Perdemos o homem do cante

 Évora perdeu o seu Homem do Cante. Joaquim Soares, homem de Beja que deu destaque ao cante por cá. Fundou com outros companheiros do baixo Alentejo o grupo de Cante do Cat da Siemens que depois se transformou no Grupo de Cantares de Évora. Isto num tempo em que o Cante não era moda, num tempo onde cantar à alentejana era coisa de gente do campo e do Baixo Alentejo. Mas a sua paixão por esta forma de cantar, por esta marca cultural de um povo deu-lhe coragem para iniciar um caminho duro, difícil e muitas vezes mal tratado.

Joaquim Soares nunca esmoreceu. Recolhia as modas, ensaiava o grupo, tratava das apresentações publicas, organizava as viagens e preparava dos discos. Sempre com o objectivo de divulgar e ensinar a cantar à alentejana. A juntar a isto, a sua alma inquieta permitia-lhe aceitar participar em projectos diferentes do tradicional, a fazer novas experiências com o Cante, também num tempo em que não era moda. A primeira experiência que partilhei com ele neste formato foi o Cante Novo, uma junção entre o Cante Alentejano e os instrumentos de Sopro dos Macacos das Ruas de Évora. Um espectáculo memorável onde a junção dos dois grupos improváveis provou que a beleza do Cante Alentejano ultrapassa a forma espartana do grupo coral. Claro que esta experiência só foi possível porque o mestre estava muito há frente do seu tempo e tinha a coragem de "dar o peito às balas". Foi exactamente com esta produção que a nossa amizade se consolidou. A nossa paixão pelo Cante uniu-nos para sempre.
Évora hoje ficou mais triste, a cultura mais débil e o Cante mais pobre e eu perdi um aliado e companheiro de conversas sobre as modas.
Joaquim Soares partiu hoje, sei que outros ficam a tomar conta do cante por cá, mas desculpem não é a mesma coisa!
Hoje Joaquim Soares cantou "Vamos lá saindo"

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