham as actividades fechadas ate Março, pois nao da´para pagar contribuições e nao receber. E o que temos como apoio é uma mao cheia de nada. a senhora poderia ter pedido a excepção no acesso a segurança social ( o estado de emergência permitia-o)e abranger os que estavam com as actividades fechadas, muitos deles com 8 meses de descontos no ano anterior, nao o fez. Deixando milhares sem acesso a es...

Centro Comercial um "nao lugar"

  Os Centros Comerciais para mim são um "Não Lugar". Não sou fã de cidades perfeitas, com temperatura perfeita, pavimento perfeito, estacionamento perfeito, com todas as lojas iguais umas às outras e onde se cruzam milhares de seres embonecados que participam na feira das vaidades, como se as suas vidas fossem também elas perfeitas! Não sendo por isso adepta de Centros comerciais (admito já que também já entrei em meia dúzia) pareceu-me que deveria assistir às reuniões à volta da construção do Centro Comercial às Portas de Avis. Estava quase certa da minha oposição a esta construção, mas pelo sim pelo não fui escutar o que tinham a dizer os autarcas, os comerciantes e os cidadãos desta cidade. Poderia ser que alguém me desse um argumento que fizesse mudar a minha opinião. 3 reuniões depois continuo a pensar o mesmo. Évora, não vai conseguir sobreviver a um Centro comercial às portas da cidade. Porque essa coisa de me dizerem que se irão fazer ligações entre o centro comercia...

Ovibeja sem Castro e Brito

  Este é o 26 ano que trabalho na Ovibeja. Este ano faltou-me o interlocutor de sempre. Esta foi uma Ovibeja que iniciou um pouco mais cinzenta. Na sessão de abertura homenageou-se Manuel Castro e Brito um dos fundadores da grande Feira do Sul (que este ano comemora 33 anos) e seu mentor durante todos estes anos. Mas Castro E Brito era mais que isso, era fundamentalmente um Alentejano que defendia e lutava "por todo o Alentejo deste mundo". Um homem visionário e que respeitava quem se dedicava ao trabalho, fosse em que área fosse. Mas era especialmente um homem que reconhecia a importância da comunicação e respeitava os profissionais da área. O Alentejo, em especial a região de Beja, fica a dever-lhe muito pois era um dos seus filhos mais dedicados. Pela parte que me toca, fica o carinho por um director que sempre me tratou com enorme consideração e que me deixou sempre dar o meu melhor, ajudando-me a crescer profissionalmente. E apesar de muitas vezes se meter comigo e com ...

O negocio da saúde privada

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  sigam o meu raciocínio... No inicia da pandemia pediu-se que só fossem aos hospitais e postos de saúde, aqueles que realmente necessitassem, porque se tinha medo que o SNS nao conseguisse responder a esta emergência. a população respeitou e só vao aqueles que realmente estao a necessitar. a meio o governo, ainda com receio, fez um acordo com os privados para estes receberem doentes com covid caso o SNS necessitasse. Como sabemos o SNS esta ainda a dar conta do recado, logo os privados nao estao a receber doentes reencaminhados pelo publico. Quem acatou a ordem de nao ir aos hospitais senao em urgência, fe-lo no publico e no privado, desta forma os Hospitais privados baixaram abruptamente os seus serviços (algumas clínicas ate fecharam). Sem os reencaminhados do SNS, porque nao é ainda necessário, sem os doentes comuns dos seguros de saúde, os privados viram os seus lucros cair em flecha. Como isto é gente que pensa logo como dar volta a´ coisa sem perder dinheiro, é ver nos úl...

Direitos tirados a ferros

  Hoje por causa da noticia das duas mulheres que mostraram aos médicos que ainda amamentavam a minha mãe, mulher que não é dada a muitas historias, contou-me duas que protagonizou. No ano em que nasci saiu a lei que dava às mães um mês para estarem com o bebe recém- nascido. Quando me teve, mandou entregar a minha certidão na fabrica e ficou em casa durante um mês. Finalizado o prazo foi trabalhar. Chegada lá, o chefe disse-lhe que estava despedida porque tinha abandonado o trabalho durante um mês. Ela respondeu que não, tinha estado com licença de maternidade. O bom do homem respondeu que ali a lei não interessava para nada...A boa da minha mãe saiu da fabrica direita ao tribunal de trabalho e depois de explicar à técnica o porquê da sua visita, na hora a funcionaria entrou em contacto com o patrão que a mandou regressar ao trabalho. E o caso ficou por ali. Na mesma lei tinha sido dado a todas as mulheres que amamentassem 1 hora por dia. Como vivia perto do trabalho saia meia hor...

Somos insignificantes

  Neste momento há 6,1 biliões de pessoas no mundo. algumas estão a fugir assustadas Outras estão voltando para casa Algumas dizem mentiras para Suportar o Dia Outras enfrentam a verdade Algumas estão famintas Outras empanturradas até à alma Umas amam e são felizes Outras odeiam e são infelizes Algumas são más Outras são boas São 6,1 biliões de pessoas, 6,1 biliões de seres diferentes e ao mesmo tempo iguais e eu ...sou apenas uma Somos tão insignificantes...

Os condecorados que deveriam ser condenados

  Esta a fazer anos ,já se passou quase uma vida mas ainda me lembro como se fosse hoje o dia em que percebi que a minha mãe, a mulher de aço a quem nada nem ninguém conseguia vencer, derrubar ou machucar, se deixou cair numa depressão profunda. Naquele dia ao voltar para casa para almoçar ela estava desgovernada, gritava, partia coisas, andava violentamente pela casa como se estivesse presa. assustei-me, tentei para-la mas foi impossível e restou-me esperar que passa-se. Passaram horas quando ela tombou no sofá, a cabeça entre as mãos e os soluções sofridos já quase sumidos. Quando consegui ter coragem aproximei-me, precisava saber o que levava aquela mulher de garra, sempre compenetrada e correcta a estar naquele estado. Bem sabia que estávamos a passar tempos difíceis, o desemprego dela e do meu pai, fazia-nos estar a viver tempos difíceis, mas ela tinha-se mantido firme durante aquele ano, aquilo teria de ter outra explicação...e tinha. O jornal foi-me estendido, percebi que al...

Só os pobres é que morriam

  a minha madrinha irma da minha mae, adoeceu tinha 6 anos. O medico, privado, que foi a herdade no Freixo consulta-la, tratou-a durante 1 mês. Todos os dias la´ia. ao fim desse mês disse aos meus avós que nao sabia o que a menina tinha, que ela nao reagia e que se preparassem para ela morrer. O meu avó tinha uma verdadeira adoração por aquela filha. Nao aceitou o veredicto, como tinham dinheiro rumaram com ela primeiro para o hospital de Redondo, depois para Lisboa, o veredicto era sempre o mesmo. Nao sabemos, nao ha nada a fazer. Nos meses em que estiveram em Lisboa, souberam que em Paris um medico tinha tratado de uma menina com os mesmos sintomas. Pegaram neles e la foram. Estiveram 6 meses em Paris, ela numa clínica, eles numa pensao. ao 3 mês foi-lhe diagnosticado "o mal" no baço. O mal para quem nao sabe era cancro. Só com operação, disseram-lhes. Faça-se disse o meu avó. E assim se fez. Correu tudo bem, esteve mais 3 meses a fazer tratamentos e regressou a casa viva e...

O borrego do tio Manel

  Durante toda a minha infância sempre passei o domingo de Pascoa na aldeia da Venda, a terra da minha mãe. Durante muitos anos assisti ao fazer dos bolos da festa em comunidade. As mulheres da aldeia juntavam-se na Sexta - Feira, à roda de grandes alguidares de barro passados de geração em geração ( herdei alguns deles já gasto mas cheios de historias) e ali amassavam as massas, umas mais finas que outras para fazer os respectivos bolos. Depois colocavam sobre os alguidares toalhas de linho de um branco imaculado conhecidas pelas toalhas da festa para proteger as massas que levedavam ate sábado pela manha altura em que os faziam e os carregavam ate ao forno comunitário que estava instalado no quintal da minha Tia Bia. E ai durante todo o dia entravam e saiam bolos,uns mais apetitosos que outros. Eu e as miúdas da minha idade de quando em vez lá conseguimos comer um por outro. Tudo corria lindamente ate eu dar pelo massacre anual...o meu tio Manuel matava o meu borrego! Todos os ...

O culto do medo

  Ontem no Armazem 8 assisti ao debate sobre a memoria. Das muitas coisas que Camilo Mortágua e Aurora Rodrigues destacaram, destaco o Medo! Os regimes contam com o medo para nos dominar. É certo e continua actual este culto do medo. Na minha historia pessoal, não tendo idade para ser revolucionaria antes do 25 de Abril, o medo era também um sentimento que me cultivaram no Portugal de Salazar. No convento, onde me preparavam para servir a Deus, o medo era o sentimento mais dominante! E era utilizado das formas mais simples. Por exemplo, de cada vez que passávamos pelo retrato de Salazar ou pelo cruxifixo tínhamos que fletir um dos joelhos e benzer-nos. E faziamo-lo muitas vezes pois estes dois símbolos estavam por todo o lado. Só desde a sala dos lavores à casa de banho tínhamos de o fazer 6 vezes. Para quem ia à pressa imaginem o que era? Mas faziamo-lo, porquê? Por medo, porque se alguma das freiras nos visse e não o fizesse-mos íamos de castigo para a capela rezar pelo nosso pe...

Uma casa de todos

  Ontem no final do espectáculo tive a confirmação de que estamos a trilhar o caminho que sempre consideramos mais acertado. Não é o mais fácil, mas é o que nos parece ser o caminho de todos e para todos. Duas pessoas diferentes, que conheço de vista foram ter comigo por motivos diferentes. A primeira disse-me "parabéns pelo espectáculo, das vezes que temos vindo têm sido sempre bons. Mas alem disso gostamos muito do espaço e especialmente de encontrar sempre pessoas diferentes. Este é sem duvida um espaço aberto e não só um espaço para meia dúzia de amigos". Esta confirmação de um casal que foi já meia dúzias de vezes ver os espectáculos que programamos, que são pessoas anónimas e que conhecemos só dali, foi a confirmação de que o espaço é aberto a todos e não um gueto, o que muito nos agrada pois é realmente o que queríamos que fosse. Um espaço de todos e para todos. A outra pessoa veio ter comigo e perguntou " posso sugerir um espectáculo para trazerem aqui?" ...

Anaid

  Saiu um estudo que diz que os cães percebem a linguagem e tem sentimentos iguais aos nossos...eu não sei nada disso, o que sei é que quando a minha filha era pequena encontramos um cão bebe na estrada e trouxemo-lo connosco, viveu 3 anos na quinta em que morávamos. Quando mudei para um apartamento, resolvi levar o cão para a quinta do meu pai, achando que estava a fazer o certo...certo, certo é que durante os anos em que viveu, só me deixava entrar no espaço dele para o limpar e dar de comer quando os meus pais iam de ferias e tinha que sair a correr depois do trabalho feito, durante o resto do ano não me podia aproximar, quase que me comia, e garanto-vos que era um cão pacifico com todas as outras pessoas, aquilo era só comigo. Quando estava quase a morrer, muito velhinho (durou 22 anos connosco), sem dentes, cego e já sem se poder colocar de pé, deixava-me entrar e fazer-lhe festas e ate me lambia a mão...senti aquilo como o fazer as pazes comigo, já que durante muitos anos est...

Rede de teatros

  Ontem andei pelas Tv's a ver como tinha sido a conversa com o MC, tive varias surpresas desagradáveis... 1º As TV, especialmente a publica (talvez porque a maior parte dos 82 milhões vá para ela), esta-se nas tintas para este assunto. É mesmo um não assunto! 2º O secretario de Estado deu-se ao luxo de desconsiderar o Ministro em plena sessão, mostrando a quem quis que quem manda é ele...Oh senhor embaixador, você tem mesmo que se sujeitar a isto, precisa mesmo deste ordenado? 3º Foi proposto por um partido, com muito boa intenção, uma solução que em nada nos ajuda, antes pelo contrario! A proposta foi...uma rede de teatros, com estruturas de relevância instaladas, que passavam a ter o mesmo tipo de financiamento que os Teatros Nacionais, apoios directos! Parece bom? Sim! Mas não é! Não é porque, para já o que é isso de relevância? Só porque esta instalado num teatro não faz dela relevante para a comunidade! E as que são importantes para a comunidade e não estão instaladas em Te...

Descentralizaçao

  Este ano comemoram-se 4o anos sobre a descentralização cultural, um dos símbolos da revolução dos cravos! Lembram-se da Revolução? Lembram-se da descentralização? Pois é comemora-se este facto este ano. É irónico. Porquê perguntarão.. Já lá vou... Na semana passada os jornais, as rádios, as televisões encheram-se de gente da politica, das artes e de gente anonima que falou sobre a morte do cineasta e do economista. gente de todos os quadrantes de norte a sul do país falou destas duas perdas para Portugal. Nessa mesma semana soube de outra morte...procurei noticias e reportagens sobre esse desaparecimento e nada. Resolvi esperar, mas ate hoje silencio. Não houve artista, responsável politico, jornalista que falasse disso, excepção para um jornal de província, que aborda hoje de novo o tema. Mas sabem que mais, nem por cá se falou nisso e era importante que se tivesse falado. Era importante ter sido referido este desaparecimento. Não foi! E ai está a ironia...ele foi um dos homens ...

de quem sao filhos

  A historia do grupo de finalistas que agora abre os telejornais veio relembrar-me, se bem que nunca o esqueci, uma conversa que me chocou (e quem me conhece sabe que me choco com pouco) há uns meses numa esplanada do bairro dos alamos. Ao meu lado um grupo de miúdas que anda aqui na escola e que portanto não podiam ter mais de 15 anos, conversava sobre as suas noitadas. Às paginas tantas uma delas diz para as amigas que ia ter de abrandar na bebida durante um tempo, questionada sobre o porquê respondeu com a maior naturalidade "É pá porque já todos os dias acordo ao lado de um gajinho diferente!" Eu não sou puritana, mas engasguei-me com o café! A miúda não tinha mais de 13 ou 14 anos e confesso que aquilo me chocou! Não pela questão sexual em si...mas pela sua falta de auto-estima, pela sua falta de amor-próprio, pela sua falta de valor pessoal, pelo seu desinteresse pelos afectos, pelo seu descuido com a sua propria saude! Analisei aquilo um pouco mais e fiquei a pensar n...

A Internacional e a Bandeira Cor de Laranja

  Hoje a minha amiga Margarida Fernandes disse que ia cantar a Internacional, eu lembrei-me, e disse-lhe, que o meu neto em bebe quando era sisudo ria quando eu lha cantava e nunca percebemos porquê, mas colocava o braço para cima,. aquilo fazia-nos rir. Depois, ai com um ano apaixonou-se pela cor de laranja. Um dia, íamos pela rua da lagoa e ele viu dentro da sede do psd uma bandeira cor de laranja e queria porque queria a "bandeia cor lalanja". Foi dificil explicar-lhe que nao podia ir la buscar a bandeira, era o que faltava ir presa por roubar uma bandeira. Uns meses depois andava a passear com ele pela Feira de S. Joao e quando passamos em frente ao stand do psd, la estava a bandeira cor de laranja. O rapaz queria a bandeira, porque sim, a mae tentava convence-lo que nao, estávamos naquele impasse quando chegou junto de nós o vereador António Costa e Henrique Sim-Sim , que encantados lhe deram a bandeira cor de laranja. a alegria do puto a empunhar a sua bandeira cor de...

rememos todos para o mesmo lado

  Estive a concorrer a um concurso, sem muita fé na coisa, mas como agora tenho tempo la´o fiz. No meio do processo um companheiro de trabalho, pediu-me uma declaração para o mesmo concurso, enviei-lha. Quando terminei pensei "porque nao mandar a todos os que estavam programados, pode ser que precisem?" assim fiz. Na volta dos mails, entre vários obrigados há um que se destaca " obrigado. Nao tinha pedido, pois pedi alguns antes e 2 das estruturas disseram que nao pois estao a concorrer e o dinheiro é pouco, e nao pedi mais. Vou concorrer com este" Mau, que raio de porra é esta, entao nao passamos declarações para nao dividir as migalhas? Continuamos no meio desta tempestade a olhar para o nosso umbigo? Oh gente idiota, o valor é divido em estruturas e artistas, e mesmo que fosse tudo junto, é preciso passar as declarações. Sao as estruturas que as passam, se nao passarem eles nao podem concorrer! Nós somos um todo companheiros, sem espaços os artistas nao tem ond...