nao! Dantes não era bom - 2021

 Hoje por aqui, alguns amigos, daqueles que estão no lado oposto ao que eu estou, tem escrito que "dante é que era bom, que Portugal vivia bem, não tinha divida, as pessoas tinham respeito ao poder e aos donos do dinheiro, que a maioria nem sabia que vivia em ditadura, que tinham emprego e por ai vai...

Pois é, eu ate acho que eles acham que tem razão, pois os seus pais eram os empregadores, não lhes faltava nada na mesa e a vida corria-lhes bem.
Percebo-os. e perguntam vocês porque os percebo'
Porque eu também sei a história que lhes contaram.
A minha mãe era filha e neta de donos de terras, foi à escola, tinha roupa nova e nunca andou descalça. Bebia leite condensado que vinha de Espanha pois não gostava de leite de vaca, a irmã foi tratada em Paris em criança e vinham a Évora de Charrete.
Os avós davam emprego a muita gente e ate eram "generosos", ajudavam as viúvas, pagavam funerais e ate emprestavam dinheiros em casos de doença.
Se eu soubesse só esta parte da história, também achava que antes é que era bom. Por isso os percebo.
Mas não, eu sei esta historia, a de meia dúzia e sei a história dos mais de 90% da população.
Sei a historia do meu pai, um menino feito homem aos 5 anos que guardava perus no meio do campo, sozinho, sem agasalho, sem sapatos.
Um menino que dividia com mais 2 a sardinha do almoço, e nesse dia já era bom. Um menino que teve como prenda de natal uma bolinha de banha com açúcar e a quem não era dado o direito de gostar ou não do pouco que tinha para comer.
Ele poderia não saber o que era ditadura, tal como a minha mãe não sabia, mas ele sabia bem o que era fome, frio e sofrer.
Mas sabem o que dói mais neste menino é a resposta que me deu no dia em que lhe perguntei " e sonhavas em ser o quê?" "Com nada, eu tinha lá sonhos, eu queria era que me passasse a fome" já ela sonhava ser enfermeira.
Como podem ver os meus amigos, o Portugal de Ontem, sem dividas, sem corruptos (esta faz rir), não era bom senão para meia dúzia, e nessa meia dúzia estavam os vossos pais, donos de empresas e a minha mãe filha de gente com terras.
Dirao...mas agora também não! Certo, mas também já não temos os meninos a ir trabalhar aos 5 anos de pé descalço e sem roupa para os proteger do frio.
Quanto ao que me separa de vocês, alem de muitas outras coisas é a sorte de ter escutado os dois lados da história do Portugal de ontem e isso fez com que eu sonhe com um País onde ninguém tenha mais direitos que ninguém. Onde o meu neto, que teve a sorte de ter nascido nesta família, seja igual ao neto da minha vizinha que vive em 2 divisões a mãe é empregada a dias e o pai pedreiro, que os dois possam ser aquilo que quiserem e que possam os dois ter condições para isso, só dependendo das suas capacidades e trabalho, porque o meu neto é igualzinho ao neto da minha vizinha! Igualzinho.
Quanto ao País, desejo que o antes nunca mais volte e que nunca mais existam meninos que nunca foram crianças como o meu pai!
Este é o homem a quem tive a honra de chamar PAI, o menino que se forjou a ele próprio, que nunca passou por cima de ninguém, nunca enganou ninguém, nunca traiu ninguém, e que nunca esqueceu de onde veio, o homem que ainda hoje alguém me disse "o seu pai era a melhor pessoa que conheci" e esta frase tem sido a que mais tenho escutado nos últimos tempos ( e não é porque morreu, pois antes já a escutava muitas vezes felizmente) e esta frase enche-me de orgulho no menino da fotografia!
25 de Abril sempre Pai, fascismo nunca mais!
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