Os Cabazes de Natal da Avó Zulmira
Hoje dei com a minha mãe já às voltas com os cabazes que prepara desde sempre para dar a este ou aquele que tem pouco para por na mesa do Natal. Nao me lembro dela sem os fazer só mudam as moradas de quem os vai receber, uns porque já´ não existem, outros porque nesse ano não precisam, mas ela sabe sempre de alguém que precisa e la´ os arranja. Esta tradição foi-lhe passada pela avo com quem vivia e que o fazia, mandando depois as netas entregar a quem deles necessitava. Esta sua azafama de hoje lembrou-nos uma historia da minha avó Zulmira, sua mãe que também o fazia, mas que tinha que enganar o marido para poder cumprir a tradição familiar.
a minha avó era uma santa criatura, vinha de uma família abastada mas que tinha um coração imenso, porem a senhora encheu-se de amores pelo meu avô que era um homem também rico, mas um ser humano que tinha no lugar do coração uma pedra
O contraste era tao grande, que a minha tia- avó Maria Real, irmã do meu avô, ate no dia do casamento pediu a minha avó Zulmira que não casasse com o irmão que ele era muito mau. Mas ela teimou e casou com ele. Cedo viu que para continuar a fazer o que era certo teria que dar a volta a´ coisa. Sendo a minha avó uma mulher que sempre soube viver, resolveu sempre sem grandes conflitos. Depois de casados foram viver para uma herdade que tinham no Freixo. Era muito grande, tinha de tudo, mas o meu avô montado no seu cavalo controlava tudo e todos. ate o que ia para a cozinha para a família comer era contado, anotado, controlado. Para o ajudar nesse trabalho tinha um feitor, que segundo a minha mãe era quase tao ruim como ele. Por esse motivo ninguém podia apanhar o que quer que fosse sem eles saberem. Chegando ao Natal e depois de ter sondado o meu avó sobre os cabazes de mantimentos para dar, percebeu a boa da Zulmira que para continuar a tradição só sem o meu avô saber, pensou la´ com os seus botões e encontrou uma solução. E assim que a encontrou colocou-a em pratica, como sabia atirar e tinha uma espingarda, nas noites a partir de Outubro, quando o meu avó bebia mais e caia em sono profundo, saia da cama e disparava a espingarda varias vezes. Ele acordava sobressaltado e vinha ver o que era, eram sempres os badios ( mendigos). Depois de madrugada, levantava-se e ia a´ horta, ao pomar, ao armazém, tirava o que podia e metia debaixo de uma grande pedra oca que existia perto de casa. Logo que o feitor chegava vinha a correr dizer ao patrão que tinham mexido nas coisas, e ele la´ barafustava com os ladrões da noite anterior. Punham mais armadinhas, mais cadeados, mas uns dias depois voltava a acontecer, isto ate a minha avó ter os cabazes que ela achava necessários com o que era essencial. Perto do Natal arranjava uma desculpa para ir a casa da mãe a´ aldeia, metia-se na charrete que tinha enchido durante a madrugada , não querendo ninguém a conduzi-la e la´ ia ela deixando os cabazes perto dos montes dos contemplados. No dia seguinte quando voltava da aldeia o marido tinha sempre a mesma historia para lhe contar "tu vê la´ que o maluco andou a deixar cestos com comida de novo, quem será´ o parvo" e todos os anos tinham uma desconfiança nova. a minha avó la´ concordava com o marido, era mesmo de gente parva esta coisa de andar a dar. a única pessoa que sabia naquele tempo era a cunhada, a tal que a tinha tentado convencer a não casar com o irmão, a minha mãe só veio a saber muitos anos depois quando ela já não podia dar nada a ninguém porque o meu avó já´ tinha rebentado com as heranças todas, passando a preparar os cabazes para a mãe dar a quem quisesse. Eu não mantive esta tradição, mas hoje prometi-lhe que quando ela não conseguir tomo o seu lugar.
Este ano já´ estão prontos, só falta entregar!
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