tenho dado umas gargalhadas - 2021
Nós somos fruto do que nos é natural à nascença e do que adquirimos na nossa própria caminhada.
Temos vícios, manias, imperfeições, falhas, obsessões, defeitos, virtudes, qualidades, atributos que vamos ganhando ou perdendo à medida da nossa passada pela vida.
Todas estas características têm, claro está a influencia do mundo e dos outros, pois ninguém é uma ilha.
A minha mãe foi uma mulher de carreira, por esse motivo de cada vez que eu adoeci, todos adoecemos, ela ia comigo ao médico, como todas as mães, depois deixava-me enquanto criança aos cuidados da minha mãe da casa e quando a idade já mo permitia aos meus próprios cuidados até que a maleita passasse. A exceção foi o dia da minha operação á garganta tinha eu 8 anos, nesse dia nenhum dos meus pais foi trabalhar, levaram-me ao Dr. Pimenta e passaram o dia a dar-me gelados e canja fria. Mas no dia seguinte a vida continuou, eles foram para a fabrica, eu fiquei em casa com o frigorifico cheio de gelados e de sopa gelada, com a indicação de comer de 3 em 3 horas.
Foi por isso natural aprender a cuidar de mim enquanto doente, tal como fazia quando estava boa. Esta forma fez-me desenvolver esquemas para não precisar de ajuda. Tornou-me muito independente e forçou-me, sem drama, a não dar grande importância às maleitas.
Cresci, e esta forma já estava colada à minha pele, fazia parte de mim. É-me por isso muito custoso que quando adoeço andem de volta de mim a perguntar o que preciso ou se quero ajuda. Sei que quem o faz, o faz com a melhor das intenções, sei que o faz por amor por preocupação e agradeço, mas não o sinto necessário, aceito-o para fazer feliz quem o pratica.
Ora neste momento estou um pouco debilitada, acontece que a minha mãe vive cá em casa e pela 1ª vez tem tempo para cuidar da filha doente, quer fazê-lo o que torna a coisa engraçada, uma mulher debilitada, de moletas a querer tratar da filha . A andar atras de mim para comer, a perguntar o que pode ajudar, a tentar solucionar coisas que nem precisam de solução, a perguntar pelos comprimidos…enfim um rol de preocupações desnecessárias até porque a doença é corriqueira e só precisa de tempo.
Eu que não estou habituada a este tipo de tratamento, fico um pouco incomodada, o que queria mesmo era ter sossego, impossível neste contexto, mas vejo-a tao concentrada num papel que nunca desempenhou, vejo-a tao focada em ser minha cuidadora, que relevo e a deixo ser um pouco feliz no desempenho desta nova função, para a qual por falta de experiencia não tem grande apetência e que por falta de mobilidade me dá ate mais trabalho do que se ficasse só à espera que eu resolvesse as minhas pequenas questões.
É até engraçado de ver, se a minha mãe da casa cá voltasse ia achar graça ao esforço. Eu tenho dado umas boas gargalhadas á conta desta sua tentativa de mudança.
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