Brincas a preservação da memoria

 Hoje foi dia de agradecer a um amigo pela sua dedicação à cultura, às nossas memorias. Mas não há cultura mediática, aquela que faz noticias de jornais que embrulham o peixe do dia seguinte, não, foi dia de agradecer pela dedicação às marcas identitárias, aquelas que nos definem enquanto povo único, hoje foi dia de agradecer ao Rui Arimateia. Conheço-o desde o inicio das radio pirata e já por essa altura ele vivia apaixonado pelas marcas identitárias do Alentejo. Acompanho os seus trabalhos e a sua luta pela preservação da memoria, da oralidade e das nossas raízes desde essa altura. O Rui faz-me sempre lembrar giacometti, que não conheci, mas que pelas histórias que me contaram também andava sempre a recolher depoimentos, a registar histórias, a guardar para memoria futura formas culturais ancestrais. Aprendi com os seus escritos, as suas publicações, os seus espetáculos e as nossas conversas muito sobre a cultura da cidade, das nossas gentes e do Alentejo, mas mais que isso devo-lhe o poder assistir sem medos à marca cultural de carnaval que nos define enquanto região e que aprendi a gostar com o meu pai, também ele homem das Brincas dos Canaviais. Se hoje ainda temos forma de assistir a essa expressão cultural ancestral e única, devemo-lo a ele e ao Zé Conde que lhas apresentou no inicio dos anos 80, quando faziam parte dos serviços culturais da camara de Évora. Nessa época se não me engano só restavam 2 trupes de brincas por aqui, as novas tendências culturais, os Carnavais importados do brasil e a saída de muita gente dos bairros para a cidade tinham deixado as brincas em dificuldades acrescidas. Conheci melhor as dificuldades das brincas dos canaviais, não só por o meu pai ter pertencido a elas e as ter visto mais vezes que as outras, mas também porque as fui gravar e entrevistar para a radio naquela altura, tinham falta de espaço para ensaiar, falta de gente, falta de dinheiro, falta de público quando se apresentavam, lutavam sozinhos para não perderem a sua identidade, foi por isso uma lufada de ar fresco e animo quando a camara através desses dois profissionais lhes deram atenção e as trouxeram de novo para as ruas. Mas fizeram mais, apresentaram-nas na cidade. as Brincas deixaram de estar fechadas nos bairros e nos montes e vieram à Praça. Foi arrojado em tempo de Carnavais que imitavam o Rio de Janeiro, com muito brilho, muito batuque, muitos corpos à mostra apesar de ser fevereiro e apresentar um conjunto de homens, uns vestidos de mulheres outros trajados a rigor, acompanhados de 2 palhaços, a dizer os fundamentos" sobre batalhas do passado e temas do cotidiano, foi arrojado e criticado, mas o seu empenho levou-os a fazer dessa demonstração cultural uma marca do Carnaval de Évora. Desde essa altura Rui Arimateia dedicou grande parte do seu tempo a recolher as memorias das brincas, esse trabalho deu força a quem as formava e elas foram ficando mais fortes, foram criando novos "fundamentos", foram tendo novos participantes. Essas suas recolhas resultaram numa exposição que esteve no Centro Interpretativo de Évora, onde esta instalado o Projecto Memoria, também resultado da sua persistência, da sua entrega à cultura tradicional e à memoria das marcas culturais da cidade, a exposição resultou num catalogo que hoje foi lançado no Pátio das Romãs. As Brincas hoje ali registadas em livro ficam registadas para sempre, em tempos em que tudo parece igual, em que o evento tomou conta do mundo e o tornou tao igual, o que nos identifica como povo, como região é a cultura identitária e essa por aqui em varias áreas mas especialmente nesta fica a dever muito ao Rui Arimateia a quem agradeço em meu nome, em nome dos que me antecederam e estiveram ligados á cultura e aos que me seguirão. E quem me dera que Évora tivesse mais Ruis a dedicar-se a ela.

Obrigado de coração.
( o livro esta á venda nas livrarias, na Camara municipal, na junta de Canaviais e na Casa do Povo de canaviais, comprem-no ele faz parte da nossa identidade)

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