responsabilidade

 Hoje numa conversa a minha amiga dizia-me "lixa-se sempre o mexilhão, quem esta acima sai ileso". Isso lembrou-me uma história da minha mãe. Nao me lembro o ano, mas algures lá na década de 70 o Fomento ganhou um concurso internacional e passou a fornecer as pastilhas para as empresas de aviação de vários países, já não sei quantos, mas eram muitos. Nessa época as empresas davam a quem viajava de avião pastilhas para mascarem nas subidas e nas aterragens, o Fomento criou até para essas encomendas as famosas Piratilhas, umas pastilhas mais pequenas. Com uma tão grande carga de trabalho a minha mãe mal tinha tempo para respirar, víamo-la pouco e sempre atarefada. A dada altura descobriu-se que andava alguém a roubar o açúcar refinado. esse açúcar alem de ser importado era muito caro, mas fundamental para as pastilhas e alguns rebuçados. Posta a par do problema, levou-o aos patrões que decidiram na hora, substituir todos os funcionários do armazém e instaurar uma investigação interna. Esta descobriu que o roubo era feito por um dos chefes de secção. Com os resultados na mão, marcou uma reunião com a administração, chamou todos os funcionários do armazém e o respetivo ladrão. Apresentou as provas, entregou o ladrão e pediu desculpa aos funcionários do armazém pela vergonha que tinham passado e logo de seguida apresentou a demissão do cargo que ocupava. Aquilo caiu como uma bomba, primeiro por ter sido um chefe, um homem que tinha a confiança dos patrões, depois pela sua demissão. Criou-se uma confusão e há pergunta do porquê da demissão se não estava envolvida naquilo a resposta foi simples. Ela era responsável por verificar tudo o que os que estavam abaixo dela faziam e tinha falhado. Nao se tinha dado conta que a pessoa que chefiava aquela sessão, manipulava os documentos, a falha era dela, a responsabilidade era dela. Tinha falhado nas suas atribuições. Saiu da fábrica e veio arrasada para casa, a falha cometida tinha sido gravíssima no seu entender. No dia seguinte apresentou-se na secção de pessoal para saber qual o trabalho que lhe tinha sido atribuído. Foi levada ao patrão, este rasgou a carta de demissão na sua frente e designou-lhe uma secretária pois compreendeu que controlar tudo sozinha era uma tarefa impossível com aquele ritmo de encomendas. De volta ao seu lugar de trabalho, enquanto ia andando pela fábrica, à sua passagem os colegas batiam-lhe palmas, não por a terem de volta, soube depois, mas por se ter responsabilizado por uma falha, quando teria sido bem mais fácil acusar os funcionários do armazém de não terem dado por isso.

Quanto ao tal chefe, foi preso evidentemente, coisa que nos dias de hoje é capaz de ser difícil de acontecer com gente que ocupa lugares do género, tal como é difícil encontrar um dirigente que assuma que não cumpriu as suas funções e deixou passar erros.