Os Alonzo
Nos últimos dias tenho-me lembrado muito dos Alonzo. Não os conheci, eles chegaram ate mim por uma história que a minha avo me contou algumas vezes. Os Alonzo vieram fugidos da guerra civil espanhola, o pai, a mãe, uma filha, um filho, o avô e um tio ainda jovem. Vieram da raia, atravessaram o rio e entraram por Juromenha. Por terras espanholas tinham ouvido falar que na zona dos sacaios eles conseguiam esconder-se e deram-lhe algumas indicações de famílias com que poderiam contar, o Chilrito era um dos que procuravam. Chegaram em Abril numa noite clara, os cais ladravam muito e foi fácil descobri-los no fim da herdade, cansados, sujos e com fome. Tiveram sorte entravam na herdade do Chilrito. Nessa noite foram escondidos dentro de casa, depois de limpos e alimentados. Mas logo que o dia clareou foram levados para a Pedra. A pedra, que conheci muito bem, era uma enorme pedra de granito que ficava próximo da casa dos meus bisavos, tinha por baixo uma pequena entrada quase oculta e por baixo dela uma escada de madeira levava a um espaço não muito grande que parecia uma caverna. Ali a minha bisa tinha feito uma casa secreta. Tinha espaço para comer, dormir e ate um espaço separado por uma cortina para as necessidades.
Era na pedra que naquela época ela e o meu avo Chilrito escondiam os espanhóis que por ali apareciam. Só a minha bisa ia lá abaixo quando estava alguém, fazia-o de madrugada. Levava comida, agua, tratava de algum ferimento e providenciava o que fosse necessário. Durante o dia a entrada da pedra estava escondida dos olhares dos trabalhadores por lenha, fardos e um vasto número de coisas. Foram muitos os espanhóis que por ali ficaram a ganhar forças para seguirem viagem, ou para curar as feridas da guerra de onde fugiam. Os Alonzo foram os únicos que a minha avó Zulmira conheceu, e só os conheceu porque no período em que ali estiveram a mãe deu a luz. Antes teve que encarregar algum dos filhos da tarefa de os tratar, coube a minha avó porque era pequena e magra como ela, ao contrário da irmã que era para o gordinho, os filhos homens não era uma opçãoao pois iam para a taberna, podiam beber e deitar tudo a perder. Foi assim que a minha avo, conheceu os Alonzo, os moradores da Pedra. Ao fim de 3 meses ali escondidos partiram, iam em direcção a Lisboa para tentarem embarcar num navio em direcção ao outro lado do atlântico...mas voltaram, a meio do caminho souberam que havia batidas para os lados de Évora e que poucos se safavam, eram devolvidos a Espanha. Não arriscaram, o avô não conseguia fugir muito e eles tiveram medo. Ficaram ali por mais uns tempos até o meu bisa encontrar um camião do leite que os levasse a Lisboa. Ficou caro esta viagem ao meu avo, mas ele nunca se importou. Durante muitos anos não souberam dos Alonzo, ate que um dia chegou uma carta da Colômbia, era lá que se tinham fixado. Há uns anos, já a minha avo tinha falecido, uma filha do Alonzo voltou e foi visitar a terra onde os pais se tinham escondido tinha como missão deixar as cinzas do pai perto da Pedra. Segundo ela, foi naquela morada improvisada que ele tinha traçado o seu futuro, foi ali escondido que tomou a decisão de fazer do futuro uma vida melhor e foi dali que partiu com a esperança de recomeçar. Tinha conseguido e por isso queria descansar ali. A herdade já não era da nossa família estava abandonada, a Pedra no entanto ainda lá estava e como a filha do Alonzo era para o gordinho coube a minha mãe leva-lo para lá. Foi a última vez que entrei na Pedra.
Nestes últimos dias, tenho pensado naquela família que não conheci e que esteve escondida debaixo da terra tantos meses, mas que saiu de la´com muito mais garra, muito mais forte, muito mais determinada.
Hoje somos muitos Alonzo pelo mundo, espero que daqui a uns tempos quando sairmos das nossas Pedras estejamos mais fortes.
Era na pedra que naquela época ela e o meu avo Chilrito escondiam os espanhóis que por ali apareciam. Só a minha bisa ia lá abaixo quando estava alguém, fazia-o de madrugada. Levava comida, agua, tratava de algum ferimento e providenciava o que fosse necessário. Durante o dia a entrada da pedra estava escondida dos olhares dos trabalhadores por lenha, fardos e um vasto número de coisas. Foram muitos os espanhóis que por ali ficaram a ganhar forças para seguirem viagem, ou para curar as feridas da guerra de onde fugiam. Os Alonzo foram os únicos que a minha avó Zulmira conheceu, e só os conheceu porque no período em que ali estiveram a mãe deu a luz. Antes teve que encarregar algum dos filhos da tarefa de os tratar, coube a minha avó porque era pequena e magra como ela, ao contrário da irmã que era para o gordinho, os filhos homens não era uma opçãoao pois iam para a taberna, podiam beber e deitar tudo a perder. Foi assim que a minha avo, conheceu os Alonzo, os moradores da Pedra. Ao fim de 3 meses ali escondidos partiram, iam em direcção a Lisboa para tentarem embarcar num navio em direcção ao outro lado do atlântico...mas voltaram, a meio do caminho souberam que havia batidas para os lados de Évora e que poucos se safavam, eram devolvidos a Espanha. Não arriscaram, o avô não conseguia fugir muito e eles tiveram medo. Ficaram ali por mais uns tempos até o meu bisa encontrar um camião do leite que os levasse a Lisboa. Ficou caro esta viagem ao meu avo, mas ele nunca se importou. Durante muitos anos não souberam dos Alonzo, ate que um dia chegou uma carta da Colômbia, era lá que se tinham fixado. Há uns anos, já a minha avo tinha falecido, uma filha do Alonzo voltou e foi visitar a terra onde os pais se tinham escondido tinha como missão deixar as cinzas do pai perto da Pedra. Segundo ela, foi naquela morada improvisada que ele tinha traçado o seu futuro, foi ali escondido que tomou a decisão de fazer do futuro uma vida melhor e foi dali que partiu com a esperança de recomeçar. Tinha conseguido e por isso queria descansar ali. A herdade já não era da nossa família estava abandonada, a Pedra no entanto ainda lá estava e como a filha do Alonzo era para o gordinho coube a minha mãe leva-lo para lá. Foi a última vez que entrei na Pedra.
Nestes últimos dias, tenho pensado naquela família que não conheci e que esteve escondida debaixo da terra tantos meses, mas que saiu de la´com muito mais garra, muito mais forte, muito mais determinada.
Hoje somos muitos Alonzo pelo mundo, espero que daqui a uns tempos quando sairmos das nossas Pedras estejamos mais fortes.
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