Lia de Itamaracá rainha da Ciranda

 Quando fui pela primeira vez ao Brasil, no tempo ainda do escudo, tinha o sonha, talvez por causas das novelas de visitar o Rio e a Bahia. a viagem contudo ficava mais barata se fosse durante mais dias e se fosse também ao Recife, terra que não me dizia nada e como não havia google para pesquisar não sabia bem ao que ia, mas Olinda estava ali ao lado e tinham estado durante algum tempo aqui o grupo de "vassourinhas de Olinda" uma orquestra de Frevo incrível, que se não me falha a memoria a Camara através do Rui Arimateia ( corrijam-me se estiver errada, que a memoria já não é o que era) tinha convidado e dos quais tínhamos ficado amigas, assim lá optamos por ir também a Recife. Diga-se de passagem que recife foi uma agradável surpresa, muito limpo, arrumado, com monumentos e museus lindíssimos e praias incríveis, não falando em Olinda que é a Joia da Coroa da Região, mas deixemos isso para mais tarde...no dia da chegada, depois da viagem e de vários dias intensos na Bahia, terra de todos os santos pois temos que apelar a todos para aguentar o ritmo cultural daquela gente, estávamos exaustas, mas havia na Praça uma festa que ia das 16h às 24h em honra de algo que não me lembro e lá nos arrastamos para a Praça, sentamos numa das esplanadas em frente ao Palco onde fomos assistindo aos espetáculos que por ali passaram, desde os mais tradicionais aos mais vanguardistas. Lanchamos, jantamos e ali nos mantivemos, a intenção era ir embora depois do espetáculo das 20h, Manu Chao estava na moda na europa naquela altura e nunca o tínhamos visto ao vivo. Quando ele terminou, preparamos para ir embora e enquanto esperamos a conta, sobe ao palco a ultima banda, não conhecíamos nem a banda, pouco sabíamos do estilo e nunca havíamos escutado o nome da cantora, entra uma mulher negra, com um vestido lindíssimos e uma postura que nos lembrou as rainhas africanas. A sua postura e entrada em palco foram tao impactantes que resolvemos escutar pelo menos a 1ª música, mas senhores mal ela começa a cantar e a dançar soubemos que ficaríamos ate ao fim, Lia de Itamaracá ganhou-nos para a Ciranda naqueles primeiros acordes de "Coco Verde". Lia dançava e cantava em comunhão com os elementos da natureza, a Ciranda era Terra, Ar, Agua, tudo em harmonia. Lia trazia consigo a mistura dos negros e povos indígenas, trazia a oralidade do povo negro, as suas vidas, crenças e mágoas estavam todas em palco. Depois de 2 horas Lia retira-se do palco, mas ficou na minha vida, desde esse dia sigo a sua obra, pesquisei a Ciranda, estilo do qual é Rainha e que hoje conquistou o titulo de Património Imaterial do Brasil, um premio justíssimo. Fiquei feliz pelos nordestinos, pelos pernambucanos, pela Ciranda, pelo povo negro, pelos indígenas e por Lia de Itamaracá a mulher que me apresentou o estilo e me conquistou para a cultura do nordeste brasileiro.

Parabéns
a todos os meus amigos daquelas paragens,
parabéns
aos brasileiros,
parabéns
à Rainha da Ciranda, Lia e à Ciranda que ela diz numa canção “Essa ciranda não é minha só, ela é de todos nós” Agora é mesmo!

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