Desesperar Jamais!

A primeira crise em que fui interveniente foi em 1983. Évora e o Pais viram fechar fábricas ao desbarato, a crise do desemprego foi grande e a economia caiu a pique. A minha família viveu-a na pele. Eu cresci de forma violenta naquele ano. Vi o melhor e o pior do ser humano. Nunca mais fui a mesma. 
 filha única, pequeno burguesa que achava que o mundo era um mar de rosas, que todos os sonhos eram possíveis e as pessoas tinham todas, bom coração, deixei-a numa qualquer parte desta cidade. Mas tinha 17 anos, a inconsciência foi a mola que me deu força para me levantar e ajudar os meus pais a saírem da depressão em que tinham entrado. Dei a volta por cima e eles também. Vou passando por crises pessoais como toda a gente e segurando as pontas, umas vezes melhor, outras pior.
Em 96 sou eu que vivo uma situação de desemprego, as rádios locais de norte a sul substituem os locutores por computadores e eu vou na primeira leva, mas continuo a ter garra e parto para uma nova jornada com a força que só uma mãe que tem de criar uma filha consegue ter...o mundo não me veria derrubada e a saída seria encontrada. E foi. 
Uma desgraça como o desemprego, pode ser uma libertação quando temos a vida pela frente. O mundo segue aos trancos e barrancos e eu faço parte do mundo, equilibro-me...sou a menina no trapézio, que parece que cai  mas não cai. Eis-nos chegados todos a 2009, uma crise económica brutal, todos os que fazem parte da arraia-miúda, como eu, ficam a viver o dia-a-dia, sem respirar muito para não forçar o torniquete à volta do pescoço. Vamos vivendo como , uns melhores outros piores, mas os barcos continuam átona d' água. A tormenta começa a aliviar,  passamos a respirar com menos dificuldade e até nos atrevemos a inspirar profundamente, em alguns momentos.
Eis que da china toca o alarme, o inimigo invisível chegou, ataca quem passa distraído, não vê cores, credos ou contas bancarias (irónico ter vindo da china) e em pouco mais de 3 meses, abatesse sobre nós uma das maiores crises de que  temos memoria, sim porque a peste negra só a conhecemos dos livros. Agora o que fazemos? Não a levamos a sério, porque a guerra económica também ela se apoderou do mundo, e pode ser falso alarme? Ou levamo-la a sério e paramos? Bom, na minha área não tive o problema da escolha, paramos, simples assim.  É normal, sermos os primeiros a entrar em crise, é normal sermos os que não tendo salários mensais, sejamos depois os que não tem protecção social, é normal deixarem de se lembrar daqueles que fazem com que o mundo seja mais belo e sorridente, para todos em tempos de estado de graça, quando a coisa se complica.
O que não é normal é não sabermos quando voltaremos a ter trabalho, quando voltaremos a ver os contratos a chegar, quando voltaremos a ganhar o dinheiro que nos paga as contas, isso já não é normal.Mas agora é assim, pois todos estão em crise, do mais pobre, ao mais rico, todos estão a tentar proteger-se do inimigo invisível e por ser invisível, nós também. 
Se acho que nos salvaremos? Claro que sim, só não sei é quando é que vejo uma porta ou uma janela no lugar onde agora só vejo paredes de betão.

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