Os rankings e o professor Alhinho- 2021
Volto aos rankings para vos contar uma história. Quando matriculei a minha filha na escola primaria, era no meio docente uma perfeita desconhecida, no preenchimento da ficha estranhei uma pergunta que me fizeram " é solteira?" "sou respondi" " e o pai?" "não esta em Évora", Colocaram-na numa sala onde existiam vários tipos de crianças, filhos de operários, filhos de empregados de lojas, filhos que tinham os pais presos e ela, soube mais tarde que assim foi por eu ser mãe solteira. Aquela turma no 1º ano teve varias peripécias, a 1ª professora teve um esgotamento, a 2ª renunciou ao contrato ao fim de uns meses e o final do ano tiveram um professor que estava lá a dar apoio, escusado será dizer que aquilo que a minha filha sabia quando entrou, era o mesmo do que quando acabou, ela vingou-se em dormir manhas inteiras encostada á mesa, enquanto o caos acontecia. No 2º ano entrou um professor que a primeira coisa que fez foi mostrar uma corrente dizendo que " ficaria no armário ou sairia consoante o comportamento dos petizes" Claro que os meninos foram assustados para casa e a minha filha não foi exceção. Estava tao assustada que disse a toda a gente na família. Ao dizer à avó paterna, professora reformada do magistério primário, esta foi logo telefonar à diretora da escola que por acaso era sua amiga e tinha lá sido sua colega. Fui chamada à presa à escola, queria a senhora diretora mudar a menina, "tinha havido um erro, como é que uma neta de uma professora tinha ido parar aquela sala, ela deveria ter ido para a outra, era lá que estavam os filhos e netos de professores, como é que eu deixei que ela frequentasse aquela classe? Porque não disse quem era o pai? Já estava tudo acordado com a antiga colega, naquele mesmo dia mudava." Percebi na hora que a minha solteirice tinha sido um ponto negro que a levou para aquela classe, mas se tivesse dito que o pai da criança era o filho da colega o meu ponto negro passava a ser aceite como uma excentricidade e ela teria "direito" a ir para a sala dos seus pares. Agradeci à senhora o seu gesto mas recusei, ela ficaria naquela sala ate eu perceber se o professor lhes ia bater com a corrente ou se ela estava a servir de controle aos mais difíceis. Pareceu-lhe mal, mas não me dobrou, nem ela nem a avó da minha filha, nem o pai, nem a tia, acho que até o cão me ladrou nesse dia e mesmo assim mantive a minha ideia, se a tinham colocado naquela sala era lá que iria ficar. E ficou e a corrente não saiu do armário e o professor foi optimo e os meninos aprenderam todos o que tinham que aprender e no fim do 4º ano exceto um dos miúdos, todos eles eram bons alunos. O professor Alhinho pegou em todos os desgarrados e guiou-os no conhecimento sem se importar com quem era filho de quem , ou de que estrato social vinha. O único senão é que essa historia de visitas, festas, carnavais, ele não estava nem ai e a turma não ia. Desses meninos a minha filha ainda é amiga de alguns, estudaram, tem empregos, famílias, a vida corre o seu rumo normal, mas só assim é, porque tiveram nas suas vidas um Alhinho para os apanhar logo no inicio, na tal turma dos "pares" da minha filha alguns ainda andam à procura do seu caminho, ainda vivem às contas dos pais, alguns mudaram várias vezes de curso e outros ainda nem terminaram, tiveram tudo menos o professor da corrente como era conhecido na escola.
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