O confinamento nao é bom conselheiro

Quando nasci o médico que me foi observar disse a minha mãe que eu vinha com o sistema nervoso alterado, coisa fina para a época. Acertou, não conseguia parar no lugar, tinha uma energia que cansava um santo e claro que aquilo junto dava disparates. Por isso na 1ª infância a minha mãe, as freiras e depois a professora, resolviam este meu problema com umas chapadas ou umas reguadas, coisa tão comum na época como hoje a ritalina, se bem que com menos efeitos secundários. Quando fiz 10 anos descobriu-se que sofria de epilepsia, nos primeiros tempos trataram-me na base das drogas, como era comum, mas deixei de as querer tomar porque aquilo colocava-me a dormir ate de pé, o que era uma seca para quem ainda não tinha curtido a vida.
Tive sorte. A minha mãe procurou informações, especialistas e encontrou como apoio aos comprimidos a meditação. Foi assim que aos 12 anos passei a ir a Lisboa 2 vezes por semana para aprender e fazer exercícios que me ajudassem a espaçar os ataques e a diminuir os comprimidos. Foram muitos anos ate conseguir controlar as descargas eléctricas do cérebro e a aprender a dominar a dieta cetogénica. Foram muitos exercícios para conseguir fazer o cérebro usar a energia descontrolada em energia produtiva. Durante esse percurso, fui aprendendo muitas outras coisas sobre o cérebro, nós e os outros. E ao longo dos anos fui relevando muitas coisas, fui olhando os outros com olhares menos acusadores, menos egoístas, menos violentos, a esperar deles apenas o que me podem oferecer e fui- os tratando com gentileza, educação, lealdade e com o carinho que me é possível dar a cada um dos que comigo se cruzam. Não é um processo fácil e resvalo muitas vezes, mas onde há muitos anos tenho visto melhores resultados com menos tropeços, tem sido na educação com que me dirijo a cada um e a gentileza com que os trato.
Durante esta quarentena, um dia destes numa troca de conversas, resvalei, fui indelicado e perdi ate um pouco da educação que tenho imprimido nesta minha estadia no mundo virtual. Enraiveci e respondi de forma menos gentil, ao fim de várias mensagens. No dia, aquilo estava a quente, não me incomodou, mas ao longo dos dias dei por mim a pensar na resposta menos correcta. mas ao longo dos dias dei por mim a pensar na resposta dada e fiquei profundamente desagradada. É provável que a pessoa já nem se lembre, mas a mim tem-me feito mal. Não sei quem era e nem fixei o nome para ir a sua procura, mas posso deixar de frequentar aquele espaço virtual. E é isso que farei. Por mais que estar em casa possa ser sufocante, não vou deixar que esta experiência me puxe para um nível mais abaixo. Vou tentar seguir o mesmo caminho que venho a percorrer já há anos. Se por acaso a pessoa em causa ler isto e se lembrar, deixo as minhas desculpas.

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