Hoje na esplanada onde fui encontrei uma das meninas que viviam no convento, ela não me reconheceu, mas eu sim. Há caras e historias que nunca esqueço. A Joaquina era filha de uma mulher muito pobre que vivia para os lados do bairro da câmara e estava no convento devido à pobreza, assim como muitas outras. Mas havia uma diferença entre ela e as outras...todos os dias de manha, antes das 7h a mãe batia desalmadamente à porta do convento para ir ver a filha. Eu como não dormia lá entrava por volta dessa hora, tinha que ficar no átrio sentada no banco à espera que todas se levantassem e só podia subir na hora da missa, dada às 7.15h. Por isso durante anos assisti à mesma cena. A mãe batia violentamente na porta, a freira porteira descia a praguejar as escadarias, retirava do bolso do habito uma chave enorme e ao abrir a porta começava a discutir com a Maria Maluca, como era conhecida. Mas ela não desarmava queria ver e beijar a filha e lá conseguia que a fizessem descer. Depois das festas e dos beijos, a Maria saia despedindo-se com um ate amanha à filha, a freira praguejava e dizia que não voltasse pois não lhe abria a porta e eu ali ficava sentada com os pés pendurados por não me chegarem ao chão a assistir aquela cena que sempre encarei como uma cena de amor. No outro dia a cena repetia-se e sempre assim foi ate eu sair do colégio. Hoje o companheiro da Joaquina estava sentado ao seu lado e enquanto conversavam fazia-lhe festas na mão que ela tinha sobre a mesa. A Joaquina ainda me parece uma mulher sem muitas posses, mas fico feliz que tenha tido sempre ao seu lado gente que a amou...sim porque a mãe apesar de não a ter em casa sempre lhe provou que a amava e hoje o companheiro também me fez crer isso. Fiquei feliz pela Joaquina, apesar dela não se lembrar de mim...pelo menos foi o que achei quando lhe disse boa noite!
alceu valença - 2025
Fui ver Alceu Valença ontem ao CCB, o homem tem 78 anos, mas ninguem dirá. Continua com a mesma voz, a mesma loucura, o mesmo encanto de sempre. Cantou musicas recentes e os grandes sucessos da sua grande carreira. Esteve em palco perto de 2horas, é obra para quem já anda nesta vida há muitas décadas. A acompanha-lo a orquestra de Ouro Preto, e é dela que vos quero falar. Uma orquestra formada por músicos muito novos, mas de uma qualidade superior. A orquestra acompanhou Alceu, mas fez arranjos de musicas do cantor e interpretou-as dando-lhes uma beleza própria, única, que pôs em pé o CCB inteiro. Mas eles não são só grandes músicos, não é só uma grande orquestra é sobretudo uma orquestra de gente que vibra, que toca a cantar baixinho, que dança na cadeira ao interpretar as musicas, uma das violinistas, Jovana Trifunovic , quase se levantava para dançar, ih,ih,ih, é gente feliz que está ali em palco. Tao diferente das nossas orquestras, que estão em palco a interpretar as musica...
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