licença de maternidade
Hoje por causa da noticia das duas mulheres que mostraram aos médicos que ainda amamentavam a minha mãe, mulher que não é dada a muitas historias, contou-me duas que protagonizou. No ano em que nasci saiu a lei que dava às mães um mês para estarem com o bebe recém- nascido. Quando me teve, mandou entregar a minha certidão na fabrica e ficou em casa durante um mês. Finalizado o prazo foi trabalhar. Chegada lá, o chefe disse-lhe que estava despedida porque tinha abandonado o trabalho durante um mês. Ela respondeu que não, tinha estado com licença de maternidade. O bom do homem respondeu que ali a lei não interessava para nada...A boa da minha mãe saiu da fabrica direita ao tribunal de trabalho e depois de explicar à técnica o porquê da sua visita, na hora a funcionaria entrou em contacto com o patrão que a mandou regressar ao trabalho. E o caso ficou por ali. Na mesma lei tinha sido dado a todas as mulheres que amamentassem 1 hora por dia. Como vivia perto do trabalho saia meia hora de manha e meia hora à tarde para me dar de mamar. Uns meses depois o mesmo chefe foi junto dela dizer-lhe que a apalpadeira (para quem não sabe uma apalpadeira era uma funcionaria que à hora da saída apalpava as colegas para ver se não levavam nada escondido) ia ver se ela tinha leite ainda. Ao que a minha mãe respondeu "era o que faltava. Faça isso e faço queixa de si ao tribunal." Sabendo que ela não falava em vão virou-lhe as costas, não antes de a minha mãe lhe dizer que quando deixa-se de amamentar ela própria o informava. E o caso terminou. Estas duas historiam, foram vividas pela minha mãe na década de 60 em pleno fascismo. Uma mulher que não se metia em politica, que não tinha acesso à informação, que cumpria os seus deveres mas que não deixava que lhe tirassem nenhum direito. Hoje, em plena democracia, num tempo onde todos temos acesso à informação, numa altura em que deveríamos saber dos nossos direitos, nós abdicamos deles de bandeja. Não reclamamos e aceitamos ordens idiotas. Hoje nós deixamos que os direitos que tanto custaram a alguns conseguir, caiam por terra. É natural que mulheres como a minha mãe se sintam desiludidas com as mulheres que se deixam acuar e obedecem a ordens sem sentido! E se a desculpa é medo de ficar sem emprego...ela também o tinha!
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