O avô Inácio

 A minha família sempre viveu com pressa. Somos gente que tem sempre muita coisa para fazer. E por isso, por mais que nos vejamos muitas vezes temos sempre pouco tempo para contar historias. A noite de Natal e o dia de anos do meu pai são a excepção. Ai, ninguém tem pressa e existem sempre historias para partilhar. Este ano tive mais uma revelação... A minha mãe é sacaia, talvez não saibam mas este é um tipo de alentejano particular, são gente que trabalha muito, com grande tendência para os negócios e que gostam de ter dinheiro. Ora com esta conjugação era normal que fossemos ricos, mas não somos. Este Natal descobri porque? e fiquei contente! O avô da minha mãe ( que a educou) era negociante e a sua mulher também. Gente com casas, terras e uma vida muito boa, tinham por isso dinheiro para comprar o que quisessem. Mas o meu bisavô, de cada vez que iam à Feira (porque naquela época comprava-se nas feiras) e os filhos ou a mulher escolhiam uma coisa cara, dizia -lhes como quem não quer a coisa " Com esse dinheiro comprávamos uma saca de Feijões para a D. Maria, que o marido esta invalido!" ou " com esse dinheiro comprávamos 1 cabra para a D. Benta, que o marido morreu e os filhos são pequenos" e arrematava, vá comprem lá o que quiserem! Ora os filhos e a mulher ficavam incomodados com o dinheiro mal gasto e compravam só o que precisavam e do mais barato. No fim do dia, ele via o dinheiro gasto e o resto gastava-o a comprar mantimentos para as mulheres necessitadas da aldeia. Chegados a casa, mandava levar tudo a casa de quem de direito, eram os mais novos a ir, para se habituarem a dar. Ninguém lhe podia ir agradecer, pois segundo ele não fazia mais que a sua obrigação. Quem tinha mais ajudava quem menos tinha e já estava! Depois em casa e já descansados e lavados rematava sempre da mesma maneira " As coisas não nos fazem felizes, o que nos alegra são os sorrisos dos nossos" . Para ele, os homens e mulheres da sua aldeia eram os dele, e se eles estavam bem, ele estava feliz!

Conheci muito mal o meu avô Inácio, mas lembro-me de gostar muito daquele velhinho que estava sempre sentado à Lareira a tremer e a contar historias. Hoje gosto ainda mais dele... não me deixou uma fortuna, mas deixou-me uma optima raiz!