Hoje na esplanada onde fui encontrei uma das meninas que viviam no convento, ela não me reconheceu, mas eu sim. Há caras e historias que nunca esqueço. A Joaquina era filha de uma mulher muito pobre que vivia para os lados do bairro da câmara e estava no convento devido à pobreza, assim como muitas outras. Mas havia uma diferença entre ela e as outras...todos os dias de manha, antes das 7h a mãe batia desalmadamente à porta do convento para ir ver a filha. Eu como não dormia lá entrava por volta dessa hora, tinha que ficar no átrio sentada no banco à espera que todas se levantassem e só podia subir na hora da missa, dada às 7.15h. Por isso durante anos assisti à mesma cena. A mãe batia violentamente na porta, a freira porteira descia a praguejar as escadarias, retirava do bolso do habito uma chave enorme e ao abrir a porta começava a discutir com a Maria Maluca, como era conhecida. Mas ela não desarmava queria ver e beijar a filha e lá conseguia que a fizessem descer. Depois das festas e dos beijos, a Maria saia despedindo-se com um ate amanha à filha, a freira praguejava e dizia que não voltasse pois não lhe abria a porta e eu ali ficava sentada com os pés pendurados por não me chegarem ao chão a assistir aquela cena que sempre encarei como uma cena de amor. No outro dia a cena repetia-se e sempre assim foi ate eu sair do colégio. Hoje o companheiro da Joaquina estava sentado ao seu lado e enquanto conversavam fazia-lhe festas na mão que ela tinha sobre a mesa. A Joaquina ainda me parece uma mulher sem muitas posses, mas fico feliz que tenha tido sempre ao seu lado gente que a amou...sim porque a mãe apesar de não a ter em casa sempre lhe provou que a amava e hoje o companheiro também me fez crer isso. Fiquei feliz pela Joaquina, apesar dela não se lembrar de mim...pelo menos foi o que achei quando lhe disse boa noite!

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