A saida da minha mae do Pavilhão

 Hoje por causa da pandemia estive a recordar com a minha mãe a vez em que ela esteve internada no pavilhão. Como não sabiam o que tinha foi lá colocada e ali esteve 3 meses. Ao longo desse tempo foi sempre piorando. O meu pai ia visita-la todos os dias das 8 ás 9 da noite depois de jantarmos e eu ficava dentro do carro em frente á igreja (crianças não entravam no hospital, muito menos no Pavilhão.). Ela piorou de tal forma que chegou a uma altura em que lhe encostaram a cama á janela para o meu pai a poder ver. Sentindo-se tão mal, começou a pedir para lhe darem alta, um dia perto da pascoa disse ao meu pai que ou ele ia pedir ao director alta ou ela morria e ele teria de me criar sozinho. Pedir é coisa que meu pai tem muita dificuldade em fazer, depois de tanto o pai os proibir de pedir quando eram muito pobres, ficou-lhe ate hoje esta dificuldade. Estava por isso numa situação muito complica. Nesse dia ao entrar no carro desmoronou e chorou. Fiquei bem assustada, nunca tinha visto o meu pai chorar. Quando se acalmou explicou-me o que lhe tinha pedido a minha mãe e que ele não era capaz de fazer, tive outro baque, o meu pai não era capaz de fazer uma coisa! Mas eu queria a minha mãe em casa e que o meu pai parasse de chorar, por isso eu era capaz, se ele me disse-se o que era para pedir eu conseguia. Acho que não ficou convencido, embora agora diga que sim, mas como só sobrava eu lá me ensinou o recado e depois de me fazer repetir várias vezes la fomos. O director dava consultas privadas na clínica ao cimo da rua de Avis, ele subiu-a (ainda se subia) estacionou o carro em frente á loja de tecidos e eu lá fui. O primeiro obstaculo foram as escadas a pique e de degraus altos, mas com a ajuda das mãos lá as subi. Chegando lá a cima um balcão alto que não me deixava ver nem ser vista, aos pulinhos tentei fazer-me notar no que me pareceu uma eternidade, ao fim de algum tempo lá saiu de trás do balcão uma senhora nada simpática que me perguntou o que queria, contei ao que ia e a pessoa ficou tão espantada que nada me disse e virando-me as costas desapareceu. Fiquei sem saber o que fazer, se ia ter com o meu pai ou atrás dela, ainda não me tinha decidido quando volta e me diz para a seguir, lá vou. Leva-me ao consultório do medico que me pergunta o que quero “quero que de alta á minha mãe para ela passar a pascoa comigo, que tenho muitas saudades dela” ele ficou calado e eu pensei que o recado do meu pai não tinha dado efeito e improviso, “também quero que ela me veja na procissão vestida de anjinho, e desta vez porto-me bem e peço ao senhor que ela melhore, não quero ter uma madrasta como a gata borralheira” o medico começa a rir e ate a senhora carrancuda sorri. Saio de lá com o papel da alta, estou tão contente vamos levar a minha mãe para casa. Voltamos ao Pavilhão já a noite vai longa, eu fico no carro muito entusiasmada e cheia de orgulho do feito. Algum tempo depois vejo vir o meu pai com a minha mãe ao colo e rapidamente passo para o banco detrás. Ainda a boa da senhora não estava acomodada e já eu tinha saltado para cima dela. Doente, com dores não fez mais nada e zás deu-me uma chapada. Aquilo pareceu-me muito mal, a dor nem por isso, e saindo do colo dela gritei a bons pulmões “nunca mais peço para saíres do hospital” Ela bem pediu desculpa, mas eu fiquei muito ofendida. E é para isso, afinal eu era só uma criança que não via a mãe há 3 meses e tinha só 4 anos.

Finalizando a coisa, a minha mãe ficou boa, o que a estava a matar era o ar condicionado do pavilhão, ao qual era alérgica e não sabia e foi só sair de la que melhorou. Ela nunca soube que doença teve e nunca mais la voltou o que por sua vez nunca mais me fez ir la busca-la.

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