25 de Abril no colegio

 Não sou da geração que fez o 25 de Abril nem sequer da que a viveu plenamente, sou da seguinte, da que não tem memoria do fascismo a não ser pelos livros ou pelas conversas. Mas isso não faz com que não tenha memoria sobre esse dia distante. Há 41 anos atras no dia 25 de Abril eu e todas as minhas colegas de colégio, passamos o dia a rezar, mas nesse dia não foi pela alma dos meninos da Rússia foi mesmo pela nossa salvação. Um dia de dores nos joelhos e um dia de fome, devido ao jejum. Porquê? Só muito mais tarde soube porquê. Importante, importante foi o dia 26 de Abril, dia em que os meus pais não foram trabalhar e eu não fui ao colégio. Ate as dores nos joelhos me passaram e o dia foi todo de brincadeira. Gostei desta coisa a que chamavam liberdade. Se liberdade era não ir ao colégio e não rezar, por mim estava aprovada! Mas a liberdade havia de dar-me mais do que dias sem rezas. Deu-me a possibilidade de escolher o que fazer com a minha vida. Deu-me a liberdade de viajar. Deu-me a liberdade de poder pensar e expressar livremente o meu pensamento. Deu-me a liberdade de assumir uma filha sozinha. Deu-me a liberdade de a poder mandar para a universidade. A liberdade conseguida nesse dia 25 de Abril, do qual tenho pouca consciência, deu-me a possibilidade de ser quem sou. E eu gosto de ser quem sou. Mas não estou iludida essa liberdade é frágil e já levou muitas machadadas ao longo dos anos. E essas, muitas delas provocadas por gente da minha geração. Há dias uma estudante universitária disse-me "Nós vamos fazer outra revolução". Espero que ela tenha razão, pois se continuarmos assim a coisa pode correr muito mal. E se assim for...mais uma vez não pertencerei à geração que fez a Revolução!

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