O Pao De deus
O halloween não me diz nada, já o Pao por Deus sim. Não só por mim que quando gaiata ia com os meus amigos de porta em porta pedir o "Pao por Deus", apesar da minha casa ser a mais apetecida, visto que a minha mãe dava imensas pastilhas, chocolates e rebuçados, não trabalha-se ela na Fabrica das Pastilhas, mas e especialmente pelas memórias que tenho da minha avó Zulmira e das que o meu pai conta. Conta o meu pai, que pedir o "Pao por Deus" era a única altura em que o meu avó Aníbal deixava os filhos pedirem, no resto do ano apesar da fome que passavam, estavam proibidos de o fazer. Diz ele que apesar disso lhe custava juntar aos outros e ir de herdade em herdade pedir e custava-lhe porque muitos agrários faziam má cara, davam coisas estragadas e alguns até mandavam o feitor correr com os bandos de miúdos. Mas também havia os outros, ele relembra com muito carinho o Ramalho, que eu cheguei a conhecer. Diz ele que dava alem dos doces e frutos da época, que alegravam os putos , azeite, carne, vegetais e sempre em quantidade,o que ajudava muito todos aqueles a quem a comida faltava quase todo o ano.. E dava a todos, até aqueles que vinham de outras zonas e que ali chegavam a pedir o "Pão por Deus". Depois tenho as memorias da minha avó Zulmira, a mulher das ervas e mezinhas que me intrigava com os rituais estranhos de colocar pires com comida e líquidos no quintal e pela casa. Que pendurava fitas coloridas nas árvores e que dizia rezas estranhas. Que queimava ervas de cheiro enquanto sorria. Mulher que só percebi anos depois dela ter morrido e ter estudo o endovélico, culto que marca a região de onde ela é natural. Hoje o Pão por Deus já não se pede, foi substituído por uma americanice e eu não aprendi nada com a minha avó, por isso restam-me as memorias e as homenagens que presto às mulheres, pois era, e é ainda em alguns países, o dia em que se juntam para relembrar e homenagear os seus mortos.
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