Sapateira a minha mae

 Hoje o Francisco Chico da Emilinha partilhou uma foto de uma forma de sapateiro que me levou a olhar para a que tenho cá em casa, também ela hoje a servir de enfeite. E ao olhar para ela lembrei-me da minha mãe (que esta viva e se recomenda). Nascida numa família rica, o pai perdeu tudo tinha ela ai uns 16 anos. Menina sem ter hábitos de trabalho, a ir à escola e a comer carne e beber leite condensado, pois não gostava do de vaca. Tudo levava a querer que tivesse ficado, tal como os irmãos, uma ex-rica aparvalhada. Mas não, a minha mãe que não sabia fazer nada, nem a comida, arregaçou as mangas e aprendeu. Empregou-se numa fabrica, onde começou a enrolar rebuçados e de onde saiu como encarregada 40 anos depois. Mas não se ficou por ai, era o que faltava...ia aprender tudo o que fosse possível. Segundo ela, se um dia lhe voltasse a faltar o dinheiro, havia de saber desenrascar-se. Já a conheci a fazer a sua própria roupa que via as artistas vestirem nas revistas. Aprendeu a cortar o cabelo a toda a gente da família e fazia cortes altamente, assim como penteados complicados. Nas limpezas do ano era ela que pintava, arranjava as madeiras das janelas e substituía os vidros que se partiam, para os quais bastava comprar vidro ao metro, corta-lo à medida e massa de vidreiro. Sapatos, não iam ao sapateiro, ela pegava na forma, na faca de sapateiro no material que comprava na sapataria Leão e não havia sapato que saísse dali menos que impecável. Quando queria comprar algo que fugia ao seu orçamento, já sabíamos era tempo de passar a noite a fazer bolos para vender. Onde nunca demos grande coisa por ela foi como cozinheira, ate porque durante anos comprou sempre a comida já feita, dizia que se perdia muito tempo com isso e ela tinha mais que fazer. Mas mais uma vez nos enganou. Quando aos 55 anos a fabrica fechou e o meu pai resolveu abrir um restaurante arregaçou as mangas e tornou-se uma cozinheira de mão cheia. Ainda hoje muita gente lhe pede para fazer alguns pratos que por mais que ela ensine só ela faz bem. Agora, reformada como já não pode andar muito, foi aprender a pintar e a recuperar moveis antigos e não é que estão a ficar impecáveis! Vocês não sei, mas eu acho que a geração da minha mãe tem muito mais força para encarar as dificuldades que a minha ou a da minha filha! Tudo isto, por causa da forma de

sapateiro que tenho aqui em casa a enfeitar para me lembrar que os meus sapatos eram arranjados pela minha mãe...
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