O filho morto no Tarrafal
Em 1937 um dos filhos da Maria Barenha, nascido a 24 de Abril de 1911, minha bisa deu entrada no Tarafal para nunca mais voltar.
Parece que o avisaram varias vezes para não se meter em politica, para não entrar na revolta dos marinheiros, não escutou, foi há luta de peito aberto e coragem. Maria Barenha, a alentejana destemida da qual herdei o ADN, pôs-se a caminho de Lisboa para se despedir de mais um filho. Sabia que ele não voltaria, sabia que seria a ultima vez que o via. Parece, que ele lhe pediu desculpa por mais essa dor, mas a Maria não achou isso diz-se que lhe disse .- " se não lutasses, se te acobardasses ai sim era preciso desculpas, pois eu não pari cobardes, assim nada tenho a desculpar" e despediu-se dele para sempre! Esteve varias semanas em Lisboa a consolar mães, mulheres e filhas de condenados como o seu filho, regressada a casa voltou a tratar dos filhos que cá tinha deixado ( 3 haviam de morrer de forma idêntica). O filho morreu 1 ano depois de dar entrada no Tarafal, ela só soube dois anos depois...nunca fez luto por ele, assim como nunca fez luto por nenhum dos que morreram nas lutas da época, afirmava que por quem morre a lutar não se chora se canta e ela cantava, dizem que muito bem por sinal.
Eu não canto coisa nenhuma, nem tenho a coragem da Maria Barenha e dos seus filhos...sou descendente dos que lutaram mas que não morreram por isso. Mas luto à minha maneira luto sempre...porque é preciso continuar, porque é preciso que alguém mantenha vivo o ADN da Maria Barenha e porque há sempre uma luta a travar!
Hoje é dia de comemorar a liberdade mas é também dia de lembrar o filho da minha Bisa!
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