Manuel Mourinha
O Manuel Mourinha foi enterrado ontem. Com isto perdi mais um amigo. Foi meu técnico na radio Meridional e depois na Telefonia durante anos. Era um ser humano particular, não se dava a conhecer a toda a gente mas quando gostava de alguém era capaz de falar horas infinitas sobre tudo...nunca percebi como sem ter net, televisão ou estes meios novos sabia tanto sobre tanta coisa...tinha realmente um cérebro privilegiado. Mas o que admirei sempre nele foi a sua liberdade para viver como quis, sem ligar a nada ou ninguém.
Vivemos muitas historias, umas mais engraçadas que outras deixo-vos aqui algumas ...
Quando a 1ª Guerra do Golfo rebentou estávamos, eu, ele e a Midus de serviço. As noticias chegavam via telex da lusa. Primeiro 30 mortos, depois 58 e a dada altura ele foi ao papel do telex riscou o numero que lá estava escrito e colocou 10 mil mortos."Então Manel disse eu aflita?" Resposta pronta e tranquila "ou bem que é guerra ou não vale a pena apavorar as pessoas!"
Numa outra altura fazia eu um programa de discos pedidos e vejo-o a discutir com alguém ao telefone , sai da cabine para saber o que se passava e estava o Manuel furioso a responder " Minha senhora tenha vergonha como quer que lhe telefone esta tarde se não a conheço" acudi de pronto e lá pedi desculpa há ouvinte...ela só queria uma musica da cantora Ana que se chamava "Telefona-me esta tarde", depois de lhe explicar encolhe os ombros e sem ligar lá foi dizendo "E eu tenho que saber que há musicas com esse nome parvo?".
Lembro-me de muitas outras mas aquela que fez com que a nossa amizade nunca mais se quebrasse ocorreu quando estivemos de castigo na radio sem poder trabalhar, embora com a obrigatoriedade de cumprir horário, depois de uma emissão que fizemos de comemoração do 25 de Abril.
Durante os 8 meses,tempo de duração do castigo todos os nossos colegas se afastaram de nós como se tivéssemos sarna, diziam bom dia e boa tarde mas nada mais, por mais que os espicaçássemos para que eles conversasse connosco, o que reconheço era um divertimento que mantínhamos, eles nada...distantes e sem conversas, excepção para o Manuel Mourinha que continuava a ter grandes conversas connosco, que vinha buscar-nos para tomar café e que ia à varanda fumar cigarros ao pé de nós. Nunca se afastou, nunca teve medo e sempre se manteve solidário e ate entrava nas nossas brincadeiras provocatórias aos nossos colegas medrosos e subservientes da direcção e as gargalhadas que ele dava cada vez que um se sentia incomodado com a nossa presença eram contagiantes.
Nunca esquecerei a sua solidariedade e amizade! Nunca esquecerei que ficou do nosso lado!
Ate sempre Manel que o Cosmo te receba como mereces!
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