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Mostrando postagens de junho, 2021

e a maluca sou eu

  A Évora da minha adolescência era uma cidade ainda mais conservadora do que é hoje. Não eram muitas as meninas da minha idade que frequentavam os bares ou os cafés. Ao cinema iam acompanhadas das mães. Frequentavam as pastelarias ou salões de chã e nunca frequentavam o Café Portugal ( isso era só para adolescentes malucas ou drogadas). A noite era-lhes vedada a não ser a ida ao baile acompanhadas devidamente. As amizades com os rapazes só na escola ou numa ou outra festa de domingo há tarde. Por isso durante o dia desforravam-se e faziam coisas que jamais passariam pelas cabeças dos seus progenitores. A feira de S. João era por isso um espaço onde se esbaldavam. Passavam as tardes nas pistas e nos carroceis, provavam bebidas alcoólicas e flertavam com os rapazes da feira. Eles davam-lhes senhas e fichas e elas davam-lhes conversa. Para quem estava preso o ano inteiro aqueles momentos de liberdade eram o paraíso. Pouco habituadas a estas relações entre géneros era comum caírem di...

Solesticio

  Ontem fui ver o nascer de sol ao Cromeleque, não o fazia há muitos anos. A ultima vez a minha filha tinha 8 meses, tal como ontem, depois de uma noite de feira às 5 da manha rumei para ver o Solstício de Verão. Dois ou três casais de namorados, eu e a minha bebe, que deve ter pensado "mas porque é que esta maluca hoje me acordou tão cedo", lá ficamos sentados no chão à espera do romper do dia. O sol, tal como ontem, surgiu no horizonte. Uma bola vermelha enorme que lançou um raio sobre as pedras do cromeleque, ontem um pouco menos visível devido às nuvens, mas que em nada diminuiu a sua beleza. A grande diferença entre aquele ano distante e o dia de ontem foi a quantidade de gente, perto de 50 pessoas observavam este belo nascer de dia e os rituais a que assisti. Os tambores, o toque do búzio, as mensagens à mãe natureza e ao seu equilíbrio, foram a novidade. Uma forma diferente de comungar este novo nascer de época. Não sendo mulher de rituais gostei. Foi diferente, mas nã...

Cantarinha

  Quando era pequena passava sempre o mês de Julho no Couço. A minha "mãe da casa" ia tomar conta dos pais e eu ia com ela. Por aquelas bandas ainda se ia buscar agua ao poço e eu durante a Feira de S. João queria uma "cantainha" para ir também ao poço. Era uma briga eu queria a cantarinha e eles não me queriam compra-la porque eu a partia. Insistia todos os dias ate conseguir vencer alguém pelo cansaço e lá me compravam a boa da cantarinha que eu levava para casa e guardava como se de uma relíquia se tratasse. No Couço, colocava-a no poial ao lado dos cântaros e no final do dia, pelo fresco lá ia eu toda vaidosa buscar agua na minha cantarinhaa. Transportava-a com extremo cuidado, colocava a agua (pouca claro porque ela era pequena) muito devagar para não perder uma gota, transportava-a muito lentamente e colocava-a com muita atenção ao lado dos cântaros. Ate ficar vazia ia bebendo dela. Por mais cuidado que tivesse havia sempre um dia que a cantarinha batia na b...

Feira S. Joao 2

  Faltam poucos dias para o inicio da Feira de S. João. A feira é uma marca da cidade, da região e é também uma marca na minha vida. Nasci no dia de S. Pedro apesar disso não estar previsto, segundo a minha mãe eu queria ir à inauguração do Monte Alentejano, lugar pelo qual o meu pai me trocou nesse meu primeiro dia no mundo! Um ano depois na noite de S. João, foi na feira e numa tentativa frustrada de chegar ao carrinho do algodão doce que comecei a andar. Três anos após entrei num carrossel e estive tanto tempo a pedalar numa bicicleta que à saída os calções se tinham transformado numa saia ja que as costuras do meio se tinham esfrangalhado para grande desespero da família que me acompanhava. Durante anos as minhas tardes e noites de adolescente foram passadas a andar de carrossel e carrinhos de choque. A feira é por isso uma marca na minha vida. Ja nao a espero com a mesma expectativa, ja não vou ao poço da morte, porque ja não existe. Ja não tiro a sorte na bruxa, mas ainda c...

Feira de S. Joao 2

  Vai começar mais uma Feira de S. João. A feira faz parte da minha vida desde sempre, talvez porque nasci no dia da cidade no ano da inauguração do Monte Alentejano. Nesse dia, enquanto a minha mãe estava no hospital o meu pai levava a mãe dele à inauguração do Monte, integrado na grande exposição do mundo português, tema escolhido nesse ano para a grande Feira da Região. Um ano depois, foi na feira em fuga para os carroceis que comecei a andar. Parece que foi o 1º grande susto que dei à minha mãe e no ano seguinte montei-me numa bicicleta do carrossel com uns calções e só sai de lá quando as costuras abriram e eles se transformaram numa saia, andei horas naquele carrossel. Mais tarde, a feira seria ponto de paragem obrigatória quando saia da escola do Rossio, ali aos 7 anos fiz amizade com Cora, um filhote de urso a quem dava maçãs à mão e com quem rebolava, até ficar com as calças rasgadas, isto até Cora ser presa numa jaula pois já era uma fêmea adulta e não ficava atada ao p...

Tira-me a casca aos s caracóis

  Daqui a pouco a Feira de S.Joao volta a animar a cidade. Voltaremos a escutar as conversar sobre o ter de mudar de lugar, para uns, e manter-se no Rossio para outros. Muitos defenderão que a Feira já não é o que era, outros dirão que uma feira é aquilo e nada mais. Haverá quem ache que esta feira é pior que as anteriores e haverá quem defenda o seu contrario. Há 17 anos que nada sei da feira alem da tasquinha da Associ' arte e este ano não vai ser diferente. Lá estarei de manha à noite a servir petiscos e a confraternizar com os amigos e conhecidos. Com o mesmo espírito de sempre, a Feira é uma festa e há que estar o mais bem-disposta possível, depois de 29 de Junho a vida volta ao normal. Quando a feira fechar, tal como nos anos anteriores terei mais uma historias para relembrar. Hoje partilho convosco uma que me aconteceu ai à uns 5 anos. Véspera de S. João, tasquinha atulhada, chega um senhor muito bem vestido, que me pediu um prato de caracóis e uma cerveja num copo de vidro...

Manifestaçao

  Tive uma amiga que fazia de conta que não via algumas pessoas, segundo ela se não as visse poderia fazer de conta que elas nao existiam. Manias! Uma mania que hoje vi acontecer nas televisões...se elas não falaram dos milhares que foram a Lisboa defender a escola publica, a coisa não existiu e ninguém soube! Sera? Reparem bem...os 80 mil (ou 50, ou 30 digam lá o numero que quiserem) tem pais, o que já dá 240 mil. Vamos supor que metade tem companheiros e dá 280 mil e que 1/3 tem filhos fazendo assim 306 mil. E metade devem ter pelo menos 1 tio casado com um filho também perfazendo 426 mil. E destes pelo menos metade tem um grande amigo, casado e com um filhos, dando assim 545 mil, que por sua vez também tem pais, 1 tio casado que tem 1 filho, chegamos assim a quantia de 865 mil. Ora todas estas pessoas que participaram na manifestação tem pelo menos 1 vizinho e a quantia dá 1.810 pessoas...mesmo feito com numero muito reduzido pelo menos 1.810 mil pessoas souberam que hoje exis...

Fogo

  Estive perante o fogo 3 vezes, sei bem como reajo... quero fugir! Não me importa nada apenas quero sair dali e depressa! a 1ª vez tinha 9 anos, Parque de Campismo da Praia Verde, uma botija de gás rebentou, as saídas dos carros ficaram congestionadas, a minha mãe queria guardar as coisas no carro, o meu pai foi com vários companheiros combater o fogo e eu queria era fugir...gritei com a minha mãe ate me esgoelar...queria porque queria sair daquele calor, daquela cinza que me caia em cima e deixar de ver as labaredas nas copas dos pinheiros...acabou tudo em bem! A 2ª vez foi na quinta nos Canaviais, atrás o eucaliptal ardia o som ensurdecedor, o calor e a cinza dificultavam a respiração, o carro sem poder sair dali e o meu pai de novo a combater o fogo com os vizinhos ( deveria ter sido bombeiro), ele pedia-me que ligasse mangueiras umas às outras e as ligasse ao poço e eu a querer fugir...sim a única coisa que queria era fugir, voltou tudo a acabar em bem! Na 3ª vez em frente ...

corrupçaozinha

  Há uns tempos estive à conversa com uma jovem da minha área que saiu agora da universidade. Estávamos a discutir questões de programação, como eram feitas e como se montavam os festivais e a par das tantas pergunta-me ela " Estas a dizer que nunca recebeste dinheiro ou outra coisa qualquer para colocar este ou aquele grupo num festival ou na tua programação?" NAO, nunca recebi! respondi. Primeiro não soube o que responder, mas logo de seguida lá me disse que isso era comum, que toda a gente faz assim. Voltei a dizer-lhe "toda a gente não...eu não e nao acredito que seja caso único" ainda estivemos a conversar mais um pouco, mas já a sabermos que ela e eu não estávamos na mesma onda. Terminamos a conversa quando eu lhe disse que aquilo era corrupção e ela se indignou porque ela não era o Salgado, lá lhe expliquei que a corrupção tem vários patamares e aquele em que ela estava era um, o do Salgado outro, que se ela tivesse na posição do Salgado a pensar assim, prova...

politica de eventos

  No final do século passado comecei a assistir a uma transformação nos departamentos de cultura do norte e centro. Eram criadas umas espécies de "secções" de eventos. Uma coisa para estourar dinheiro, com muitos foguetes, efémera, que davam protagonismo pessoal aos envolvidos e com pouca estratégia cultural, esvaziando os departamentos culturais da sua matriz. Por essa altura vinha sempre para casa feliz por viver no Alentejo e por ver que por cá essa não era a pratica. A pratica era realmente a cultura. As Câmaras tinham estratégias culturas, recuperavam tradições, cuidavam do património imaterial e edificado, que é o seu papel, e deixavam isso dos eventos com as produtoras. No inicio deste século há medida que as câmaras foram mudando para rosa, esta realidade começou a invadir o Alentejo, em Évora também se fez uma tentativa destas, mas morreu logo a seguir, não sei se por a vereadora ser uma mulher ou se por opção. O que sei é que os eventos de Moda e das telenovelas ra...

A arte e o Julio de Matos

  Quando estava gravida de mim,a minha mae escolheu uma das suas amigas para ser minha madrinha, nao era comum, comum era ser alguém da família, mas ela nao era uma mulher comum e estava decidida a deixar como minha guardia~alguém de quem gostava, caso algo lhe acontecesse. Porem a vida nao quis e uma semana antes de eu nascer, vai fazer 54 anos, a Maria Jacinta deu entrada no Julio de Matos. Passou-se, depois de anos de violência domestica uma noite tentou matar o marido. Segundo ela "estava um monstro la´em casa" e estava. Estava o monstro que lhe batia, que a colocava com os filhos amarada debaixo do tanque em dias de chuva, que a prendia a uma cadeira e a deixava tardes inteiras debaixo dos 40 graus do verao alentejano. Depois de anos de sofrimento, ela passou-se e tentou mata-lo com a espingarda com que ele a ameaçava muitas vezes. Como seu dono,mandou encarcera-la no Júlio de Matos naquele mês de Junho de 66, impossibilitando-a a que fosse minha madrinha oficial. Esteve...

O estacionamento e os passeios

  Podemos empunhar bandeiras, podemos ir a passeatas, podemos fazer discursos bonitos, mas se o que dizemos não fizer parte de nós de nada vale, chega um dia em que deitamos por terra tudo...Porque digo isto? Porque o vi e ouvi... No ultimo dia da bienal de marionetas trabalhei fora e fui a correr para o teatro, como ia já atrasada andei às voltas com o carro e não consegui lugar para estacionar, resolvi sair do estacionamento atrás do Garcia e ir estacionar fora da cidade. Mesmo à saída do parque, um senhor mandou-me abrandar, abrandei, abri o vidro e ele disse-me que podia chegar o carro dele para a frente e eu estacionava atrás, perguntei-lhe onde tinha o carro, indicou-me o carro ao seu lado estacionado em cima do passeio, agradeci mas eu não estacionava em cima do passeio disse-lhe, respondeu-me "eu também não mas hoje tem que ser", voltei a declinar a oferta e sai do parque, não precisei de andar muito, a rua de baixo estava completamente vazia, estacionei ao lado das e...

Feira de S. Joao 2

  Gosto quanto as coisas melhoram, mas elas só melhoram se nós lutarmos por isso. E nem é por mal, é porque muitas vezes quem as faz não se lembra de acautelar tudo, nao vê os problemas todos...ser humano é isto. Vamos então ao facto concreto... Hoje foi o sorteio da Feira para as tasquinhas das associações, tal como já há muito e bem há um concurso, um conjunto de regras e uma classificação dada a cada associação. Depois no dia do sorteio, no inicio era feito um sorteio anterior para se saber quem escolhia primeiro, o que deitava por terra a classificação do concurso, pois uma associação mal classificada poderia ter direito à melhor tasca da feira. Isso foi mudado há uns anos e passou a fazer-se o sorteio por ordem de classificação, melhorou. Porem tinha uma regra estranha de proporcionalidade que fazia com que o Desporto por ter mais lugares, tivesse varias associações a escolher de seguida o que dava muitas vezes que o 2º classificado do social ou da cultura apesar de melhor pon...

Feira de s. Joao

  Estamos a dias de mais uma Feira de S. João no Rossio de S. Brás, o seu local de origem. No terrado por onde tem passado a historia da feira, esta a historia dos seus habitantes. A Feira já foi o centro do Alentejo, já o deixou de ser há muito, mas para os eborenses a Feira de S. João ainda é o ponto alto do ano. Pode não ser moderna, pode ter só meia dúzia de barracas de quinquilharia, pode ser povoada por stand's de automóveis, pode continuar a encher-nos de pó ate à alma, pode até ter um programa cultural que não nos agrade, mas mesmo assim para os eborenses a Feira é a Feira! É aqui que voltamos a reencontrar os amigos que estão longe! É aqui que nos re-encontramos com os amigos da juventude! É aqui que conhecemos os filhos e companheiros daqueles que já não vivem na cidade! E é aqui que vivemos realmente o Rossio, O Jardim e a horta das Laranjeiras! Viver a Feira para quem nasceu em Évora é reatar ano após ano os laços com a cidade! E isto só por si já faz dela uma grande fe...

cromeleque dos almendres

  Hoje foi concretizado um projecto falado há muitos anos e por muita gente. Estão de parabéns a empresa que apresentou a candidatura aos fundos europeus do turismo, a câmara e a junta de freguesia que cederam os terrenos, o turismo e a direcção regional que apoiaram e vão continuar a investir neste Centro Interpretativo do Cromeleque dos Almendres! Este conjunto megalitico, dos mais importantes do mundo, já merecia uma atenção especial que permita não só o seu conhecimento como também a sua preservação! Sim porque é preciso preservar este património milenar que é de todos! E para isso é preciso dinheiro, dinheiro publico que se juntou ao privado e que levou à concretização deste projecto. O cromeleque dos Almendres é um exponente máximo da cultura na região que me é particularmente querido, ali passei muitas tardes a apreciar o por de sol, ali fui muitas madrugadas para ver o seu nascer. Durante a minha adolescência este e o alto de S. Bento eram lugares onde um grupo enorme de a...

Portugal e a escravatura

  Está muita gente ofendida com as declarações de Catarina Martins sobre a nossa historia. Não percebo porquê? Ela diz que um dia teremos de assumir a violência da expansão portuguesa...ficaram ofendidos? Então vão ler as cronicas do tempo das descobertas e verão lá o quanto matamos, saqueamos e usurpamos por todos os lados por onde passamos! Diz que teremos que assumir o nosso papel esclavagista...e é alguma mentira? Quantos navios negreiros portugueses cruzaram os mares com homens, mulheres e crianças aprisionados a caminho do novo mundo para servir de mão de obra escrava. Sim porque no Brasil os povos que ai habitavam não tinham escravos negros, fomos nós que os levamos, depois de os roubarmos no continente Africano onde haviam nascido! Diz que teremos que assumir o trafico Transatlântico...claro que sim, exactamente pelas razões enumeradas acima. Tudo isto está documentado basta ir consultar as cronicas da época ou se não quiserem ler basta olharem para os brasões da maior p...

Trabalho Infantil

  Se eu escrever aqui que ontem foi o dia contra o trabalho infantil. A maior parte de vocês vai dizer que esta triste e ficar solidário com estas crianças! Se eu publicar aqui uma foto sobre o trabalho escravo infantil na Ásia, muitos vão colocar a imagem de choro por baixo desta minha referencia. Mas muito poucos são efectivamente contra! Muito poucos de nós fazem alguma coisa para diminuir este trabalho no mundo! Ja estão irritados comigo? Então cá vai a explicação... Existem milhares de meninos nas minas do congo a trabalhar para todos nós incansavelmente e cada vez são necessários mais meninos nestas minas, Porque? Porque nós cada vez mudamos mais de computador, televisor e telemovel . Queremos o da moda! Queremos o da ultima invenção tecnológica! O velho esta bom, mas ja não faz isto ou aquilo e compramos novo! E eles lá descem ao inferno para conseguir o Cobalto. Só eles cabem nestes buracos da terra. Só eles conseguem retirar o Cobalto que a Apple, a Microsoft ou a Vodafo...

Festas de stº António

  Fez esta noite 42 anos, que participei na organização de um evento pela 1ª vez. Talvez tenha sido ali que a minha vida sem que eu percebe-se tenha tomado o rumo da cultura. a Évora daquele tempo tinha poucas actividades culturais populares, o 25 de abril tinha sido há pouco e tudo o que era popular nao era muito amado pelas gentes da cidade. Um mês antes, numa noite quente de Maio um grupo de miúdos juntou-se no jardim da Rua de Avis para conversar, como fazia habitualmente. E sem se perceber como, no final da noite tínhamos decidido fazer as Festas Populares de Stº António. a escolha do Largo dos Estaços foi óbvia, a maioria morava ali. Deste grupo faziam parte eu, a Vevinha, o Zé Silva, o Zé da Fonte, a Cita, o luis Filipe, o alvaro, o Zé Manuel, a Elsa, o Tó Mané, o Mija, o Nelinho, a Jú,a Toninha e o augusto. Com idades entre os 8 e os 16 anos, tudo nos pareceu simples. E foi. Durante um mês vivemos para colocar as festas de pé.Pedimos autorizações a camara, dinheiro aos co...

oh Evaristo...

  Foi organizado hoje em Évora um encontro para debater as coisas da cultura...fui lá! Chamaram-lhe " Connecting creative ecosystems" ou seja conectando creativos ecossistemas.... 1ª Começamos mal, e desculpem-me os meus amigos da CIMAC que eu muito prezo, mas fazer um encontro em Évora, pleno Alentejo sobre a cultura e batizá-la com um nome em inglês é mau! Esta nossa subserviência à língua inglesa pode ate ser defendida pelos homens do empreendedorismo e das industrias criativas, mas nós os outros, deveremos fazer-lhe frente! Não o fizeram e fizeram mal! E aviso já que nao me interessam as justificações dos quadros comunitários, ou de estarem presentes criadores de outras nacionalidades, ou de esta ser uma área que usa esta língua tecnicamente (quando podia usar o português perfeitamente) nada disto me interessa. As justificações não justificam esta falha para com a nossa língua! Sobre as comunicações propriamente ditas falarei mais tarde, ainda estou a pensar nelas e aman...

Enfrentamos na Praça

  Graça Fonseca hoje em frente ao teatro nao quis enfrentar as duas centenas de gentes das artes que ali estavam Saiu pela parte lateral e desceu em direcção ao largo do Quartel. Tambem nós descemos a rampa, e nao sei como aconteceu vi-me num largo frente a frente com ela. Foi obrigada a ler o cartaz que levava e viu-se obrigada a dizer-me alguma coisa... O cartaz dizia " Nao pagamos as contas com amor a arte" Graça Fonseca disse-me que "estava a trabalhar para que isso se resolvesse" respondi-lhe " Nao se nota nada" ali frente a frente, num dialogo arrogante de parte a parte, olhamos-nos nos olhos! Nao sei o que viu Graça Fonseca no meu olhar, mas sei o que vi no dela... Medo, tristeza e vergonha. a arrogância estava só na posse e nas palavras, como uma capa de protecção. Foi isto que senti naquela praça onde ela estava sozinha, sim porque ela estava só, e eu acompanhada por mais de uma centena. ali naquele instante senti que estamos a apontar as armas...

Hoje fui egoísta, e que se dane

  or ser filha única, o meu pai homem com um sentido de igualdade e equidade que não conheço em muitas outras pessoas, sempre me fez praticar acções que contrariassem o egoísmo natural e justo de quem em casa reinava sozinha. De tal forma o fez, que já na adolescência, a minha mae, mulher um tudo nada dada a essa coisa do "meu" lhe disse "estragaste a gaita, agora nada é dela nunca e passa a vida a pensar nos outros" e assim é. Nada é meu e nada quero a maior parte do tempo, mas há dias em que deixo essa veia que todo o ser humano tem correr solta e digo "que se lixe, sê egoísta hoje". Hoje fui, virei costas a tudo o que estava por fazer, peguei em mim e fui viver a Bienal, andei pela cidade a viva-la e a ama-la e dei comigo a pensar " a minha cidade é a melhor do mundo". Hoje não quis saber se aqui ao lado alguém acha o mesmo do seu lugar de nascimento! Hoje não me importou fazer dela o centro do mundo! Hoje esqueci tudo o que de menos bom ela...

Zuza Homem de Melo

  Quando as forças me começam a faltar, quando a esperança se começa a esvair, quando a luta me começa a pesar eis que surge sempre algo para me dar animo, para me levantar e levar para cima, para me dar coragem e me fazer continuar a caminhada! Quinta feira foi um destes dias, não só pelo carinho dos dois amigos que tive a honra de receber no Armazém 8, Pedro Mestre e Chico Lobo, que quiseram porque sim vir ao nosso espaço dar um espectaculo excelente, não só porque o publico, apesar de não estar habituado a vir à 5ª Feira, veio e encheu a sala, mas também porque tivemos a visita de um dos maiores produtores, jornalistas e críticos culturais do Brasil. Tivemos sorte Zuza Homem de Melo https://pt.wikipedia.org/wiki/Zuza_Homem_de_Mello estava a passar o fim de semana em Évora e sabendo da nossa existência por um amigo veio ver o espectaculo. Há saída deu-nos os parabéns pela qualidade da sala, pelo trabalho técnico, pela bela escolha da programação e pela simpatia... Receber elog...

Os alunos da Universidade e o meu pai

  No final da década de 80 a Universidade de Évora começou a receber estudantes vindos de todo o país. Ainda sem estruturas de alojamento ou refeitórios em quantidade suficiente, era normal os estudantes viverem a cidade e os espaços públicos criando ligações e cumplicidades com os habitantes. O restaurante dos meus pais era por isso frequentado por muitos estudantes, almoçavam, jantavam, faziam festas, iam pedir ingredientes em falta ou mesmo pedir para a minha mae lavar a roupa pois não iam a casa. Durante esse tempo entre eles e os meus pais foram criados laços, cumplicidades, alguns duram ate hoje. Num dos grupos que vivia por lá encontrava-se um estudante de Coimbra, filho de um medico renomado. O pai enviava para o restaurante todos os meses um cheque para pagar a conta. No 3º ano de curso mais ou menos a meio do ano, ele deixou de aparecer para almoçar e jantar, a minha mae preocupou-se e perguntou a um colega. Ficou então a saber que a mae do jovem tinha saído de casa por ...