50 anos do 25 de abril - 2024
A Revolução dos Cravos faz 50 anos. O Pais deve-lhe muito, eu devo-lhe uma vida diferente. Não sei qual seria se ela não tivesse existido, mas sei que seria muito diferente. Talvez tivesse ido para freira como a minha queria, para me proteger dos males do mundo ( só na cabeça dela) ou poderia no máximo dos máximos ter sido escrituraria em algum lugar. Sim, porque isto era o máximo a que aspiravam os filhos de operários, sair do seu estrato social era algo difícil, complexo. Ou poderia ter sido ainda mais difícil, visto que o meu pai e o meu tio Joaquim estavam na lista da PIDE e tinham bufos que lhes seguia os passos. O meu pai estava na lista por suspeita de ser comunista, e era. Mas as suas funções e conhecimentos sobre o partido eram reduzidas. sempre as quis reduzidas, sempre pediu para não saber quem era quem, ou onde se encontrava algum camarada, tinha muito medo de ser apanhado e sob tortura entregar alguém, só em pensar nisso ficava doente, sabia que se entregasse alguém nunca conseguiria viver com esse peso. Aceitava levar o almoço a esta ou aquela casa, pois sabia que era por 1 ou 2 dias, aceitava deixar papeis neste ou naquele buraco da muralha ou em alguma pedra numa qualquer herdade, pois não se avistava com quem ia buscar o recado, aceitava ficar na oficina para em dias de reuniões entre o patrão e membros do partido, para dar sinal caso andassem a rondar o local e assim os que ali se reuniam pudessem fugir pela outra porta, mas mais não queria. Mas foi mesmo por estas reuniões na Oficina Serafim Henriques, ali para os lados da Praça 1º de Maio que ficou na mira da PIDE. Só ele ficava a fazer horas em dias específicos, todos os colegas eram mandados embora, aquilo criou inveja num que deu com a língua nos dentes e os colocou a todos em risco. As reuniões pararam durante uns tempos, o meu pai e um amigo deram uma sova de criar bicho ao delator, mas ele ficou na lista dos controlados e sabia que mais dia, menos dia ia ser chamado à pedra. O bufo que lhe destacaram, era um funcionário da Harmonia, seguia-o para onde quer que fosse, ia espreitar na caixa do correio da nossa casa e muitas vezes o vimos no largo a rondar. Os meus pais sabiam que era questão de tempo para o irem buscar e depois não sabiam o que iria acontecer. Mas o 25 de Abril aconteceu e tanto ele como o meu tio Joaquim se escaparam. Anos mais tarde, o tal bufo que o controlava foi ao restaurante para almoçar e foi mandado para a rua com umas punhadas dadas pelo meu pai. Foi das poucas vezes que o vi violento e a bater em alguém, mas o homenzinho, pequenino e gorducho parecia uma marioneta, pegou-lhe pelos colarinhos, levantou-o no ar e atirou-o contra a parede do lado oposto à porta do café e ai lhe deu uns murros, se não o temos tirado das mãos dele, acho que o matava tal era a raiva. Raiva que sempre lhe teve, mas que aumentou pelo desplante de ter ido ao restaurante dele para almoçar, era o que faltava um bufo ser servido no seu restaurante, e olhem que ele servia sempre bem e de forma gentil gente de todas as cores politicas, não ligava aquilo, mas bufos não, ainda mais o que o tinha seguido durante meses.
Não sei por tudo isto, o que teria sido a minha vida se não tivesse existido a Revolução de abril, mas sei que teria sido muito diferente!Este é também um dos motivos porque hoje, como todos os anos, vou comemorar Abril com amor e com gratidão por todos os que fizeram deste um pais colorido. E hoje vou muito bem acompanhada com 100 e tal vozes, a Praça chia de gente e a família inteira entoar bem algo VIVA O 25 DE ABRIL, porque o POVO UNIDO JAMAIS SERÀ VENCIDO!
https://www.youtube.com/watch?v=JTbnOhXSy44
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