Mara -2025

 Hoje vou falar-vos de uma pessoa que conheço há muitos anos, ela não gosta que se fale dela, mas não há como não o fazer, já que é um dos nomes maiores da cena artística do Alentejo. Quando a conheci reconheci-lhe um talento natural e acima da media para cantar. Era muito nova mas uma das maiores vozes da região, trabalhamos juntas algumas vezes, depois as nossas vidas tomaram caminhos diferentes e deixamos de nos cruzar. Há 2 anos os nossos caminhos voltaram a fazer-nos encontrar. A jovem cantora, tinha-se tornado uma cantora de corpo inteiro, com um poder vocal único, com uma carreira muito bem traçada, definida para o que lhe dá prazer e que contribua para a região. Mas encontrei mais que uma cantora, encontrei uma maestrina incrível, mesmo ela não gostando do termo, é o que é naturalmente.

Alias, tudo nela é natural, a forma como canta, como coloca a cantar gente que nunca o fez, como lidera gente de varias idades, de vários credos, de varias crenças, como se move e nos faz mover. É-lhe inato. Vem-lhe da alma, do coração, porque ha coisas que não se aprendem. E foi essa mulher de garra, de fibra, que sonhou juntar quase 100 vozes de gente anônima, que só gosta de cantar, com uma Orquestra de excelentes músicos profissionais, a Orquestra do Alentejo. Sonho ambicioso, arriscado, trabalhoso. Durante alguns meses, entregou-se de corpo e alma a esse sonho. Pegou-nos na mão, conduziu-nos nesta viagem, apostou todas as suas fichas de que íamos dar conta do recado. Ensaiou-nos com mão de ferro, mas com o carinho que só quem sonha consegue ter. E se isso já era tarefa hercúlea, pegou em musicas de nomes maiores do cancioneiro português e depositou nas nossas mãos palavras belas, repletas de mensagem de Abril, Liberdade e Amor, apostando mais uma vez que as trataríamos com o mesmo afeto com que ela as tinha escolhido. Demos, cada um de nós o nosso melhor, entregamos de corpo e alma a esta junção por ela sonhada, Vozes de Abril com a Orquestra do Alentejo, fizemo-lo porque nos dá prazer cantar em grupo é certo, mas especialmente porque era nossa obrigação retribuir-lhe o carinho com que nos acolheu, com que nos ensinou, com que nos guiou. Ontem, ali naquele palco, seguindo as sua indicações, perto de uma centena de pessoas, percorreram de mãos dadas, de coração cheio de afecto o caminho que a nossa maestrina Mara nos indicou, aquele que alisou para que pudéssemos percorrer sem cair, sem tropeçar. Na nossa frente, a cantora a maestrina, agigantou-se, e podemos ver nós, e todos os que estavam na praça, uma força da natureza a conduzir mais de 100 pessoas pelo mundo das canções escolhidas para levar à nossa Praça Maior. Ali, naquele palco, na nossa frente, vimos nós e todo o público, o amor pela musica, pelas palavras, pelos acordes que a nossa maestrina transporta.
Ontem, pela mão da Mara cantamos o povo alentejano, os sonhos lindos, a cantiga que é uma arma e a Liberdade, cumprindo Abril.
Sei que todos os meus colegas de jornada concordam comigo, mas nada do que ali aconteceu poderia ter acontecido sem a Mara, por isso obrigado Mara, por tudo o que nos deste neste caminho e na noite de ontem! Estamos todos juntos de coração repleto de amor e não há emoção maior que essa!

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