a madeirense-2024
As noticias recentes da Madeira, fizeram-me recordar a Madeirense. A Madeirense ( nunca lhe soube o nome, pois todos a chamavam assim, e era por esse nome que respondia), era uma mulher muito bonita quando a conheci, alta, encorpada, com feições finas, de corpo esbelto, teria ai uns 18 ou 19 anos, e morava numa pensão da Rua do Raimundo, das que antes do 25 de abril eram morada das prostitutas mais procuradas. Veio da ilha pela mão de um chulo, que a largou pouco depois. Pouco tempo depois de chegar engravidou de um dos seus clientes e a vida tornou-se mais difícil. A Mé, minha mãe da casa, mulher de um coração de ouro, brigava com ela, para que arranja-se outra profissão, mas com pena do bebê e da mãe, ia ficando com a pequena, quando a mãe saia para ir trabalhar, ou era isso ou ficar o pequeno ser sozinho no quarto da pensão. O seu amor pela criança, fez mesmo com que convencesse o marido a ser padrinho da menina. Mas avancemos, a Madeirense, era na altura a única mulher daquela idade, nova na minha ideia tendo em conta o nível etário da zona, a única que não sabia ler nem escrever. Tinha tido uma infância muito infeliz, numa família muito pobre e onde a criminalidade passava de geração em geração, não tinha ido à escola e tendo encontrado na prostituição, que era na época enorme na ilha, a sua forma de vida. Apesar da profissão pouco católica, todos reconheciam que era trabalhadora, queria uma vida melhor e lutava por ela com as armas que conhecia. Quando se deu o 25 de Abril, e as conversas politicas era o pão nosso de cada dia na Taberna do Cachatra, víamo-la muitas vezes a discutir com gente do MDP, com sede logo abaixo da pensão, eles a defenderem um caminho para o pais, e a Madeirense a defender o Dr. Aberto Jardim, o santo padroeiro da sua terra, o homem que ia fazer da Madeiras e de todos os madeirenses, homens ricos. Um dia, enfurecida a minha mãe perguntou à Madeirense, "não tens nada de teu, para que estás a defender os ricos" a resposta foi pronta "porque um dia posso ser rica e não quero dividir com ninguem". Esta frase foi muitas vezes usada pela minha mãe ao longo da vida, quando alguém pobre decidia votar nos partidos que defendem os ricos. A Madeirense, morreu nova de sífilis, deixou 2 filhas pequenas e nunca deixou de ser pobre, mas sempre que ia votar, votava no partido do senhor Dr. Alberto Jardim, o único politico que respeitava. Se hoje a Madeirense fosse viva, era capaz de dizer como já escutei outros a proposito dos casos de dinheiros sem justificação, " Quem mexe no mel sempre se lambe" , justificando desta forma, quem ao longo dos anos tem roubado, agora mesmo à descarada, o dinheiro do erário público, a justificação da aceitação destes casos é exactamente como disse a Madeirense à minha mãe " se um dia forem ricos e poderem colocar a mão no que não é deles, irão faze-lo". A Madeirense, não sabia ler nem escrever, mas percebia bem os que não são ensinados a pensar.
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