Candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027

 Foi apresentada em Paris a candidatura de Évora a Capital Europeia da Cultura. Ficamos todos contentes...eu pelo menos gosto da ideia de que daqui a 10 anos Évora possa ser o centro da cultura da Europa.

Fiquei também contente por ver ao redor desta candidatura as instituições da região, coisa rara por cá e que segundo parece a cultura conseguiu agregar.
E se aceito as explicações do vereador para ter apresentado esta candidatura em Paris ao em vez de Évora, não posso deixar de reconhecer que apesar disso era talvez importante que nós por cá soubéssemos um pouco mais do que nos é dado a ler nas comunicações vindas de França ou pelo fac. Acho isto importante porque para a candidatura ser levada a bom porto não basta as instituições apoiarem é preciso que os eborenses também eles estejam com a candidatura, só com o apoio da população isto tem pernas para andar...
Évora, como disse o vereador na sua comunicação tem sido desde sempre uma cidade de cultura, tem razão, o que fica por dizer é que o é porque as pequenas estruturas, os artistas, os grupos e associações tem ao longo dos tempos feito com que assim seja...sim têm sido estas que tem conseguido manter esta cidade de cultura, senão vejamos...
Nao vou muito longe...no tempo do fascismo quando os poderes instituídos não queriam nada com a cultura, por cá eram criadas sociedades recreativas quase em todas as zonas da cidade. Eram erguidas Casas do Povo, pelo povo, para se fazer teatro, ensinar musica, ensinar pintura. Eram criados grupos de poesia e leitura. Mantinham-se as brincas e driblavam-se os censores. Eram escritas peças de teatro sobre os problemas sociais e apresentadas a concursos nacionais sem apoios da câmara ou do estado, apenas com o apoio da população. Eram criadas bandas de musica que tocavam musicas proibidas na sua vertente instrumental mais uma vez para passar a perna ao homem do lápis azul. Poucas terras tiveram a coragem de ter 40 companhias de teatro amador,num tempo em que o teatro era perseguido pelos homens de António Ferro! Criavam-se revistas e jornais contrariando as ordens de Lisboa.
Chegamos a 74...Abilio Fernandes tinha problemas complicados para se preocupar nos primeiros mandatos, esgotos, arruamentos, bairros clandestinos, casario envelhecido, escola, eletricidade e agua potável, com tal tarefa em mãos, claro que a cultura foi resolvida de forma simples, deu um edifício degrado e sem uso a uma companhia de teatro e deixou o assunto por conta destes. Ao instituto cabia o papel de dinamizar debates, encontros e aos artistas e sociedades recreativas o papel de continuar a fazer o que faziam antes, pelo que os novos artistas e as novas formas de cultura tiveram de valer-se a elas próprias e criar condições para mostrar o novo, e fizeram-no por conta própria, mas foram fazendo.
Só nos últimos 3 mandatos a Câmara tomou para si a ideia de cidade de cultura...estava no bom caminho quando Zé Ernesto ganha as eleições e volta tudo à estaca zero. De novo as pequenas estruturas, os artistas e as sociedades recreativas tomam a si o papel de continuar a ter Évora como uma cidade de cultura e fazem-no com tal afinco que a Câmara ate ganha um prémio da SPA pelo trabalho que não fez!
Mudemos de instituição... Fundação Eugénio D' Almeida, hoje em dia com grande dinâmica, teve anos a fio sem ter qualquer intervenção cultural, dava umas bolsas e pouco mais, nada do que tinha sido estipulado pelo seu fundador via a luz do sol...acordou ai ha uns 8 anos.
Quanto à Região de Turismo...essa esteve morta durante 20 anos...cultura zero, um dos maiores Zeros que já vi ate hoje!
Já a Direção Regional de Cultura, sempre com verbas diminutas do estado, teve ate um director regional que conseguiu perder quase metade do seu orçamento por falta de aplicação do dinheiro na região!
Chegamos à CCDRA, foram vários os quadros comunitários em que este organismo nada viabilizou na área cultural pelo menos para Évora, uns dizem que foi por birra, outros que foi por desconhecimento, facto é que não existiram!
Posto isto, com as instituições tantos anos de costas para a cultura, Évora seria hoje uma cidade onde a cultura não tiria importância não fossem as pequenas estruturas, as sociedades, os artistas individuais terem persistido no seu objectivo, não fossem estes a continuar a trabalhar sem dinheiros públicos, não fossem as pequenas estruturas e os seus associados a manter a cultura viva na cidade, o Vereador e as instituições de peso da cidade, não poderiam ter ido a Paris dizer “Évora é uma cidade de Cultura deste sempre” e a levar esta verdade como trunfo na manga!
Por tudo isto, acho que antes de terem ido a Paris anunciar a Candidatura deveriam ter tido tempo para nos dizer que iam, o que pretendem fazer e como. Assim nao posso deixar de dizer que se começou a construir a casa pelo telhado.
Reafirmo, acho uma excelente ideia a da candidatura e em boa hora esta decisão foi tomada, penso ser difícil a sua concretização pois estamos a concorrer ao nível da Europa e como sabemos há países mais bem posicionados que Portugal e ate mesmo aqui estamos a competir com cidades portuguesas mais fortes economicamente e com maior numero populacional, mas se quisermos ganhar temos que envolver a cidade e o Alentejo já, não pode ser quando o comboio já estiver em movimento, tem de ser logo desde o ponto da partida...como não foi, tem de ser logo na 1ª paragem, caso contrario pode ser só desperdiço de tempo e de energia!

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