O borrego do tio Manel

 Durante toda a minha infância sempre passei o domingo de Pascoa na aldeia da Venda, a terra da minha mãe. Durante muitos anos assisti ao fazer dos bolos da festa em comunidade. As mulheres da aldeia juntavam-se na Sexta - Feira, à roda de grandes alguidares de barro passados de geração em geração ( herdei alguns deles já gasto mas cheios de historias) e ali amassavam as massas, umas mais finas que outras para fazer os respectivos bolos. Depois colocavam sobre os alguidares toalhas de linho de um branco imaculado conhecidas pelas toalhas da festa para proteger as massas que levedavam ate sábado pela manha altura em que os faziam e os carregavam ate ao forno comunitário que estava instalado no quintal da minha Tia Bia. E ai durante todo o dia entravam e saiam bolos,uns mais apetitosos que outros. Eu e as miúdas da minha idade de quando em vez lá conseguimos comer um por outro. Tudo corria lindamente ate eu dar pelo massacre anual...o meu tio Manuel matava o meu borrego! Todos os anos era a mesma coisa, dava-me um borrego acabado de nascer prometia-me que desta vez era mesmo meu e não o mataria e todos os anos o matava! Lá começava a choradeira e mais uma vez ele me dava outro e voltava tudo ao inicio. Foi assim durante anos, eu esforçava-me para acreditar nele e ele sempre falhava. Um dia lá percebi a coisa...ele queria dar-mo mas tinha que o matar para o comer então optava pelo mais simples faltar à sua promessa... foi na Pascoa que aprendi a nunca prometer nada mesmo que pense em cumprir pois podem valores mais altos levantar-se e cair por terra a promessa. Digo sempre vou tentar...e tento mas lá prometer não prometo!

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