Estávamos Em Évora na inquisição
Desde o liceu que aprendi a gostar de pesquisar sobre tudo o que não sabia. Passava dias na nossa Biblioteca, pedindo livros ao Filipe que, pacientemente me ia dando os livros solicitados e encontrando outros sobre o tema da altura. Depois fui para a radio, e para os programas temáticos que idealizava continuei as pesquisas na biblioteca alargando-as, devido aos temas, ao arquivo distrital. Eram trabalhos que me davam muito prazer, gostava daquela coisa de deambular entre livros e papeis, compondo a historia sobre o tema a abordar. Com a chegada da internet, a minha saída da radio e o aumento das minhas insônias, deixei os espaços físicos de pesquisas e passo horas por aqui a pesquisar cenas.
Há uns meses deu-me para passar as minhas insônias na Torre do Tombo na procura das minhas raízes. Algumas coisas sobre o tema tinham-me chegado via histórias familiares, mas fui em busca dos papeis que documentassem ou não essas historias de família.
Encontrei coisas muito interessantes, algumas de que nunca havia ouvido falar. Por exemplo, quer da parte da minha mãe, quer do meu pai, no inicio do século 17, os meus antepassados eram ganadeiros, gente que criava e comercializava animais. Ambos eram alfabetizados, casados, tinham apenas 2 filhos cada um e legítimos. Os apelidos variavam, mas os Nobres e Rebochos do lado paternos já vinham do século 16 bem como os Pífaros e os Chilritos, do lado materno, isto apesar de existirem outros apelidos que não chegaram até mim. Do lado materno, até onde consigo ir de forma virtual, desde o século 16 tem raízes entre Redondo e Santiago Maior, um raio de 15 quilômetros. Por outro lado, do lado paterno ha um ramo que vem de Barrancos, Vila Alva e depois a Graça, mais de 100 km de distancia, o que para a época era muito longe. E um outro que tem raízes em Évora cidade, se espalha para Montemor, Arraiolos, Gafanhoeira e Igrejinha. Analisando os documentos, consigo ver que há um lado dos meus antepassados que se revoltou contra Napoleão, nas invasões francesas, pois era aqui que viviam, só depois alguns foram para Montemor, assim como há os que ficam na cidade e aqui permaneceram até 1835, altura em que se mudam para Arraiolos e para a Igrejinha. As datas, mostram-me algo que já desconfiava. Se tenho apelido de cristão velho, se estiveram na cidade saindo só depois do fim da inquisição, a minha malta lá atras, deve ter tido caracter duvidoso e deve ter entregue gente ao Santo oficio, saindo pouco depois do seu termino, talvez porque as coisas já não lhes corressem a jeito. Mas esta parte já sou eu a imaginar, que os documentos da torre do tombo, só me dizem como se movimentaram, que continuaram a casar-se, que não foram nunca familias numerosas, coisa estranha para a época dos documentos, que sempre tiveram filhos legítimos, também algo estranho e que até ao meu pai, coitado calhou-lhe a parte pior da história, as condições econômicas sempre foram boas, tinham propriedades e não eram assalariados, o que talvez justifique eu nunca ter querido trabalhar por contra de outrem. Nestas minhas pesquisas de meses, fui descobrir que a minha bisa Maria Barenha, de que sempre ouvi o meu pai falar, afinal se chamava Maria Matilde, que o Barenho não era apelido mas sim alcunha que lhe veio da mãe, de seu nome Matilde da Conceição, conhecida como Matilde Barenha, alcunha registada na certidao de óbito. Descobri que tenho 2 tetravós, de lados diferentes exatamente com o mesmo nome, Antónia Maria, uma deu origem ao nome da minha mãe, registadas exatamente no mesmo dia, uma em Redondo e outra em Vila Alva. Os documentos confirmam algumas historias que ouvi dos meus pais, mas mostram-me movimentos e formas de vida, algumas de que nunca tinha ouvido falar, foi interessante viajar no tempo, mas confirmar que estávamos aqui no tempo da inquisição, não foi bonito, afinal Évora, foi das que teve um dos piores tribunais da inquisição da nossa historia. Ontem fez 2002 que a Inquisição terminou em Portugal, pouco tempo para um Pais, pouco tempo na minha historia familiar, talvez isso explique algumas coisas sobre o povo português e sobre alguns dos meus parentes.
Isto tudo importa para quê? Para nada, mas quem não dorme tem que se distrair de alguma forma e a Torre do Tombo, no meio de livros e documentos virtuais, é um bom lugar. 

Comentários
Postar um comentário