O espectaculo que terminou ás escuras
Já passaram uns anos, por isso posso contar-vos um dos muitos episódios da minha vida de produção em que quase morri do coração.
Tempo Romano, espetáculo de fecho do Cenas ao Sul. Um espetáculo produzido para o efeito com a presença da Ronda, Sinfonetta de Lisboa, Eborae Musica, Coral Évora e Cantares de Évora. Meses de preparação, muitos ensaios, muitas questões técnicas e de logística, um caldeirão tao grande que tinha muito por onde correr mal. O espectaculo inicia-se com a zona do Templo cheia ate às amarras. As modas vão sendo cantadas umas atras das outras, músicos que entram, outros que saem, vozes afinadas e a tempo, o som limpo com todos a serem escutados, as luzes de palco e do templo a entrarem quando devem, esta tudo a correr que é uma beleza, o meu coração começa a funcionar a ritmo mais normalizado, chegamos à ultima moda, com todos em palco e cada um a entrar a horas, respiro aliviada, esta quase tudo e esta tudo bem, a meio ...o palco fica às escuras, o som dos instrumentos calam-se, pergunto ao técnico "o que foi isto?" "ficamos sem luz!" vejo ao longe a Midus com passo acelerado ir na direcçao do quadro geral, dirijo-me apressada ao quadro intermedio, no curto caminho um funcionário da camara dá-me uma péssima noticia "o quadro disparou" "liguem-no digo de pronto" "não dá, o electricista fechou-o e não esta cá" Foram segundos, mas os suficientes para sentir o coração parar, pelo canto do olho vejo Mestre Soares a dirigir-se para a boca do palco e a continuar a moda à capela, os seus Cantares seguem-no, os outros coros fazem o mesmo. Os músicos da sinfonetta e da Ronda largam os instrumentos e colocam-se de pé, dou alguns passos atras para ver o palco todo, aquele mar de gente dos coros esta na boca de cena e entoa a moda "vamos lá saindo" afinada, seguindo o mestre. São vários os minutos à capela, só iluminados pela luz das colunas do templo, a praça esta escura, mas as vozes estão lá a brilhar. Eu continuo a prender a respiração, o coração esse quase sai pela boca, no lado oposto a Midus olha o mesmo que eu. A moda termina, o publico levam-se como se tivesse sido picado e a ovação é gigantesca. Eles agradecem, eu estou pregada ao chão, as pessoas vem e dizem "que final magnifico, que coisa linda" Eu concordo, ainda não consigo decidir se choro ou se ria. Os grupos saem de palco e são cumprimentados por muita gente, todos acharam lindo, a Praça continua às escuras, mas ninguém quer saber e nesse momento nem eu. O espectáculo terminou e terminou em grande, nunca me teria passado pela cabeça terminar sem som e sem luz, mas que foi lindo foi! Respiro profundamente e vou em direcçao ao Mestre Soares, tenho muito a agradecer-lhe. Ele sorri e desvaloriza o feito, agradeço a cada um dos elementos de todos os coros presentes, sem eles teria corrido muito mal, estão todos felizes e todos me dizem para ficar tranquila, o Mestre começou eles seguiram-no era preciso salvar o final, foi só fazer o que tao bem sabiam, Cantar!
Ate hoje tenho uma divida de gratidão para com todos eles! Não ganhei para o susto, quase tive um enfarte, briguei com o eletricista que deveria estar e não estava, arranjando mais uma inimizade, mas para quem assistiu foi um final brilhante, e isso é o que importa no final das contas!
Passados estes anos todos ja consigo rir deste episodio, afinal é só mais um que quase me matou do coração!
(foto de Joaquim Carrapato, a quem agradeço)
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