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Mostrando postagens de fevereiro, 2021

Os nossos amigos enganaram-nos

  Sou de uma geração de mulheres que já estudou em escolas mistas. Sou da geração das que já frequentavam o café e o cinema sozinhas. Sou da era das discotecas e não dos bailes. Sou da geração da amizade entre homens e mulheres. No meu grupo de amigos, eramos ai umas 12 mulheres e ai uns 20 e tal homens. Amigos de todas as horas, de muitas festas, de ferias nas praias da costa Alentejana, dos festivais jovens de norte a sul do País, das noitadas nas discotecas e dos espectaculos em Lisboa, Faro, Porto, Madrid e Barcelona. De espadelas para o norte de Africa e vistas rápidas a Amesterdão. Sempre em grupo, sempre juntos, homens e mulheres. Descobrimos juntos as novas tendências das artes, as novas teorias da sociologia, as novas descobertas cientificas, as novas linhas filosóficas. Discutimo-las no café, aplicamo-las nas vidas comuns das casas comunitárias que alugávamos, defendíamo-las com garra nas nossas famílias. Com tanta partilha, tanto crescimento e tanta ideia comum, foi nor...

Manuel Mourinha

  O Manuel Mourinha foi enterrado ontem. Com isto perdi mais um amigo. Foi meu técnico na radio Meridional e depois na Telefonia durante anos. Era um ser humano particular, não se dava a conhecer a toda a gente mas quando gostava de alguém era capaz de falar horas infinitas sobre tudo...nunca percebi como sem ter net, televisão ou estes meios novos sabia tanto sobre tanta coisa...tinha realmente um cérebro privilegiado. Mas o que admirei sempre nele foi a sua liberdade para viver como quis, sem ligar a nada ou ninguém. Vivemos muitas historias, umas mais engraçadas que outras deixo-vos aqui algumas ... Quando a 1ª Guerra do Golfo rebentou estávamos, eu, ele e a Midus de serviço. As noticias chegavam via telex da lusa. Primeiro 30 mortos, depois 58 e a dada altura ele foi ao papel do telex riscou o numero que lá estava escrito e colocou 10 mil mortos."Então Manel disse eu aflita?" Resposta pronta e tranquila "ou bem que é guerra ou não vale a pena apavorar as pessoas!...

infâncias perdidas

  Quando adolescente estudei a história dos Estados Unidos da America, descobri nessa altura que a grande maioria dos candidatos compravam historias de vidas duras, difíceis e sofredoras para os seus antepassados, isso acontecia porque dava votos. Lembro-me que na época pensei que era exactamente o oposto do caso português, por cá o importante era nunca se saber que os nossos antepassados foram pobres ou passaram necessidades, isso não dava credibilidade. Mas também me lembro de ter percebido a sorte que tinha de ser filha de um homem que não escondia a sua origem. Foi talvez por estas descobertas que passei a contar a historia do meu pai. Ora quem me conhece e o conhece, muitas vezes pode achar que as historias estão empoladas, que a sua miséria e a sua vida é por mim contada de forma romanceada, eu percebo se assim pensarem, se o conhecesse hoje e ele não fosse meu pai talvez também o pensa-se. É por isso que já tenho falado de uma fotografia dele e do irmão quando crianças a vá...

a radio 2

  A radio entrou na minha vida por acaso, no tempo em que as rádios locais eram piratas. Nunca pensei nela como carreira, afinal fazer radio era uma coisa lá para Lisboa. reconheço que quando me convidaram, devido a esta minha voz grossa, achei que não dava para a coisa. Falava pouco, era muito tímida e achava que não tinha nada para dizer. Mas la me convenceram...a voz a juntar ao conhecimento da musica brasileira, fizeram a minha entrada neste mundo novo. E ainda bem...com a radio venci a timidez, aprendi a falar sobre vários temas (que pesquisávamos exaustivamente), aprendi a defender pontos de vista, a fazer entrevistas, reportagens e muitas outras coisas. A radio transformou a minha vida e transformou-me! Tornou-se numa paixão, que virou profissão e que tive de deixar porque não me dava para viver e porque deixou de ser LIVRE! Mas é ainda hoje a minha paixão! Se um dia ficar rica, sei que vou montar uma radio, onde possa fazer os programas de qualidade que quero e com a liberd...

a radio

  A radio foi a minha grande paixão. Durante anos fiz programas que amei, mas um dos que mais prazer me deu, apesar de ser muito trabalhoso ( não havia internet e a informaçao estava nos arquivos distritais) foi o "Ontem era Assim"! O programa era dividido em 2 partes. Na 1ª passava-se a musica que fez historia no mundo na década de 60. Depois tínhamos um espaço noticioso internacional e nacional, também alusivo à década em questão e na 2ª parte passávamos as musicas que marcaram Portugal nos anos 60! As diferenças eram abismais! Um mundo a duas velocidades! Amei fazer este programa e a audiência era enorme! Hoje que se assinala o dia da radio deixo-vos um exemplo de como seria! Musica da 1ª Parte https://www.youtube.com/watch?v=P615vAhkUlU Noticiário "Franklin McCain, um negro que ousou pedir café no balcão errado da América, Foi um dos pioneiros da luta contra a segregação racial. Em 1960, ele e outros três estudantes sentaram-se num snack-bar reservado a brancos em G...

meninos sem infância

  9 anos, Herdade de Pinheiros, 15 km de distancia de casa, a pé descalço, com uma blusa leve e umas calças pelas canelas, um menino é contratado para guardar ovelhas. Em troca, um garrafão de azeite, uma saca de farinha, meia arroba de azeitonas e 1 arroba de batatas, ao ano. O pagamento tinha varias condições, não deixar fugir nenhuma ovelha, só ir a casa uma vez por mês e não ter queixas do feitor. E o trabalho começa, os borregos recém nascidos, colocados a dormir dentro da cabana ajudam a aquecer nas noites gélidas de inverno, Piloto o cão, ajuda na tarefa especialmente por volta das 5 da tarde, hora de ir à herdade fazer a única refeição do dia. Os meses passam, nas idas a casa o aviso de que cumpra tudo o que está acordado com o patrão para trazer para casa os alimentos sem nenhuma falha. Está decidido a cumprir, a honrar a palavra do pai. Mas a vida complica-se, o feitor quer colocar no seu lugar um outro menino, começa a trazer mais ovelhas que as acordadas, fica dificil...
  Ha dias saiu a lista dos rankings das escolas, uns dias depois o meu amigo Mário Simões escreveu um artigo sobre uma antiga professora nossa. As duas coisas levaram-me a pensar a escola e estas coisas da aprendizagem... Desde que me lembro que a escola me aborrecia, não gostava de estar lá presa, de aprender o que tinham decidido, de ter de saber coisas que nao interessavam a ninguém e que não serviam para nada, tinha muitas perguntas que ficavam sem resposta mas, vivia a querer saber. Foi esta ânsia de saber que me levou há biblioteca publica. Uns assuntos levavam a outros, uns livros puxavam outros e eu ia descobrindo mundos novos. Mas porque também tinha que frequentar a escola lá lia o que diziam os manuais escolares e fazia os testes e exames correspondentes...esses tinham sempre nota máxima, fossem de matemática, francês, latim,historia, física, biologia o pior sempre foi o raio do Inglês...o porquê era simples decorava com facilidade, o que lia ficava memorizado durante u...