viver no fio da navalha
Cultura
e artistas em tempo de crise
Nos sabemos que somos os “não essenciais”, Camões sabia-o, Picasso também, sempre assim foi.
Nos sabemos que somos os “não essenciais”, Camões sabia-o, Picasso também, sempre assim foi.
Percebemos.
Aceitamos e vimos para a janela cantar para vos animar, para vos
fazer esquecer pelo menos por uns minutos. Fazemo-lo com a mesma
entrega que teríamos em cima de um palco. Mas depois fechamos as
janelas e ficamos entregues a nós próprios.
Em todas as crises assim foi e esta não é diferente.
Mas doei-nos, dói-nos muito, porque os artistas também são gente. Gente com contas, com filhos para alimentar, com casas para pagar. Mas nem isso podemos dizer, se o dizemos há um número enorme de vozes que se levantam e dizem “vão trabalhar”
Em todas as crises assim foi e esta não é diferente.
Mas doei-nos, dói-nos muito, porque os artistas também são gente. Gente com contas, com filhos para alimentar, com casas para pagar. Mas nem isso podemos dizer, se o dizemos há um número enorme de vozes que se levantam e dizem “vão trabalhar”
Pois
tenho uma notícia para vocês, nós trabalhamos muito e em
circunstâncias que a maioria não o conseguiria fazer.
Percorremos quilómetro para ir fazer um espectáculo a muitas horas de casa, fazemo-lo muitas vezes com apenas o dinheiro para a gasolina no bolso, muitas vezes doentes, outras tantas deixando os filhos ou os pais acamados entregues aos que ficam e se tivermos muito azar (e há quem tenha) vamos depois de nos darem a noticia de que alguém da família morreu.
Percorremos quilómetro para ir fazer um espectáculo a muitas horas de casa, fazemo-lo muitas vezes com apenas o dinheiro para a gasolina no bolso, muitas vezes doentes, outras tantas deixando os filhos ou os pais acamados entregues aos que ficam e se tivermos muito azar (e há quem tenha) vamos depois de nos darem a noticia de que alguém da família morreu.
Mas
vamos, não podemos não ir, não da para meter baixa, apoio a
família, ou
deixar
para
outro
dia,
se
não formos não recebemos, simples assim.
Mesmo nesses dias negros das nossas vidas, a entrega em palco é a mesma, vocês estão lá e querem um bom espectáculo e nos fazemos das tripas coração e sorrimos, escondemos durante umas horas as nossas mágoas para fazer das vossas vidas algo um pouco melhor.
Mesmo nesses dias negros das nossas vidas, a entrega em palco é a mesma, vocês estão lá e querem um bom espectáculo e nos fazemos das tripas coração e sorrimos, escondemos durante umas horas as nossas mágoas para fazer das vossas vidas algo um pouco melhor.
E
quando
termina, por mais que queiramos voltar depressa para os que deixamos,
se vocês pedem “mais uma” agradecemos e ficamos mais um pouco,
sempre com o
mesmo
sorriso. Muitas
dessas vezes no final alguém nos diz, “depois mandamos o
dinheiro”.
E nós voltamos, sabendo que em cima da mesa nos esperam as contas que não sabemos como pagar, sempre com o dia de amanha incerto.
E nós voltamos, sabendo que em cima da mesa nos esperam as contas que não sabemos como pagar, sempre com o dia de amanha incerto.
Vamos
vivendo no fio da navalha, escondendo a miséria atras de um sorriso,
de uma canção, de um poema.
E quando as crises vem, os que tiveram sorte nos meses anteriores tem uns trocos guardados que chegam para muito pouco e pela frente um mundo de incertezas.
O mundo, em todas as áreas tem meia dúzia que ganha muito bem e milhares que ganham muito mal, nas artes também.
E estes milhares em tempo de crise estão por sua conta, não há quem lhes valha.
E se isso já daria para ficarmos doloridos com o mundo, escutar-vos dizer que “isso da cultura é dinheiro mal gasto” é como um muro no estômago, sabem porquê?
Porque vocês alegram a vossa vida com a nossa vida...
Ao nascermos somos embalados por canções, que artistas criaram.
Hoje em casa com os vossos filhos lêem livros que artistas escreveram. Quando fazem o jantar e escutam aquela musica que vos da´animo, foram artistas que a compuseram.
E quando se sentam no sofá e vão ver um filme, são artistas que ali estão.
E quando as crises vem, os que tiveram sorte nos meses anteriores tem uns trocos guardados que chegam para muito pouco e pela frente um mundo de incertezas.
O mundo, em todas as áreas tem meia dúzia que ganha muito bem e milhares que ganham muito mal, nas artes também.
E estes milhares em tempo de crise estão por sua conta, não há quem lhes valha.
E se isso já daria para ficarmos doloridos com o mundo, escutar-vos dizer que “isso da cultura é dinheiro mal gasto” é como um muro no estômago, sabem porquê?
Porque vocês alegram a vossa vida com a nossa vida...
Ao nascermos somos embalados por canções, que artistas criaram.
Hoje em casa com os vossos filhos lêem livros que artistas escreveram. Quando fazem o jantar e escutam aquela musica que vos da´animo, foram artistas que a compuseram.
E quando se sentam no sofá e vão ver um filme, são artistas que ali estão.
E
no fim da crise quando festejarem, serão artistas que irão animar a
vossa festa
Mas
para que tudo isso aconteça, é preciso que eles existam, que eles
trabalhem na sua arte.
Bem sei que nós agora, não importamos, mas pelo menos não finjam que não existimos!
Bem sei que nós agora, não importamos, mas pelo menos não finjam que não existimos!
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