33 anos de mae
Faz hoje 33 anos que por esta hora acabei de trabalhar. Fechado o restaurante depois de 12h de trabalho , tudo arrumado e limpeza feita, rumei a casa e durante 2h passei a ferro. Por volta das 4h aos meus pés uma poça de agua e um pensamento "raio, o ferro estragou-se". Não tinha sido, depois de analisar melhor afinal tinham-me rebentado as aguas. Peguei nas coisas já arranjadas e meti-me no carro, fui ao Alto de S. Bento ver a cidade, dei uma volta pelo centro histórico e lá entrei no hospital às 6 da manhã, um pouco contrariada mas era preciso sossegar quem achava que já devia lá estar há muito. Sem dores, numa cama de hospital à espera e porque os gritos de outras me impossibilitavam de dormir, li todo o livro de Pepetela "Mayombe" que tinha levado. Ás 11h entrei no bloco e às 11,20 saia de lá com a cria nos braços, sim porque havia muitas mulheres em trabalho de parto, poucas camas e menos enfermeiras, como estava bem perguntei se não podia ir andando para o quarto sozinha e fui. Uma criança com outra criança nos braços encararam um quarto onde estava uma outra dupla semelhante. Não havia tempo para as enfermeiras me ensinarem como amamentar e como a miúda vinha esfomeada, lá deixei a natureza funcionar e mais mal ou mais bem, lá mamou e se calou durante algum tempo... ainda não era hora de visita e tive o primeiro embate, a senhora do lado mãe de uma menina nascida um pouco antes da minha, enquanto a amamentava ia dizendo "olha a companheira da mãe, vai ajudar a mãe a fazer o comer, a lava a loiça, a lavar a roupa, a tratar do pai e dos manos, vai crescer, casar, ter filhos e cuidar da mãe quando ela for velhinha"...eu apanhei um susto na hora e por via das duvidas, assim que voltei a dar de mamar à minha filha segredei-lhe ao ouvido "olha o bebé da mãe, vai ser o que quiser, fazer o que quiser e ser feliz". A minha companheira de quarto repetia isto cada vez que se dirigia à filha e eu não fosse a minha escutar aquilo e se assustar repetia a minha lenga-lenga, só por causa das dúvidas. 3 dias depois, tive alta. Não tinha carteira para chamar um táxi, era hora de almoço e seria impossível o meu pai vir buscar-me e nem me passou pela cabeça ficar até alguém chegar, pelo que peguei na alcofa com a criança lá dentro e fiz-me ao caminho até à Rua da Lagoa. Passada meia hora, que o raio da ladeira do hospital é dura, lá entrava a minha filha pela primeira vez num restaurante e eu ia com uma fome de Leão.
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