Memorias

A memoria é uma coisa fantástica. Hoje depois de muitas décadas entrei no colégio onde andei até aos 8 anos. Não sofreu muitas alterações, apenas pequenas obras de adaptações para responder às novas legislações. A capela desapareceu, o tanque e as árvores também, o dormitório imenso foi transformado em varias salas e há muitas mais casas de banho do que na minha época, mas no mais está igual. Foi por isso normal que há memoria viessem vivências daqueles anos. Subir as escadas de madeira que tantas vezes encerrei ou entrar no grande salão onde era obrigada a aprender a bordar e a cozer, apesar de ter saído de lá apenas com 8 anos, trouxe -me de volta sensações de fraqueza de que já não me recordava. Mas o mais estranho foi entrar no grande refeitório e sentir a memoria desagradável do sabor do feijão com massa que era a base das nossas refeições ou do sabor insuportável do leite quente cheio de peles que me faziam agoniar. Foram memorias gustativas tão fortes que me senti enjoada. Também me impressionou sentir o peso enorme e triste daquelas salas, talvez por terem mais de 200 anos e terem assistido a coisas desagradáveis. Porem o que ainda agora me incomoda foi o seu silencio, o mesmo silencio que vivênciei durante vários anos, só quebrado pelo ranger do soalho, estava lá. Um silencio sombrio, forte, pesado e isto apesar de lá estarem perto de 200 crianças...Claro que o colégio já não é nada disto,é um colégio como muitos outros, mas a mim trouxe-me à memoria um outro colégio e mesmo sem querer eu não o consegui sentir no tempo presente, só no passado, no meu passado.
Engraçado como há coisas que a nossa memoria guarda e que voltam apenas por vermos um espaço, afinal os espaços tem importância...

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