morreu o tio joaquim- 2023
tinha 4 anos quando lhe nasceu o irmão novo. O irmão mais velho tinha 8 anos, já estava no campo a trabalhar, o de 6 e anterior a si, ao saber do novo bebé, viu nele mais um para dividir o pouco pão e disse "eu não quero saber, não o trato" ele abeirou-se do berço, fez-lhe uma festa, deu-lhe um beijo e respondeu "eu trato de ti maninho". Assim foi toda a vida. Tratou desse e dos 2 que se seguiram. Com 4 anos trocava-lhe os panos ( fraldas da época) deixava-as para a mãe e a avó lavarem quando chegassem a casa, mas um dia, o bebe estava mal da barriga, e mal lhe trocava um pano, ele sujava-o, brigou-se com ele e deu-lhe uma nalgada. Foi a sua primeira nalgada, foi-lhe dada pelo irmão. A historia ficou e era contada por ambos com o humor que só eles tinham. Também foi ele que lhe dava as açordas, debaixo do sobreiro ou da oliveira onde a mãe os deixava enquanto trabalhava, para os ter debaixo de olho. O bebê custava a comer, a ele a barriga doía-lhe da fome, resolveu o problema, uma colher de açorda para o bebé uma para ele, tinha assim rancho melhorado, isto até a mãe dar por isso e lhe ter dado uma sova, por não ajudar a medrar o irmão. foi a 1ª sova que levou por culpa do bebé, historia também recontada ao longo dos anos. Um menino a cuidar de outro menino, o menino de 4 anos, fez crescer o bebé que se tornou no irmão que o seguia para todo o lado, aprendia-lhe os gestos, as falas, a forma de estar e ver a vida, obedecia-lhe como obedecia ao pai ou à mãe. Aos 5 anos o petiz foi trabalhar para o campo, era lá que passava meses a tomar conta dos perús, era o irmão de 7 anos que lhe ia levar o comer, buscava o seu em casa, passava pelo trabalho do irmão e deixava-lhe o dele, evitando ao pequeno mais 2 caminhadas de quilômetros. Era franzino o irmão, dizia, não pode andar tanto, eu faço isso e fazia. Ao longo da vida foi o exemplo em que o bebé se espelhou, se o irmão dizia estava dito. Ao longo dos anos, foi dado cascudos, foi dando conselhos, foi ajudando, o bebê e os outros todos. Sem perceber, sem querer, sem ser sequer indicado para o cargo, um dia viu-se como o bastião da família. Era ele que resolvia as questões mais difíceis, era ele que dizia presente primeiro em qualquer circunstancia. O bebé cresceu, tomou o rumo da sua vida, mas se o irmão chegava e dava uma opinião, ouvia-o. Podia até nem fazer o que ele queria, mas escutava-o, como escutou pouca gente na vida. A vida decorreu, umas vezes era um que ajudava, outras o outro, mas seguiam próximos, desabafando um com o outro, refilando um com o outro. A reforma chegou para ambos e todos os dias ligavam, ou um ou outro, queriam escutar-se, falar do juventude, dos canaviais, ou só contar uma piada que tinham escutado no café.
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