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Mostrando postagens de maio, 2022

horas extraordinárias

Na década de 50 Évora era uma cidade cercada por grandes explorações agrícolas, assim sendo a população dos bairros era formada basicamente por trabalhadores rurais, ou por operários das oficinas. Essas encontravam-se situadas no Centro da cidade. Eram muitas e trabalhavam basicamente para os donos das terras. Nelas existiam os patrões, os Mestres, os operários de 1ª, de 2ª e os ajudantes. Com o fim do inverno essas oficinas enchiam-se de alfaias agrícolas que teriam de estar prontas em tempo útil para trabalhar a terra assim que o tempo o permitisse. Era então comum estes operários entrarem muito cedo e saírem muito tarde. Obrigando-os a sair de casa de madrugada e a regressar já noite cerrada. Lembremos-nos que a maioria desta gente morava nos bairros afastados ou nos montes e faziam os caminhos a pé. Apesar de trabalharem mais que de sol a sol, os patrões só pagavam mais aos mestres e aos operários de 1ª, os outros levavam para casa exactamente o mesmo salário de miséria. Numa desta...

Os blocos de contas da minha mae

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  Hoje a minha mãe andou a deitar fora papeis antigos, como eu ia lá guardou uns quantos para eu ver, segundo ela " guardei estes porque sei que gostas de saber estas coisas". E o que eram esses papeis? Eram as contas da mercearia que ela pagava no Sr. Cardoso. Naquele tempo pagava-se à semana, já que também se recebia à semana. Ao olhar para os papeis no imediato não percebi, eram 5 blocos cada um com seu nome e tinham apontados produtos e somas. O nome do meu pai percebi logo, era aquilo que eles compravam para eles, não era muita coisa pois a minha bisa mandava todos os meses da terra muitas coisas para a minha mãe, e por isso as contas eram mais pequenas. Havia depois um outro que identifiquei, pois já sabia a historia, era o que tinha o nome da minha tia, a viuvá do meu tio zé. Como ela não trabalhava e tinha 2 filhos pequenos, com a morte do marido 3 dos outros irmãos passaram a pagar as contas da casa, o meu pai era um deles. Os outros 3 blocos tinham nomes de mulhere...

As Lenas da minha vida

  Se me perguntassem qual o pecado mortal de que padeço, garantidamente responderia dormir de manha! Não me lembro de mim sem gostar de passar a manha na cama! Gosto sempre gostei, se eu puder, não faz mal a ninguém e eu fico feliz. Mas tempos houve em que foi um problema grave na minha vida. Entre o 5 e o 9 ano, se não tivesse alguém em casa para me acordar as primeiras aulas da manha tinham que passa sem a minha presença. Logo que acordava, corria para a escola mas de manha... era impossível la ir! Ora era complicado, faltava ás aulas, não escutava os professores e tinha que estudar na véspera dos testes. Era o que fazia. Estudava tudo no dia anterior ao teste e no dia, la estava mesmo que fosse de manha! O pior é que tirava sempre excelentes notas, ai entre os 90 e os 100%. E digo pior porque tinha como colega de turma a Lena. A Lena queria ser medica. Ia a todas as aulas, ficava na cadeira da frente sempre muito atenta, fazia perguntas pertinentes e na véspera dos testes passa...

greve

  Hoje é o dia da Mãe. Teria muito a dizer da minha mãe, mas fica para outro dia, porque hoje é o dia do Trabalhador e é desse que quero escrever. Ha uns anos atrás, estava eu a tomar conta do Restaurante do meu pai, foi convocada uma greve geral. No dia anterior ao almoço disse à cozinheira que não iríamos abrir a porta, ao que ela prontamente me respondeu " eu não faço greve". Durante alguns segundos pensei no dinheiro do dia e prontamente a informei de que não iríamos descontar-lhe nada, que não se preocupasse. Mas ela voltou à carga "Eu não faço greve", perguntei porquê e la me disse que não era comunista, nunca concordava com greves e que só trabalhando o País ia para a frente. Ainda contrapus, argumentei, reclamei, mas ela continuou na dela. Pelo que rematei a coisa da seguinte forma...Queres vir trabalhar, está aqui a chave, abre a porta, faz o comer, serve à mesa, lava a loiça e fecha a porta, eu faço greve! E fiz! Ela também não foi abrir a porta, mas isso...

1º Maio

  Na minha família sempre se comemorou o 1º de Maio, ainda antes de 74 o meu pai e a minha mãe o faziam. Segundo contam, às escondidas entre amigos da mesma crença. Foi por isso natural no primeiro 1º de maio depois da revolução irem para a rua engrossar as fileiras de gente que comemorou em liberdade o Dia do Trabalhador, nesse ano eu acompanhei-os, tinha apenas 8 anos e aquilo não tinha grande significado, mas havia muita gente, muitas canções, muitos tractores cheios de gente e eu gostei, foi uma espécie de festa. A partir dai sempre comemoramos o 1º de Maio, uma coisa engraçada pois os meus pais nunca foram de comemorar festas, se tinham trabalho iam trabalhar nao importava se era Natal, passagem de ano ou aniversario, as excepções eram o Carnaval e a partir da Revolução o 1º de Maio. Nesse dia não se trabalhava, não se ia a lado nenhum que não fosse às comemorações. Nos primeiros anos na praça, depois para a zona onde hoje é o Alto dos Cucos e mais tarde para uma herdade na es...