Historias da Gente

  Tenho saudades do tempo em que existiam no mundo intelectuais brilhantes, hoje estamos rodeados por alpinistas sociais cheios de Ego, que em nada ajudam as cidades, o país e o globo. O Ego, sendo ilusório, distorce a realidade, faz com que a pessoa ache que esta acima dos outros, levando-a claro a cometer erros grosseiros. Este erro de pensamento cria uma mascara que tem de ser alimentada, caso contrario o sentimento de inferioridade que lhe esta subjacente vem à tona e é o descalabro total. O grande mal dos nossos dias é que estes seres cheios de ego, são levados a serio, são seguidos ou tem ao redor muita gente que se aproveita deles, tem poder e causam males irreverencieis às sociedades em que estão inseridos...um dia caiem, caiem sempre, porque ninguém pode enganar toda a gente todo o tempo, o grave é que os danos podem ser fatais! Há porem algo que me tranquiliza, o ego leva a pessoa longe, mas inevitavelmente um dia deixa-o sozinho!

  as crianças nascem todas diferentes e a receita que resulta com uma, falha com a outra, simples assim... Comecei a passear pela cidade com a minha filha era ela muito pequena, a mostrar-lhe os prédios, a passear pelas travessas , a sentar-me nos largos, estas visitas criaram nela um amor pela cidade e aos poucos era ela que me convidava para passear pela nossa cidade, o que acontece até hoje. O seu amor por Évora foi criando raízes desde ai. Com o meu neto fiz exactamente a mesma coisa e nestes quase 3 anos ele só me coloca problemas, ou é o templo que não está pronto, ou a parede que precisa de tinta, ou a fonte que está estragada, ou o jardim que não tem flores, e por mais que eu vá justificando o que me apresenta, ele continua a dizer as mesmas coisas. Hoje, quando o fui buscar ao colégio, logo que saiu disse-me " o meu colégio é velho, a cidade é velha, as ruas são velhas, as paredes são velhas, cheira a velho, eu não gosto de cheiro a velho" fiquei um pouco baralhada,...

  Sou de uma geração de mulheres que já estudou em escolas mistas. Sou da geração das que já frequentavam o café e o cinema sozinhas. Sou da era das discotecas e não dos bailes. Sou da geração da amizade entre homens e mulheres. No meu grupo de amigos, eramos ai umas 12 mulheres e ai uns 20 e tal homens. Amigos de todas as horas, de muitas festas, de ferias nas praias da costa Alentejana, dos festivais jovens de norte a sul do País, das noitadas nas discotecas e dos espectaculos em Lisboa, Faro, Porto, Madrid e Barcelona. De espadelas para o norte de Africa e vistas rápidas a Amesterdão. Sempre em grupo, sempre juntos, homens e mulheres. Descobrimos juntos as novas tendências das artes, as novas teorias da sociologia, as novas descobertas cientificas, as novas linhas filosóficas. Discutimo-las no café, aplicamo-las nas vidas comuns das casas comunitárias que alugávamos, defendíamo-las com garra nas nossas famílias. Com tanta partilha, tanto crescimento e tanta ideia comum, foi nor...

  Há anos que digo que as desavenças entre a esquerda, o não se punir os políticos corruptos e o fechar dos olhos aos discursos fascistas, com a desculpa de que vivemos numa democracia, são um perigo e ajudam o caminho daqueles que defendem as ditaduras. Não se pode dar espaço a gente com ideias fascistas, não se pode lutar contra eles com as mesmas ferramentas democráticas que se luta entre partidos diferentes mas democráticos, pois eles tem e usam outras armas...mas andamos a dormir na parada ainda há poucos dias o fascista que deixamos instalar na assembleia da republica portuguesa disse que se estava nas tintas para a Constituição Portuguesa, e nada aconteceu...deveria ter sido expulso, deveria ter sido aberto um inquérito, deveria ter o presidente da Casa da Democracia ter tomado uma posição firme em resposta ao desrespeito para com a Lei suprema do estado português e aquela que permite ao senhor estar no parlamento como deputado. Nada se fez... No Brasil, onde o processo j...

Quando andava a estudar o que mais me envergonhava era a entrega de testes. Desenganem-se, não era por ter más notas, antes pelo contrario, quando a sala se enchia do som "lurdes 100%" ficava do tamanho de uma formiga, se pudesse enfiava-me num buraco. Aquela exposição deixava-me constrangida, os ares dos meus colegas incomodavam-me, quer os olhares indignados dos que também queriam aquelas notas, como os de admiração dos que não as tendo não as invejavam. Nem num caso nem noutro eu sentia que o merecia. Nunca me senti merecedora daquelas notas, nunca fui "rato de biblioteca" nunca dediquei a minha vida ao estudo, ao conhecimento sim não ao estudo, mas as notas vinham e eu sentia-me perturbada. Mais tarde percebi porquê, as tais notas que tantos queriam, eram uma forma deles terem a admiração alheia e eu não sinto necessidade do aval dos meus pares. Naquele tempo a única coisa que eu queria era sentir-me feliz e não o era, as notas perdiam a importância perante a ...

  Era muito pequena e de um dia para o outro a guerra entrou no meu vocabulário. O filho da minha "mãe da casa", o "irmão" que consegui ter, ia para longe...ele que me levava ao cinema, ao parque, à praça e a ver os comboios, ia para longe, muito longe. Senti-me traída, não queria...ia ficar sem o meu amigo...mas ele foi! Todos os dias rezava na capelinha lá de casa, acendia a velinha e mantinha a lamparina acesa...tudo para que ele voltasse. O meu tio também tinha ido, e tinha voltado doente, lembro-me de ter medo dele voltar doente também. De vez em quando chegava uma carta...uma carta diferente das outras, onde ele contava que estava tudo bem e mandava beijos. No Natal, apareceu na televisão e mandou-me beijos, senti-me importante por segundos...mas fiquei triste logo a seguir ia ser Natal e ele não estava ali, estava la com os outros meninos de cor que apareceram na televisão. Os anos passaram e o meu "irmão de coração" voltou. Voltou bem de saúde...ou...

  às minhas pessoas, as melhores do mundo. Que estão nas festas e nos tempos tristes, nas gargalhadas e me enxugam as lagrimas. às minhas pessoas, que nao são perfeitas mas são lindas, que são diferentes mas de um humanismo extremo, que me apontam os erros mas que me amam, apesar das minhas imperfeições! a todos vocês que eu amo, o meu muito obrigado por nunca me largarem a mão! algo de bom devo ter feito para vos merecer, para ter muitos e os melhores amigos do mundo! aqui fica a promessa, quando tudo isto passar a 1ª festa que fizer é em vossa homenagem, porque vocês Merecem!

  ao longo dos anos tenho tido varias parcerias, quer com instituições públicas quer privadas. Algumas são bem antigas, tão antigas que se baseiam na palavra, sem necessidade de contrato escrito, o acordado entre as partes é sempre cumprido e tem corrido bem. Quando a pandemia nos confinou, estava com um desses trabalhos agendados para dai a pouco tempo. Nas semanas seguintes, com as instituições a anularem trabalhos, com o que fui sabendo de colegas da área de que não iriam ser pagos, com os representantes do sector a lutarem para que se fizessem cumprir os contratos assinados. Aqui sentada no meu sofá, dei esse trabalho por anulado e não tendo contrato nem sequer liguei a confirmar o que quer que fosse. O trabalho caia, o dinheiro não vinha. Se as instituições estavam a fazer assim, era mais que obvio que uma empresa o fizesse. Dei o caso como encerrado. Pois não estava, no dia em que deveria ter dado como finalizado o trabalho, caiu na conta o pagamento do que não fiz. Ai liguei...

  Passou 1 ano sobre a entrada da Rússia na Ucrânia, passaram 9 anos sobre a guerra na Ucrânia. Sim, desde 2014 que aquele país do leste da Europa estava em guerra, mas "nós" só soubemos há 1 ano, o mundo dividiu-se em apoiantes de Zelensky e apoiantes de Putin. No meio meia dúzia que continuam a afirmar 2nem um, nem outro" no qual me insiro. Os lados atacam ferozes, usam argumentos estafados como liberdade e nazismo, nem uma coisa nem outra, só Poder. Uma guerra de poder abateu-se sobre a Europa, opondo a Rússia contra a Ucrânia, de forma visível, mas as forças ocultas são os Estados Unidos contra a China. No meio a velha Europa, decrepita e vassala de um estado beligerante que tem feito sangue por todo o globo, os Estados Unidos e a sua economia baseada na indústria bélica, contornaram com esta guerra uma recessão enorme em que iam entrar, estenderam-lhe o tapete vermelho e mantiveram o dólar à tona da agua com as compras da guerra. Safou-se a pele de Biden. Os Alemã...

  Participei em muitas na casa dos meus avós. Reconheço que o barulho do porco me incomodava, o que me fazia dizer "ai coitadinho, ai coitadinho" a minha avó brigava-se e dizia "não digas isso que demora mais" , sufocava então as palavras mas na cabeça continuava a dizer "ai coitadinho, ai coitadinho" Só ouvia, nunca vi, o meu pai não deixava, só depois de morto podia ver o porco. Depois participava no resto, desde o lavar das tripas, um suplicio feito numa ribeira próxima com a agua gelada de cortar as mãos, ao partir e temperar da carne com a indicação da minha avó, a especialista na coisa, nesse tempo os miúdos pegavam em facas desde muito cedo, e se se cortavam, fazia-se uma "boneca" no dedo e seguia-se viagem. Eram 2 fins de semana de encontro das familias e dos vizinhos, eram 4 dias de festa, normalmente em Janeiro, com um frio de arrepiar cabelo. No 2ª fim de semana, era tempo de encher a carne, o funil ( que guardei como lembrança) , ma...

  O mundo dá muitas voltas e de vez em quanto nós voltamos a cruzar-nos com gente que nos marcou! Na década de 80, estiveram em Évora, durante alguns meses um grupo de artistas brasileiros, num tempo em que não havia muitos em Portugal, com os quais nos demos bastantes. Alias viveram nas nossas casas, fazíamos festas todos os dias, à boa maneira brasileira e passávamos noites a cantar e a dançar. Depois foram ás suas vidas e só de vez em quando eu me lembrava deles, especialmente quando escutava Luiz Gonzaga ou outros mestres da musica brasileira. A semana passada, através de uma amiga voltei a ficar em contacto com o Pedrao Do Maranhão e espero conseguir traza-lo de novo a Évora. E claro através dele consegui o rasto de quase todos os outros...Este reencontro, trouxe-me a saudade de mim, dos meus amigos daqueles tempos, da pureza com que nos entregávamos uns aos outros, das partilhas, das casas sempre abertas a receber quem nos visitava. Das amizades desinteressadas, enfim...sa...

  Dia 28 de Fevereiro vai ser inaugurado o único Museu do Circo do País. Há vários na Europa, mas aqui não havia. Quando os meus amigos Det e Eva Cabral me falaram nesta ideia, gostei dela e pedi-lhes que o fizessem aqui. Estamos a 1,30 de Lisboa, perto de Espanha, no Eixo Lisboa Madrid, achei que era uma excelente ideia para a cultura da cidade, um museu sobre esta arte ancestral, sem a parte dos animais. Eles, como são meus amigos disseram-me "tá, se conseguires uma escola primaria devoluta, fazemos ai o museu"! Tentei, juro que tentei,só era necessário uma escola primaria fechada, em qualquer aldeia, não era preciso ser perto do centro se quer. O dinheiro para a recuperação e reconversão do espaço vinha de fora, o espolio eles tinham, o que foram adquirindo ao longo dos anos de trabalho e aquele que muitos circos lhes foram dando, só eram mesmo preciso as paredes. Não fui capaz...não consegui uma escola por cá! O Momo, foi então para a Lousã. a câmara só precisou dar a es...

  Ontem fui à Opera. Desenganem-se não fui por gostar particularmente do género, nem sequer para que me vissem numa coisa fina. Fui à Opera porque nela participavam muitos amigos, sim porque esta opera foi produzida com gente nossa. Com o Coro do Eborae, com alunos da Universidade e com o André Russo. Por isso fomos todos e enchemos o teatro. Fomos porque somos solidários com os amigos! Fomos porque as instituições da cidade estavam envolvidas e nós somos seus associados! Fomos muitos os que foram, como vão sempre que este tipo de actividades acontecem. Porque sabemos que eles trabalham aqui em prol da cultura o ano inteiro, porque estes processos criativos os fazem, e nos fazem, crescer enquanto indivíduos! Fomos porque sabemos que são as instituições culturais da cidade que contra ventos e marés continuam a defender as nossas marcas identitárias! Fomos e gostamos...mas aqui já não por amizade, gostamos porque foi bem feita, bem cantada, bem dançada, bem tocada. Ontem vim para c...

  sábado fui ao lançamento de mais um, dos belíssimos livros, do meu amigo Francisco Bilou, que me tem dado a honra de fazer parte de alguns projectos que tenho feito, desde o longínquo dia em que o nosso e saudoso,amigo José Melo nos apresentou. Mais uma vez não me desapontou, o livro merece a nossa atenção e é um registo meritório não só sobre o importantíssimo artista Nicolau Chanterene e a obra que deixou na cidade, como também da importância que Évora teve no passado, não só como ponto estratégico e politico mas especialmente como pólo cultural da Europa. Corroboro mesmo as palavras do Dr. Manuel Branco, que apresentou o livro, quando afirmou que Évora já foi a Capital Europeia da Cultura, a historia está ai para o provar. O artista em questão criou aqui nessa época uma obra vasta, de grande beleza estética, para alem de ter deixado um legado artístico único. Bastava só o registo para memoria futura, para este lançamento já ter tido grande importância para a cidade e a compr...

  A proximidade da zona onde a minha mãe nasceu e viveu ate aos 11 anos, o Redondo, talvez expliquem a paixão que ela tinha pelo Carnaval. A participação do meu pai nas Brincas dos canaviais talvez expliquem essa sua paixão também. Ou então não, talvez eles tenham nascido só com essa paixão e se tenham só encontrado, o certo é que enquanto casal esta era a sua festa, a que os juntava enquanto casal. O natal, a festa da família faziam-no para cumprir calendário. A pascoa jamais a assinalaram. A passagem de ano era festa de trabalho nas inúmeras associações a que sempre pertenceram. A Feira de S. João era tempo de muito trabalho durante uns anos e depois coisa a visitar cada um com os seus amigos. O aniversario de cada um era coisa a que não davam importância, a que faltavam, de que se esqueciam. O Carnaval não. o Carnaval era a sua festa da família. Era o que viviam enquanto casal, aquela em que 1 mês antes os fazia ir para casa mais cedo, para discutir a mascara do ano, para pedi...

  Morreu hoje uma das nossas maiores poetisas, uma das maiores lutadoras, uma das que fez mudar a mentalidade portuguesa, uma das companheiras de luta da minha mãe, uma das mulheres que me serviram de referencia quando menina, as acompanhava nas suas reuniões de luta pela igualdade. deixou-vos hoje Maria Teresa horta, mas ficará para sempre na historia de Portugal! Abraços Teresa, se vires a minha mãe, não a chateeis como sempre fazias, por não gostar de cultura, a senhora teve sempre mais que fazer, mas podes continuar a insistir e diz-lhe mais um dos teus poemas, ela vai bofar como sempre fez, mas escuta-te. Pequena canção à mulher. Maria Tereza Horta Onde uma tem O cetim A outra tem a rudeza Onde uma tem A cantiga A outra tem a firmeza Tomba o cabelo Nos ombros O suor pela Barriga Onde uma tem A riqueza A outra tem A fadiga Tapa a nudez Com as mãos Procura o pão Na gaveta Onde uma tem O vestígio Tem a outra A pele seca Enquanto desliza O fato Pega a outra na Enxada Enquanto dorm...

  Quero falar-vos da eutanásia, não da que hoje se discute, mas da natural, a que não está ligada à religião, à moral e aos bons costumes, daquela que sempre foi natural no bicho homem, como em todos os animais da criação. Daquela que tinha rituais de partida, com despedidas de amor, entre os que eram próximos, daquela que tinha saudações e agradecimentos à natureza por ter deixado que dela se tivesse feito parte. Daquela que tinha cerimonias de passagem de saberes e daquela em que o bicho homem partia em paz, com a serenidade que se tinha quando se sabia chegado ao fim de um caminho. Decidida por aquele/aquela que tinha desde o dia do seu nascimento transportado um invólucro a que chamamos corpo. aquele corpo que ninguém era obrigado a manter quando sabia que já nada tinha para dar ao que o rodeava, que já não continha mais energia e que já só poderia sentir o bem e que só deixava sofrimento. É dessa eutanásia ancestral, que colocava o bicho homem em equilíbrio com todos os outros...

  Não gosto de futebol, aprendi muito cedo que aquilo era feio. acompanhava o meu pai nos seus treinos e nos jogos que ele arbitrava porque ele tinha o sonho de que a filha fosse a 1ª mulher arbitro, teve que desistir da ideia, nos treinos eu escondia-me debaixo das bancadas do juventude, onde eles treinavam e nos jogos ou vinha a chorar porque tinham sido violentos com ele ou emborrada porque não gostava dos palavrões, sim porque aquilo sempre teve adeptos mal educados, que chamavam palavrões aos jogadores e a quem estava em campo e porque muitas vezes acabava de forma violenta, desde muito cedo passei por isso a perceber que os "demónios internos dos adeptos" se extravasavam ao domingo de forma primitiva. a minha contrariedade era tal que o meu pai desistiu do seu sonho e eu fui libertada de assistir aquelas cenas deploráveis durante alguns anos. Depois, já adulta comecei a ser contratada para colocar som nos jogos inter-freguesias das crianças e confirmei que os adeptos...

  Evo Morales e a Bolivia, um pais pobre e de pequena dimensão, legalizou o cultivo da coca. Fez frente ao gigante Americano, que não tem um problema de coca mas sim de cocaína Apoiou os agricultores controlando a produção e encontrando produtos alternativos e tradicionais para o uso da folha da coca, pagando aos agricultores o mesmo ou mais que os traficantes. Esta medida melhorou a vida das populações, que é o que lhe importa. Segundo ele " Nós não temos um problema de coca, uma planta cultivada desde os Incas, o Ocidente é que tem um problema de cocaína há 50 anos!" Evo Morales, enfrentou a grande América e o seu povo seguiu-o. Por cá, com melhores condições nós não conseguimos dizer não à grande Alemanha! Porque? Porque quem nos governa diz que nós aguentamos! E nós aguentamos! Quando vira alguém que diga que não aguentamos e pensa em nós em vez de pensar nos outros?

  Ontem comentei com a minha mãe sobre a morte do jornalista em França e da indiferença destes tempos. Olhou para mim com o olhar que só tem quem acumulou experencia de 80 anos. Não é de hoje, lembraste do Matias? Lembrei-me! O Matias, foi ajudante do meu pai foi ele que lhe ensinou a profissão de serralheiro, entrou na oficina com 12 anos, era um miúdo franzino, vinha de uma família muito pobre e o meu pai talvez por se rever nele, fez-se seu protetor. Em dias de horas extra, para o poupar de ir a pé, à chuva ate casa, dormia na nossa casa. Para que se alimenta-se melhor, o almoço do meu pai deixou de ser para um passando a ser para dois. O Matias passou a andar sempre com o meu pai para baixo e para cima, às tantas passou a ser protegido também pela minha mãe. A primeira vez que o convidaram para ir à praia, lugar que nem sabia o que era eu tinha 2 anos, pediu para levar o irmão mais velho, também ele queria conhecer o mar. Levaram os dois. Chegados à praia, perceberam que nem um...

  Ha uma frase da Bíblia que diz que deus " há-de vomitar os mornos". Porque eles não são nem quentes nem frios. Não o são na vida, nos amores, na cidadania. Penso nela sempre que alguém me diz " eu não me interesso por politica! Sendo que a politica é tudo o que nos rodeia, vejo-os sempre como gente que "não é nem quente nem fria" quando são católicos, vem me sempre `memoria que o deus deles, quando os chamar para aquela conversa de fim de linha, lá num canto da entrada do céus, lhes dirá "vou vomitar-te". Esta imagem que me vem, faz-me sempre sorrir. Hoje numa conversa com uma destas personagens, ao me ver sorrir, perguntou-me de que sorria, não lhe disse, achei que não ia gostar da ilustração do meu pensamento, e sendo "morno" provavelmente nem iria aprender nada com ela. aqui, a pensar nisso, fico contente, pois se há coisa que não sou é morna, o que me dá algum conforto, afinal, se eles tiverem razão e o deus deles existir, pode até env...

  Quando adolescente estudei a história dos Estados Unidos da America, descobri nessa altura que a grande maioria dos candidatos compravam historias de vidas duras, difíceis e sofredoras para os seus antepassados, isso acontecia porque dava votos. Lembro-me que na época pensei que era exactamente o oposto do caso português, por cá o importante era nunca se saber que os nossos antepassados foram pobres ou passaram necessidades, isso não dava credibilidade. Mas também me lembro de ter percebido a sorte que tinha de ser filha de um homem que não escondia a sua origem. Foi talvez por estas descobertas que passei a contar a historia do meu pai. Ora quem me conhece e o conhece, muitas vezes pode achar que as historias estão empoladas, que a sua miséria e a sua vida é por mim contada de forma romanceada, eu percebo se assim pensarem, se o conhecesse hoje e ele não fosse meu pai talvez também o pensa-se. É por isso que já tenho falado de uma fotografia dele e do irmão quando crianças a vá...