cavalo a prenda de Natal

 agora que se aproxima o natal, deixo-vos uma historia e um pedido, deão aos outros o que eles querem, se souberem, e não o que vocês querem. Dar prendas é um acto de carinho.

a minha mãe passou o 1º Natal com os pais quando ja´ tinha 8 anos, antes passava-o com os avós maternos e 6 tios solteirões na aldeia, com quem vivia desde que tinha nascido, não importa agora porquê. Como no resto do ano, no Natal eles enchiam-na de mimos e de todas as prendas que ela queria e outras que nem sabia que queria, afinal era a sua princesa. Quando fez 8 anos o irmão, mais novo 3 anos, convenceu-a a ir viver com ele, os pais e a irmã mais velha para a herdade na Serra d'Ossa, passando por isso la´ o seu 1º Natal. Da aldeia vieram na véspera os avos e os tios. Passaram a consoada e no dia 25 de dezembro, era nesse dia de manhã que se abriam as prendas, foi abrir as imensas prendas que lhe tinham trazido. Quando já todos tinham desembrulhado as prendas, o meu avó António, pai dela disse-lhe que faltava a dele, estranhou ja´ que ele nunca lhe dava prenda, mas como toda a menina animou-se. ele levou-a ao terreiro que ficava em frente da casa e la´ estava a prenda de Natal. assim que a viu começou a chorar, um cavalo preto enorme, a minha mãe tinha ( ainda tem) pânico de cavalos, mas aquela era a prenda do pai. Chamado a´ atenção pelo sogro, não se demoveu, o cavalo era para ela ir para a escola, no ano anterior tinha dado um a´ outra filha, iriam agora as duas de cavalo, não fazia sentido uma das suas filhas ir de burro para a escola., isso era para filhas de gente sem posses Ela chorava, os familiares pediam para ele não insistir, mas não teve como. O cavalo ficou e logo que as aulas recomeçaram, todos os dias de manha a colocavam em cima dele, numa briga em que ela perdia e la´ ia para a escola a chorar todo o caminho ao lado da irmã, que a gozava, visto que nao tinha medo de nada. a` volta, como não havia quem a obrigasse a subir no cavalo, vinha a pé ao lado dele, demorando horrores e brigando com a irmã que tinha que vir devagar: Chegada a casa nova briga com o pai, a mãe pedia para que aquilo acabasse, que deixasse a miúda ir de burro, mas nada. Porem um dia ele disse uma frase que ela levou a´ letra " Eu dei-lhe o cavalo de prenda é dela, quer queira quer não"! Ora bem, pensou a minha mãe, o cavalo é meu, foi uma prenda, então esta´

resolvido...No outro dia, depois da briga da manha para a porem no lombo do bicho, do choro do caminho, no regresso ela chegou de burra. Tinha trocado o cavalo com uma amiga pela burra da outra: O pai espumou de raiva, estava pronto para lhe dar uma sova e depois ir desfazer o negocio, segundo ele absurdo, quando ela lhe disse " o cavalo era meu, deu-mo de prenda, tirar uma prenda é pecado e eu fiz dele o que quis, troquei-o" Deixou o homem sem palavras, aquilo dito a´ frente dos empregados era complicado. a minha avó, reforçou a coisa e o meu avó teve que aceitar. O cavalo era dela ele não podia desfazer o negocio. Mas como nunca deu o braço a torcer, declarou que a partir daquele dia ela não ia a´ escola de burra, fosse como quisesse mas de burra nem pensar. apesar de se não se darem la´ muito bem, o facto é que eram muito parecidos, se ele era torto, ela não era menos, decidindo por isso passar a ir para a escola a pé 5 km e assim foi ate ao final do ano, voltando de novo para casa dos avos e para a escola na aldeia. No meio disto quem mais se chateou foi a minha madrinha, a irmã mais velha, que tinha que sair de casa 1h mais cedo de manha para ir no cavalo ao lado dela que ia a pé.

Não fiquem a pensar que a minha mãe aprendeu com este seu drama, não, tal como o pai ao longo da vida só me da´ o que quer, felizmente nunca lhe deu para me dar um gato, senão teríamos repetido a historia. Já eu, aprendi com a historia que me contou vezes sem conta, só dou o que sei que as pessoas gostam, vendo sempre sorrisos e nunca lagrimas felizmente.