Rua das meninas

 Hoje ligaram ao meu pai, para lhe dizer que havia uma casa a venda na Rua Egas Moniz. Ele disse que nao estava interessado e que essa era a rua das meninas da vida. Quando eu soube la o lembrei que isso era no tempo em que ele era novo, hoje felizmente viviam em todo o lado. Ok, la disse, mas na cabeça dele aquela e a Rua Manuel de Olival, ainda sao as ruas dos bordeis. as cidades tinham todas as suas Red Line. Este acontecimento lembrou-me uma historia da minha avó Zulmira. Mulher nascida e criada na aldeia da Venda, só veio para Évora quando vendeu a herdade na Serra d' Ossa. Era por isso desconhecedora dos costumes e preceitos de Évora. Um belo dia, pouco depois de se mudar para os Canaviais, veio as compras a cidade. Desceu do autocarro a Porta de Avis e para encurtar caminho, foi direita ao Largo Chao das Covas e desceu a Rua Manuel de Olival para ir dar a da Lagoa, onde era suposto ir comprar uns sapatos. Comprou os sapatos, foi fazer outras compras e no fim la voltou de novo ao bairro. assim que meteu o pé em casa, ja o marido sabia que ela tinha descido a rua das meninas. Um habitante dos Canaviais tinha-a seguido por achar estranho o caminho que tomou. Logo no inicio nao percebeu a zanga do meu avo, ate porque ele vivia zangado, mas quando entendeu que nao deveria ter descido a rua e o porque, ficou ainda mais irritada. Na terra dela também havia meninas por conta, mas viviam em toda a aldeia, falavam com toda a gente, nao viviam enfiadas em ruas onde só elas e os homens podiam passar. Que raio de terra para onde o meu avo a tinha trazido, era parvo uma coisa daquelas e se aquele era o caminho mais rápido para que ia ela dar uma volta maior...a senhora bem contestou, mas o meu avo que nao era nada dado a igualdades ordenou que nunca mais descesse a rua e ela la teve de obedecer, porem ao longo dos anos de cada vez que passava ao cimo de uma dessas ruas contestava sempre "que raio de ideia terem ruas marcadas" esta é a frase que lhe ouvi varias vezes, de tal forma que assim que cheguei a adolescência comecei a descer essas ruas. eu nunca fui proibida, mas ate na cabeça do meu pai, que é um homem muito livre, aquilo ainda nao se apagou...raio de marca tem alguns, raio de cidade que custa a apagar as marcas da descriminalização.


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