o carnaval - 2023

 A proximidade da zona onde a minha mãe nasceu e viveu ate aos 11 anos, o Redondo, talvez expliquem a paixão que ela tinha pelo Carnaval. A participação do meu pai nas Brincas dos canaviais talvez expliquem essa sua paixão também. Ou então não, talvez eles tenham nascido só com essa paixão e se tenham só encontrado, o certo é que enquanto casal esta era a sua festa, a que os juntava enquanto casal. O natal, a festa da família faziam-no para cumprir calendário. A pascoa jamais a assinalaram. A passagem de ano era festa de trabalho nas inúmeras associações a que sempre pertenceram. A Feira de S. João era tempo de muito trabalho durante uns anos e depois coisa a visitar cada um com os seus amigos. O aniversario de cada um era coisa a que não davam importância, a que faltavam, de que se esqueciam. O Carnaval não. o Carnaval era a sua festa da família. Era o que viviam enquanto casal, aquela em que 1 mês antes os fazia ir para casa mais cedo, para discutir a mascara do ano, para pedir fatos, provar, fazer arranjos, criar ornamentos, ensaiar andares, posturas. Levavam aquilo muito a sério e claro faziam-me levar também. Eles eram a dupla, eu o adereço. No ano em que a minha mãe foi GNR, o meu pai foi prisioneiro e claro calhou-me ser cão. Era assim. Eu odiava, emburrava, fazia fita, mas eles não queriam saber, era para ir e mais nada, lá ia, durante 3 dias desfilavam, comigo a tira colo por festas e bailes, da cidade às freguesias. Amavam aquilo, divertiam-se horrores, riam, metiam-se com conhecidos e desconhecidos, dançavam, comiam e bebiam, levando-me a reboque. As tardes e noites eram passadas nas brincadeiras de Carnaval. Quando o enterro do Entrudo acontecia, eu respirava de alivio, eles voltavam à sua vida, cada um para seu lado. No ano seguinte repetiam o ritual. A ultima vez que o meu pai se mascarou, foi no ano antes da pandemia, a minha mãe já estava com dificuldade de locomoção mas mesmo assim ajudou-o a encontrar o figurino, a ele e á neta, ele mascarou-se de velho numa dupla com a neta mascarada de velha e ela manteve-se por perto a fazer-se ainda de mais doente, de sorriso no rosto, feliz e contente de estar na festa de Carnaval. Eu já há muito tinha deixado de participar, já não havia quem me obrigasse a fazer de conta, apesar da sua insistência e daqueles que me rodeiam.

Este ano já não estavam por cá para viver o Carnaval, para se vestirem a rigor, para interpretar os papeis. E mesmo continuando a não achar grande graça ao Carnaval, em sua homenagem mascarei-me. Senti que o devia fazer, senti que estariam por perto, que estariam em mim. e estiveram! E acho que não me sai mal, assim como a minha parceira de festa. Foi uma boa noite a de sexta feira, é verdade que o rock que os Bootleg interpretaram ajudou imenso a que a festa me tenha corrido a jeito e a sala repleta de gente linda também. O modelito teria ficado melhor sem blusa e com as pernas ao leu, mas isso já era pedir muito a quem é friorenta e esta no Alentejo, onde esta um frio de rachar.

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