D. Camila
Nos últimos tempos a minha filha tem-me trazido á memoria a D. Camila. A D. Camila era uma senhora baixinha, gordinha, muito brancas e loura, de uma educação impecável, nascida em Cacilhas casou com o Sr. Francisco. Um homem muito alto, muito magro, muito negro e muito educado também, que usava sempre um fato branco muito bem passado, umas camisas pretas onde se destacavam gravatas colorida. O Casal tinha vindo para os Canaviais ainda eu não tinha nascido e comprou uma quinta enorme, que ocupava quase todo o bairro. A Quinta do Preto, como era conhecida. A quinta tinha criação de porcos, vacas, cabras, hortas e pomares enormes. Era uma grande exploração agrícola com muitos funcionários. Enquanto o Sr. Francisco se dedicava ao comercio dos produtos agrícolas entre idas e vindas das suas viagens á África onde tinha negócios, não sei bem de quê, a D. Camila dedicava-se a controlar a quinta. Logo pela manha vestia as suas calças de fato de treino, envergava as suas botas de borracha, as suas luvas e lá ia dedicar-se às lides agrícolas, dar de comer aos porcos, tirar leite das vacas, carregar produtos no seu carrinho de mão e fazia todas aquelas atividades com um sorriso no rosto. a meio da manha parava o trabalho para dar ordens às criadas e colocar as coisas da casa em ordem, ou fazer meia dúzia de telefonemas para amigas e familiares em Cascais, à tarde fazia uma pausa para beber chá com a minha avó Zulmira e conversarem sobre os temas do bairro, as mezinhas da minha avó ou as formas de controlar as pragas. Tudo a D. Camila fazia com o seu belo sorriso, como se nada requeresse esforço. Era estranho ver aquela senhora baixinha e aparentemente frágil, fazer todos aqueles trabalhos duros e que me parecia a mim desnecessários, para uma senhora com aquela condição. ha uns meses a minha filha meteu-se também nesta coisa dos trabalhos ligados à terra e de cada vez que olho para ela naqueles preparos é como se voltasse a ver a D. Camila, frágil mas feliz naquela labuta de quintaneira. Só falta mesmo ver o Sr. Francisco entrar com o seu bico de Pato prateado e as suas gravatas coloridas. Se o meu pai cá voltasse morria de repente ao ver a neta nestes preparos!
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