Ontem o coliseu encheu-se para assinalar esta efeméride - 2024

 Ontem o coliseu encheu-se para o espetáculo de comemoração do I Encontro da Canção Portuguesa de 29 de Março de 1974. Eu não fui, foi muito triste mas quando me apercebi já estava esgotado, gostava muito de ter ido, muito mesmo, até porque ouvi os meus pais falarem sobre ele muitas vezes, foi dos poucos espetáculos a que foram juntos, normalmente o meu pai ia, mas a minha mãe, pouco dada às coisas da cultura e sempre dedicada à profissão não tinha tempo. Mas a este foram os dois. Quando combinaram ir, o mini estava estragado, tinha o deposito da agua roto, não podia andar muito sem o meu pai lhe coloca-se agua, sim naquele tempo era agua, mas eles não tinham dinheiro para mandar arranjar o carro e ele ia gerindo a falta de agua e fazendo a sua vida. Mas a viagem a Lisboa era grande, demorada era complicado. A minha mãe sugeriu pedirem um carro emprestado, não foi possível, o meu pai era homem que emprestava tudo, mas era-lhe muito difícil pedir emprestado, ainda mais para ir a espetáculo a Lisboa. Resolveram ir mesmo assim, levando uns depósitos de plástico cheios de agua. Assim fizeram. Meteram-se ao caminho e de 30 em 30 quilômetros mais coisa menos coisa, paravam e colocavam agua no mini. O meu pai tinha feito as contas direitinho e depois de varias horas chegaram a Lisboa a tempo de ver o espetáculo. Ele tinha-se era esquecido da volta e no fim do espetáculo, quando era para voltarem não havia agua nem no carro e nem nos depósitos. Era noite, não conheciam ninguem em Lisboa e sem agua nem pensar em vir com o mini. O meu pai irritou-se, ficou furioso por se ter esquecido de algo obvio, mas ficou sem saber o que fazer, já a minha mãe, mulher pratica não esteve com problemas, Lisboa tinha Rio raios, Rio tinha agua, era simples ia tira-la do Rio. Pegaram nos depósitos, numa corda que andava felizmente sempre no carro, não fosse avariar e terem que ser rebocados e desceram a rua até ao Rio enchendo com a agua do Tejo os depósitos de plástico. Só que depois de cheios era impossível a minha mãe conseguir trazer os dela, eram muito pesados, mais uma vez não se atrapalhou e mesmo sendo uma mulher medrosa convenceu o meu pai a deixa-la à beira Rio enquanto ia colocar agua no carro vindo depois busca-la e aos outros 2 depósitos. Assim fizeram. Agua no carro voltaram ao caminho de casa e às paragens de 30 em 30 quilômetros. Com tantas peripécias chegaram de madrugada a casa, quase à hora de entrar ao trabalho, indo quase diretamente, coisa também comum já que sempre foram gente de noites sem dormir. Muitas vezes esta historia me foi contada quando ia a espetáculos, muitas vezes me foi perguntado "e o carro tem agua?"

Ontem o coliseu encheu-se para assinalar esta efeméride, o meu carro tinha agua, eu é que lamentavelmente não tinha bilhete.
I Encontro da Canção Portuguesa ‒ Lisboa, 29 de Março de 1974 ‒ Coliseu dos Recreios

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