a violencia-2022

 Quando era miúda, logo que sai do convento, vinha profundamente violenta, ainda hoje guardo alguma dessa violência que se traduz na forma de conversar, no tom, nas expressões faciais, o que é uma chatice, mas a violência de que falo é a física. Quando algo não me agradava ou não me corria a jeito, eu batia. E batia bem, nunca levei mais do que dei. Aos 12 anos, por uma questão de saúde passei a fazer meditação e essa violência foi sendo compreendida, transformada, cresci e percebi que ela não me levava a lado nenhum (também acho o mesmo da verbal e corporal mas essas são mais difíceis de resolver), ninguém ganha com isso, não se aprende, não se corrigem os erros, próprios ou os dos outros. percebi de tal forma que bati uma vez na minha filha quando era miúda, ela estava a pedi-las, mas correu-me tão mal, parecia uma coisa de bonecos animados que nunca mais tentei. Passei a encarrar a violência física como algo profundamente absurdo, fora do padrão de gente que usa o pensamento e a conversação. Foi por isso profundamente constrangedor ver hoje as imagens de um actor a bater noutro em pleno palco e ficar por isso mesmo. Ele não gostou, bateu! Mas mais constrangida fiquei quando vi que ele ficou na sala e que ao subir ao palco para receber um premio lhe bateram palmas! Foi indigno para o colega que teve que conviver com aquilo. Indigno! Portaram-se todos, organização e convidados de forma indigna de gente que tem uma intervenção social através das artes, ainda por cima! Ali naquela sala e no mundo que assistia, e vai continuar a assistir, banalizou-se a agressão física só porque não se gostou de algo que foi dito. Não, não defendo que tudo pode ser dito, mas se algo que alguém diz e que outro não goste, resultar em porrada, estamos muito mal, é um retrocesso à idade das trevas parece-me a mim.

Quanto ao agredido, tenho para mim que no seu lugar tinha virado as costas a todos, mas isso sou eu que não sou muito de defender coisas que depois não pratico.

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