engoli um sapo
Lembro-me como se fosse hoje das eleições de 1986, nunca estive tão ligada a umas presidenciais como naquele ano. O meu pai fez campanha por Ângelo Veloso e a minha mãe por Maria de Lurdes Pintassilgo. Andava indecisa, gosta de Pintassilgo mas sempre tinha votado no candidato do PCP, o meu pai sugeriu que acompanhasse as duas campanhas e decidisse. Ângelo Veloso desistiu e simplificou a minha tarefa . Mas a segunda volta foi dramática, de um lado Soares do outro Freitas. Não queria nenhum. Álvaro Cunhal veio a publico pedir que se "engolisse o sapo" e se votasse em Soares. Embora percebe-se as razões dele e ate concorda-se, resisti. Disse que não iria votar. No dia de voto, todo o dia me chatearam, "porque era preciso", " porque Freitas ganhar era péssimo para o País", etc, etc. A minha amiga Cita Pires, esteve quase toda a tarde a moer-me e bem perto do fecho das urnas lá corri para S. Mamede, fui a ultima pessoa a votar, depois as urnas fecharam! Votei Soares claro está. Soares ganhou, como bem sabemos mas aquilo ficou-me sempre atravessado. Aliás Soares presidente, foi igual a si próprio, nem o País piorou mas também não melhorou. Era o Portugal que Soares queria. Arrependi-me sempre de me ter deixado convencer, ele não tinha perdido sem o meu voto e eu não o fiz com convicção! Nunca mais votei pressionada...Só voto em quem acho, não quero saber quem é o adversário. Anos mais tarde Freitas, transformou-se ( ou pelo menos assim parecia) tinha discursos quase de esquerda e defendia coisas que nunca me passou pela cabeça vê-lo defender, ate chegou a ser ministro do PS, o que me levou a pensar " Votei eu no Soares com medo que ele ganhasse, raios me partam". Hoje Freitas morreu e a sua morte não me causa nenhum tipo de sensação boa, com a morte de Freitas perde-se um politico, um estadista, um dos últimos que pensava e defendia o país, à sua maneira, com a sua ideologia, com o seu pensamento de Pais, que não é o meu, mas era convicto e integro. Desta safra de políticos em portugal já só sobram meia dúzia, o que ai anda não sabe o que é estado ou o que é um país e isso entristece-me, porque estamos a ficar mais pobres de pensamento politico! E isso só pode ser nefasto para todos
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