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Mostrando postagens de julho, 2022

Dia dos avós

  Dizem que hoje é o dia dos avós. Eu já não tenho avós mas eles fazem parte de mim. Conheci 3 avós e 2 bisas, todos eles me marcaram. A minha avó Zefa, mae do meu pai,esteve louca muitos anos, morreu quando eu tinha 8 anos, antes disso vivia lá em casa e punha-me maluca com a mania de me guardar e esconder os brinquedos, era uma espécie de "irmã" chata que eu tinha. Na época não achava graça nenhuma pois não percebia o que era a loucura, só sabia que era uma adulta, que fazia disparates e que não me deixava brincar sossegada. Era chato pois não podia brigar com ela,já que o meu pai não deixava "respeita a avó, ela não sabe o que faz, mas tens que a aceitar assim, nem que é tua avó, mas tu e eu sabemos" e assim eu lá tinha que conviver o melhor possível com ela, adorava passear, mesmo louca estava sempre pronta para ir para a rua e nas festas estava sempre a dançar! Foi com esta convivência que aprendi a aceitar cada um como é, goste ou não! Havia o meu avô Antón...

O roubo do maço de tabaco

  Hoje no meu espaço roubaram-me um maço de tabaco e um isqueiro. Sei que mo roubaram porque o tinha aberto à pouco e sei que o deixei à mão de toda a gente! Porque o fiz! Porque nada que não seja meu se me cola ás mãos e vejo os outros à minha própria imagem. aqui em casa gozam-me por isso, mas a realidade é que não me tiravam nada há muitos anos e sou de deixar tudo espalhado por todo o lado. Este roubo parece-me mal! Não pelo valor, mas por me deixar de pé atras com um grupo de pessoas com as quais me dou e isso é desconfortável! Não gosto de estar de pé atras com ninguém! E ainda por cima porque como não sei quem foi, ficarei com um mau sentimento em relação a todos, é chato! Ainda por cima um maço de tabaco??? Quando os Salgados roubam parece-me mal, fazem-no com mestria, ficam bem para varias gerações, não são apanhados e ate passam por gente honesta que será homenageada daqui a uns anos! Repulsam-me, não tenho por eles qualquer pensamento abonatório, acho-os os cancros soc...

Filó

  Filó, foi minha colega em Santa Clara, na época todos sabíamos que vivia só com o pai e o irmão porque a mãe tinha sido expulsa de casa, o porquê não se sabia ao certo, mas havia rumores, muitos rumores, talvez por esse motivo ela fosse tão reservada. Ficávamos na mesma carteira em francês e criamos alguma amizade, o que me permitiu saber que ela ajudava a avó já velhinha a cuidar da casa, mãe do pai que também vivia com eles. Aquilo não me impressionava por aí além, afinal também eu fazia algumas coisas em casa para ter mesada dobrada, mas só bem mais tarde soube que o que ela fazia era muito mais que limpar o pó ou lavar as escadas, ela realmente tomava conta da casa, cuidava das roupas, ia ás compras, tratava do irmão mais novo, enfim sem a mãe em casa ela era a "mulher" da casa, o que não era de todo o meu caso. a vida seguiu, eu fui para o Liceu e a Filo para a Gabriel Pereira, mas sempre que nos encontramos colocávamos algumas conversas em dia. No meio da adolescência...

O guinapo

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  Estávamos ai em 79 ou 80, não me lembro já muito bem. Zé Guinapo e um amigo holandês que era escritor prepararam uma intervenção artística, era como se chamava na época. Do Café Portugal até ...não se sabia onde... havia que seguir varias fitas coloridas penduradas nos lugares mais improváveis e ao longo do caminho eram encontrados pedaços de papeis com escritos que eles apelidaram de poemas, uns com mais sentido outros com palavras apenas, que por mais que as lesemos não faziam sentido nenhum. Para quem se arriscou nessa empreitada ( e eu fui uma delas) o desfecho foi no palácio D. Manuel, onde no 1º andar estava deitado no chão completamente nú metido num espaço cheio de areia o artista...Zé Guinapo era a obra de arte. à sua volta sons e mais sons, uns mais agudos outros mais graves, e de vez em quando ouviam-se gravações de poemas ( ou amontoados de palavras) em português ou em Holandês...ali estivemos durante um tempo, ate que Guinapo se levantou e embrulhado num lençol deix...

Red Line Evora

  Hoje ligaram ao meu pai, para lhe dizer que havia uma casa a venda na Rua Egas Moniz. Ele disse que nao estava interessado e que essa era a rua das meninas da vida. Quando eu soube la o lembrei que isso era no tempo em que ele era novo, hoje felizmente viviam em todo o lado. Ok, la disse, mas na cabeça dele aquela e a Rua Manuel de Olival, ainda sao as ruas dos bordeis. as cidades tinham todas as suas Red Line. Este acontecimento lembrou-me uma historia da minha avó Zulmira. Mulher nascida e criada na aldeia da Venda, só veio para Évora quando vendeu a herdade na Serra d' Ossa. Era por isso desconhecedora dos costumes e preceitos de Évora. Um belo dia, pouco depois de se mudar para os Canaviais, veio as compras a cidade. Desceu do autocarro a Porta de Avis e para encurtar caminho, foi direita ao Largo Chao das Covas e desceu a Rua Manuel de Olival para ir dar a da Lagoa, onde era suposto ir comprar uns sapatos. Comprou os sapatos, foi fazer outras compras e no fim la voltou de n...

Costela da graça do Divor

  Na família do meu pai, por certo em todas, existem dois tipos de pessoas completamente diferentes, uns não pedem nada a ninguém, são incapazes de colocar uma cunha ou de se valer de algum conhecimento ou posição, os outros são o seu oposto. Dizia ele com alguma graça "eles são costela da Igrejinha, eu sou da Graça" relembrando que o berço da família da mãe era da igrejinha e o do pai da Graça do Divor. Aldeias vizinhas mas muito diferentes na forma e nas gentes. Os da costela da graça, como o meu pai, passaram aos seus descendentes os seus valores, que os passaram aos seus filhos obviamente. Eu passei á minha, que levou isto a peito e bem. Na associação de que sou directora e de que ela faz parte, temos uma norma interna que diz que " os associados que queiram usar a sala tem que enviar carta ou mail a solicitar o empréstimo um mês antes e está condicionado à disponibilidade do espaço". No ano em que o meu neto fez um ano, um mês antes recebi um mail, dirigido a ...

A saida da minha mae do Pavilhão

  Hoje por causa da pandemia estive a recordar com a minha mãe a vez em que ela esteve internada no pavilhão. Como não sabiam o que tinha foi lá colocada e ali esteve 3 meses. Ao longo desse tempo foi sempre piorando. O meu pai ia visita-la todos os dias das 8 ás 9 da noite depois de jantarmos e eu ficava dentro do carro em frente á igreja (crianças não entravam no hospital, muito menos no Pavilhão.). Ela piorou de tal forma que chegou a uma altura em que lhe encostaram a cama á janela para o meu pai a poder ver. Sentindo-se tão mal, começou a pedir para lhe darem alta, um dia perto da pascoa disse ao meu pai que ou ele ia pedir ao director alta ou ela morria e ele teria de me criar sozinho. Pedir é coisa que meu pai tem muita dificuldade em fazer, depois de tanto o pai os proibir de pedir quando eram muito pobres, ficou-lhe ate hoje esta dificuldade. Estava por isso numa situação muito complica. Nesse dia ao entrar no carro desmoronou e chorou. Fiquei bem assustada, nunca tinha vi...

O totobola do Tio Manuel

  O meu Tio Manuel Dançante, era um dos muitos tios da minha mãe, era um homem cheio de histórias bem divertidas. Gostava muito de festas, quando sabia de uma lá ia ele perto do dono da casa, que o convidava, a mãe, minha bisa Antónia ficava muito desconfortável com aquilo e dizia-lhe "oh Manel convidaram-te porque foste lá, não vás" ao que respondia sempre o mesmo " convidam-me na véspera estou lá no dia, convidam-me no dia estou lá na hora" e lá ia todo lampeiro para a festa. O pai detestava que ele fosse assim, queria mesmo é que ele fosse trabalhar, mas ele não gostava muito disso dizia "e eu tenho lá tempo para perder a trabalhar?" o pai brigava, preocupava-o que um dia ele não tivesse como se manter, ao que o bom do Manuel respondia " senhor meu pai, a sua fortuna bem poupadinha vai dar até que eu morra"! E lá ia vivendo da parte da fortuna que lhe calhou, quando em Portugal lançaram o Totobola o bom do Manuel disse em casa que ia a Regu...

Red Line Evora

  Hoje ligaram ao meu pai, para lhe dizer que havia uma casa a venda na Rua Egas Moniz. Ele disse que nao estava interessado e que essa era a rua das meninas da vida. Quando eu soube la o lembrei que isso era no tempo em que ele era novo, hoje felizmente viviam em todo o lado. Ok, la disse, mas na cabeça dele aquela e a Rua Manuel de Olival, ainda sao as ruas dos bordeis. as cidades tinham todas as suas Red Line. Este acontecimento lembrou-me uma historia da minha avó Zulmira. Mulher nascida e criada na aldeia da Venda, só veio para Évora quando vendeu a herdade na Serra d' Ossa. Era por isso desconhecedora dos costumes e preceitos de Évora. Um belo dia, pouco depois de se mudar para os Canaviais, veio as compras a cidade. Desceu do autocarro a Porta de Avis e para encurtar caminho, foi direita ao Largo Chao das Covas e desceu a Rua Manuel de Olival para ir dar a da Lagoa, onde era suposto ir comprar uns sapatos. Comprou os sapatos, foi fazer outras compras e no fim la voltou de n...