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Mostrando postagens de fevereiro, 2022

Escolas mistas

  Sou de uma geração de mulheres que já estudou em escolas mistas. Sou da geração das que já frequentavam o café e o cinema sozinhas. Sou da era das discotecas e não dos bailes. Sou da geração da amizade entre homens e mulheres. No meu grupo de amigos, eramos ai umas 12 mulheres e ai uns 20 e tal homens. Amigos de todas as horas, de muitas festas, de ferias nas praias da costa Alentejana, dos festivais jovens de norte a sul do País, das noitadas nas discotecas e dos espectaculos em Lisboa, Faro, Porto, Madrid e Barcelona. De espadelas para o norte de Africa e vistas rápidas a Amesterdão. Sempre em grupo, sempre juntos, homens e mulheres. Descobrimos juntos as novas tendências das artes, as novas teorias da sociologia, as novas descobertas cientificas, as novas linhas filosóficas. Discutimo-las no café, aplicamo-las nas vidas comuns das casas comunitárias que alugávamos, defendíamo-las com garra nas nossas famílias. Com tanta partilha, tanto crescimento e tanta ideia comum, foi nor...

Perdemos o homem do cante

  Évora perdeu o seu Homem do Cante. Joaquim Soares, homem de Beja que deu destaque ao cante por cá. Fundou com outros companheiros do baixo Alentejo o grupo de Cante do Cat da Siemens que depois se transformou no Grupo de Cantares de Évora. Isto num tempo em que o Cante não era moda, num tempo onde cantar à alentejana era coisa de gente do campo e do Baixo Alentejo. Mas a sua paixão por esta forma de cantar, por esta marca cultural de um povo deu-lhe coragem para iniciar um caminho duro, difícil e muitas vezes mal tratado. Joaquim Soares nunca esmoreceu. Recolhia as modas, ensaiava o grupo, tratava das apresentações publicas, organizava as viagens e preparava dos discos. Sempre com o objectivo de divulgar e ensinar a cantar à alentejana. A juntar a isto, a sua alma inquieta permitia-lhe aceitar participar em projectos diferentes do tradicional, a fazer novas experiências com o Cante, também num tempo em que não era moda. A primeira experiência que partilhei com ele neste format...

Os nossos maiores tão mal amados

  sábado fui ao lançamento de mais um, dos belíssimos livros, do meu amigo Francisco Bilou, que me tem dado a honra de fazer parte de alguns projectos que tenho feito, desde o longínquo dia em que o nosso e saudoso,amigo José Melo nos apresentou. Mais uma vez não me desapontou, o livro merece a nossa atenção e é um registo meritório não só sobre o importantíssimo artista Nicolau Chanterene e a obra que deixou na cidade, como também da importância que Évora teve no passado, não só como ponto estratégico e politico mas especialmente como pólo cultural da Europa. Corroboro mesmo as palavras do Dr. Manuel Branco, que apresentou o livro, quando afirmou que Évora já foi a Capital Europeia da Cultura, a historia está ai para o provar. O artista em questão criou aqui nessa época uma obra vasta, de grande beleza estética, para alem de ter deixado um legado artístico único. Bastava só o registo para memoria futura, para este lançamento já ter tido grande importância para a cidade e a compr...

o homem da radio

  O Manuel Mourinha foi enterrado ontem. Com isto perdi mais um amigo. Foi meu técnico na radio Meridional e depois na Telefonia durante anos. Era um ser humano particular, não se dava a conhecer a toda a gente mas quando gostava de alguém era capaz de falar horas infinitas sobre tudo...nunca percebi como sem ter net, televisão ou estes meios novos sabia tanto sobre tanta coisa...tinha realmente um cérebro privilegiado. Mas o que admirei sempre nele foi a sua liberdade para viver como quis, sem ligar a nada ou ninguém. Vivemos muitas historias, umas mais engraçadas que outras deixo-vos aqui algumas ... Quando a 1ª Guerra do Golfo rebentou estávamos, eu, ele e a Midus de serviço. As noticias chegavam via telex da lusa. Primeiro 30 mortos, depois 58 e a dada altura ele foi ao papel do telex riscou o numero que lá estava escrito e colocou 10 mil mortos."Então Manel disse eu aflita?" Resposta pronta e tranquila "ou bem que é guerra ou não vale a pena apavorar as pessoas!...

A miseria escondida

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  Quando adolescente estudei a história dos Estados Unidos da America, descobri nessa altura que a grande maioria dos candidatos compravam historias de vidas duras, difíceis e sofredoras para os seus antepassados, isso acontecia porque dava votos. Lembro-me que na época pensei que era exactamente o oposto do caso português, por cá o importante era nunca se saber que os nossos antepassados foram pobres ou passaram necessidades, isso não dava credibilidade. Mas também me lembro de ter percebido a sorte que tinha de ser filha de um homem que não escondia a sua origem. Foi talvez por estas descobertas que passei a contar a historia do meu pai. Ora quem me conhece e o conhece, muitas vezes pode achar que as historias estão empoladas, que a sua miséria e a sua vida é por mim contada de forma romanceada, eu percebo se assim pensarem, se o conhecesse hoje e ele não fosse meu pai talvez também o pensa-se. É por isso que já tenho falado de uma fotografia dele e do irmão quando crianças a vá...

a radio

  A radio entrou na minha vida por acaso, no tempo em que as rádios locais eram piratas. Nunca pensei nela como carreira, afinal fazer radio era uma coisa lá para Lisboa. reconheço que quando me convidaram, devido a esta minha voz grossa, achei que não dava para a coisa. Falava pouco, era muito tímida e achava que não tinha nada para dizer. Mas la me convenceram...a voz a juntar ao conhecimento da musica brasileira, fizeram a minha entrada neste mundo novo. E ainda bem...com a radio venci a timidez, aprendi a falar sobre vários temas (que pesquisávamos exaustivamente), aprendi a defender pontos de vista, a fazer entrevistas, reportagens e muitas outras coisas. A radio transformou a minha vida e transformou-me! Tornou-se numa paixão, que virou profissão e que tive de deixar porque não me dava para viver e porque deixou de ser LIVRE! Mas é ainda hoje a minha paixão! Se um dia ficar rica, sei que vou montar uma radio, onde possa fazer os programas de qualidade que quero e com a liberd...

a radio " Ontem era assim"

  A radio foi a minha grande paixão. Durante anos fiz programas que amei, mas um dos que mais prazer me deu, apesar de ser muito trabalhoso ( não havia internet e a informaçao estava nos arquivos distritais) foi o "Ontem era Assim"! O programa era dividido em 2 partes. Na 1ª passava-se a musica que fez historia no mundo na década de 60. Depois tínhamos um espaço noticioso internacional e nacional, também alusivo à década em questão e na 2ª parte passávamos as musicas que marcaram Portugal nos anos 60! As diferenças eram abismais! Um mundo a duas velocidades! Amei fazer este programa e a audiência era enorme! Hoje que se assinala o dia da radio deixo-vos um exemplo de como seria! Musica da 1ª Parte https://www.youtube.com/watch?v=P615vAhkUlU Noticiário "Franklin McCain, um negro que ousou pedir café no balcão errado da América, Foi um dos pioneiros da luta contra a segregação racial. Em 1960, ele e outros três estudantes sentaram-se num snack-bar reservado a brancos em G...

a provação dos meninos pobres

  9 anos, Herdade de Pinheiros, 15 km de distancia de casa, a pé descalço, com uma blusa leve e umas calças pelas canelas, um menino é contratado para guardar ovelhas. Em troca, um garrafão de azeite, uma saca de farinha, meia arroba de azeitonas e 1 arroba de batatas, ao ano. O pagamento tinha varias condições, não deixar fugir nenhuma ovelha, só ir a casa uma vez por mês e não ter queixas do feitor. E o trabalho começa, os borregos recém nascidos, colocados a dormir dentro da cabana ajudam a aquecer nas noites gélidas de inverno, Piloto o cão, ajuda na tarefa especialmente por volta das 5 da tarde, hora de ir à herdade fazer a única refeição do dia. Os meses passam, nas idas a casa o aviso de que cumpra tudo o que está acordado com o patrão para trazer para casa os alimentos sem nenhuma falha. Está decidido a cumprir, a honrar a palavra do pai. Mas a vida complica-se, o feitor quer colocar no seu lugar um outro menino, começa a trazer mais ovelhas que as acordadas, fica dificil...

Os jeitinhos do funcionario publico

  Em conversa com um funcionário de uma câmara com a qual ja trabalho há alguns anos, fiquei a saber que este ano só gastaram 300€ com o Carnaval lá do burgo. Estava este jovem muito contente por terem conseguido fazer a actividade com a população, os funcionários camarários e sem custos. Realmente é de louvar o empenho de todos. E dizia-me ele, assim conseguiria melhor nota no final do ano. Pois percebo...cada um faz por si. Os presidentes querem os orçamentos mais pequenos, com as mesmas ou mais actividades, os funcionários precisam de desenvolver actividades cada vez melhores com menos dinheiro e por isso a solução em vez de ser exigir do governo mais condições é colocar outros para trabalhar de borla! Quer seja as populações, quer sejam funcionários camarários que apesar de não serem essas as suas funções dão um "jeitinho" e fazem as coisas. Isto estava tudo bem se com esta solução nao se estivesse a tirar trabalho aos profissionais das áreas envolvidas! Quando se fazem...

sonhos por concretizar

  O Luis Garcia partilhou a foto da Fabrica dos Sacos com a frase "Sonhar não Custa" eu sei o que ele sonha e, era um sonho lindo...o problema é que já muitos o sonharam, alguns ate antes dele ter vindo para Évora... Teria pr'ai uns 12 anos sonhou Mário Barradas um centro cultural, ali por trás do teatro Garcia de Resende! Quando eu tinha 15 anos, o vereador da altura sonhou com uma Casa da Cultura na zona dos Salesianos! Tinha eu uns 19 anos, um grupo de pensadores da cidade sonharam uma zona cultural para os lados das Portas de Machede! Com 22 anos fiz uma entrevista ao então presidente da câmara e ele sonhava com um grande espaço de cultura para a zona do Rossio. Exactamente no dia em que fiz 29 anos, assisti a uma conferencia compostas por "forças vivas da cidade" em que estes sonhavam com um espaço todo dedicado às artes na zona da Rua de Avis! Já entrada nos 30 o próprio Luís sonhou com um espaço cultural que integrava a Fabrica da Musica( foi quando estiv...

Os imperios

  A historia esta cheia de impérios que se formaram e impérios que caíram. Nós próprios, este pequeno país já fomos um império. Mas como tudo, eles tem um principio e um fim. E quando um império entra em declínio é porque um outro esta em ascensão.. Tanto um como outro se colocam no tabuleiro rodeado por aliados e se de gladiam sem se preocupar com os peões que vão tombando. Claro que nestas guerras de titãs nunca se diz a verdade sobre as lutas. Tomando-nos como exemplo, nós não entramos por África a dentro dizendo que queríamos as suas riquezas, munimos-nos da bandeira da cristandade e fomos salvar os hereges dos seus pecados mortais. Mas a verdade é que queríamos o ouro, as especiarias, as terras férteis do continente Africano e de outras partes do globo. E porque arranjamos este subterfúgio? Porque de outra maneira não conseguimos o apoio das populações ou de alguns aliados e só com eles do nosso lado teríamos a hipótese de ganhar as batalhas e criar o Império Português. E f...

A escola

  Ha dias saiu a lista dos rankings das escolas, uns dias depois o meu amigo Mário Simões escreveu um artigo sobre uma antiga professora nossa. As duas coisas levaram-me a pensar a escola e estas coisas da aprendizagem... Desde que me lembro que a escola me aborrecia, não gostava de estar lá presa, de aprender o que tinham decidido, de ter de saber coisas que nao interessavam a ninguém e que não serviam para nada, tinha muitas perguntas que ficavam sem resposta mas, vivia a querer saber. Foi esta ânsia de saber que me levou há biblioteca publica. Uns assuntos levavam a outros, uns livros puxavam outros e eu ia descobrindo mundos novos. Mas porque também tinha que frequentar a escola lá lia o que diziam os manuais escolares e fazia os testes e exames correspondentes...esses tinham sempre nota máxima, fossem de matemática, francês, latim,historia, física, biologia o pior sempre foi o raio do Inglês...o porquê era simples decorava com facilidade, o que lia ficava memorizado durante u...