Meninos com fome nunca a esquecem
Neste jantar de natal, onde a comida abundava e o vinho corria vi de repente o meu pai entristecer e uma lágrima correu-lhe pela face. Apresei-me a perguntar o que tinha...nada só lembranças. E a historia veio. A historia dos seus natais de menino sem prendas de que nunca sentiu falta porque nunca ligou a presentes mas com muita fome. Uma noite em que sempre lhe pareceu ter mais fome que nas outras. Quis saber porque? Eu já sabia que ele era sempre convidado para cantar no coro da igreja por ter uma excelente voz, pelo que todos os anos era chamado para cantar na missa do Galo. A igreja não lhe dizia nada mas cantar fazia-o tão feliz que ia sempre. Ali se libertava e se esquecia da vida. Depois da missa havia sempre uma ceia para os meninos pobres, que a medo e envergonhados recebiam das mãos das senhoras ricas da cidade um caldo e uma côdea de pão com conduto para se aquecerem. Sempre se negou a comer aquele caldo, sempre odiou o ar piedoso das senhoras da cidade e sempre regressou a casa sem saciar a fome. Claro que quando chegava a casa e por suporem os pais que ja havia comido, ate melhor que os irmãos, não havia comer para ele. E lá ia de barriga completamente vazia para a cama e enraivecido. Hoje ali, com muita comida chorou pelos meninos que tal como ele estariam a ir para a cama de barriga vazia. E suspirando terminou "não foi para isso que eu lutei"! Agora aqui, eu me dou ao direito de odiar todos os políticos deste meu país (e do mundo) por fazerem chorar o meu pai e por o fazerem sentir que não conseguiu acabar com os meninos com fome!
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