sombrinha da minha avó

 Hoje numa arca da minha mãe, encontrei a sombrinha de verão da minha avó, que tinha sido da mãe dela, minha bisa ( não lhe tirei uma foto pois não tinha o telemóvel mas é como esta da imagem) . A sombrinha em si não tem grande importância, mas trouxe-me à memoria umas histórias engraçadas.

A minha avó tinha 3 tipos de sombrinhas, as de inverno pretas, e as de verão, sendo que de verão tinha 2 iguais, uma perola, a que encontrei hoje, e uma igual mas preta para quando estava de luto, e ela andou anos de luto. O luto da minha avó era a perder de vista, morria um irmão e andava 5 anos de luto carregado e 2 a aliviar ( como dizia) que consistia em andar de cinzento. Como teve muitos irmão e alguns morreram novos, passou anos de preto e cinzento. Depois morreram os pais e ai o luto carregado passou para 10 anos e 3 a aliviar. Uma escuridão quase toda a vida. Mas nos pequenos intervalos lá saia a sombrinha perola na época de verão para a proteger do sol. É linda a sombrinha. Quando ia às compras ou vinha à cidade, a sombrinha ficava-lhe a matar, mas sempre me fez confusão ela levar a sombrinha à agua. Naquela altura, os Canaviais não tinham agua canalizada, a que corria nas torneiras da casa dela ( sim porque ela tinha torneiras) era do poço, não dá para beber, é salobra. Para beber tínhamos que ir ao Poço da quinta dos Caldeireiros, lá no meio do campo, onde o diabo perdeu as botas. Íamos de 2 em 2 dias, ela com um cântaro ao quadril e outro na mão, eu e o meu primo Zezinho com as cantarinhas pequenas. A minha avó fazia-me espécie nessas alturas, não sei como, carregava o cântaro ao quadril e conseguia segurar a sombrinha com a mesma mão, tudo para não apanhar sol. Era um equilíbrio difícil e complexo e por mais que lhe dissessem para não levar a sombrinha e a trocar por um chapéu, não havia como. O chapéu só lhe tapava a cabeça, ela precisava da cara tapada e lá ia, num equilíbrio estranho, com cântaros de barro, roupa de casa e uma sombrinha chique a protege-la do sol. Para mim, naquela altura era estranhíssimo, hoje acho engraçado e até corajoso da parte da minha avó, mostrava que ela se estava nas tintas para o que achavam ou deixavam de achar, ela queria ir de sombrinha à agua e ia.
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