Cante a patrimonio
Estávamos em 1976, 2º ano do ciclo em Santa Clara, numa aula de Português, a professora uma mulher vinda do norte, quis saber quais os estilos musicais de que gostávamos. Chegado à minha vez respondi o Cante Alentejano, ainda hoje me lembro da gargalhada geral dos meus colegas. Porquê, quis saber! Porque gosto do coro de vozes e dos silêncios. Nova gargalhada! Estávamos no tempo do pop e do rock, eramos miúdos, foi normal para os meus colegas, foi embaraçador para mim. Durante anos mantive esse meu gosto escondido em casa não o partilhei com ninguém. Anos mais tarde quando enveredei pelo mundo da radio, comecei a passar de quando em vez os grupos de cante e aos poucos foram surgindo pedidos desta ou aquela moda. A gargalhada do tempo de escola foi-se esbatendo e o meu embaraço diminuindo. De tal forma que sem saber como comecei a promover o Cante, não só na radio como nas propostas de espectaculos que levávamos a norte. Também nesta área, no inicio foi difícil, "os agarradinhos?" perguntavam. Sim! Os grupos de homens e mulheres que cantam à mesma cadencia e perto uns dos outros. Foi uma batalha também difícil, mas que já não me provocava embaraço, antes pelo contrario, dava-me luta! E assim la fomos percorrendo todo o País, com as vozes e os silêncios que sempre me tinham agradado. A estes grupos juntaram-se outros com abordagens do jazz, do rock e da musica ligeira, que trouxeram outras sonoridades ao Cante que muito me agradaram também e aquela musica passou a fazer parte da vida de muitos outros. É por isso particularmente importante para mim a classificação de património da humanidade do Cante. Hoje, desculpem que lhes diga, é o dia de eu dar uma valente gargalhada na sala do 2º C do ciclo de Santa Clara. Hoje é dia de eu e o Cante encabularmos os meus colegas, que não se lembrarão dessa historio, claro, e de lhes dizermos que não sendo da moda o Cante é um património nosso e um património do mundo!
Comentários
Postar um comentário